Tony Goes

Regina Duarte na Secretaria da Cultura é motivo de alívio, mas também de apreensão

Atriz aceitou passar por período de testes no cargo para o qual foi convidada

Jair Bolsonaro, Regina Duarte e ministro Luiz Eduardo Ramos - Reprodução

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Regina Duarte fez jus ao epíteto de Namoradinha do Brasil, que já teve um dia. Convidada a assumir a Secretaria da Cultura, a atriz preferiu não firmar compromisso logo de cara. Antes, vai passar por um período de testes –um namoro ou, como ela mesma diz, um noivado.

"Nós vamos noivar, vou ficar noiva, vou lá conhecer onde eu vou habitar, com quem que eu vou conviver, quais são os guarda-chuvas que abrigam a pasta, enfim, a família. Noivo, noivinho", afirmou ela à coluna Mônica Bergamo, da Folha.

Regina Duarte não é, nem em sonhos, a pessoa que a maioria dos produtores culturais e da classe artística brasileira gostaria de ver à frente da Secretaria da Cultura, que vem passando por intermináveis turbulências desde que deixou de ser ministério.

A própria atriz se assume despreparada para o cargo –só que o despreparo jamais impediu ninguém de entrar para o governo Bolsonaro, a começar pelo próprio presidente da República.

Podia ser pior. Um nome obscurantista, de fora da área da cultura, podia ter sido indicado como substituto do nefasto Roberto Alvim. Como, por exemplo, o pastor evangélico Edilásio “Tutuca” Barros, ou Luana Rufino, integrante da corrente católica ultraconservadora Opus Dei, ambos nomeados para cargos na Ancine.

Regina Duarte, pelo menos, é do ramo. Atriz desde a adolescência, ela protagonizou novelas de enorme sucesso desde meados da década de 1960, e também desenvolve uma carreira interessante no teatro.

Cabe reparar que dois de seus personagens mais importantes na TV estavam em obras que enfrentaram problemas com a censura do regime militar: a protagonista da série “Malu Mulher” (Globo, 1979-1980), uma jornalista divorciada, e a Viúva Porcina, da novela “Roque Santeiro” (Globo, 1985).

Regina sempre se assumiu de direita. Fez campanha por José Serra nas eleições presidenciais de 2002 e aderiu com entusiasmo a Jair Bolsonaro em 2018. Mas, apesar de declarações recentes contra o STF, a atriz nunca foi abertamente racista ou homofóbica.

Seus posicionamentos políticos fizeram dela uma pessoa pouco querida por artistas que tendem à esquerda. Mas, neste momento de extrema polarização, talvez não haja ninguém melhor do que Regina para apaziguar o setor e, principalmente, evitar que um dano maior seja cometido contra a cultura brasileira.

Agora, será que vai dar certo? Regina Duarte jamais exerceu um cargo público. O dia a dia da política é extenuante: são muitas as demandas, as cobranças, as pressões. Ela também corre o risco de desencantar com o governo Bolsonaro –como já aconteceu, aliás, com vários outros aliados de primeira hora.

Ainda não está claro como será este “período de testes” nem se a Secretaria da Cultura recuperará o status de ministério. Se assim for, Regina se reportaria diretamente ao presidente, e não ao ministro da Cidadania ou ao do Turismo.

Ela conseguirá convencer Bolsonaro de que obras como o filme “Gata Velha Ainda Mia” (2014) ou a peça “O Leão no Inverno” (2018) –das quais participou como atriz– são importantes para a nossa cultura, mesmo não falando de heróis nacionais ou defendendo valores cristãos?

Coragem, Regina. Você vai precisar.