Anitta e Túlio Gadêlha não merecem as críticas que estão recebendo
Cantora e deputado eleito estão no centro de controvérsias que dividem a internet
Duas mini-tretas envolvendo celebridades agitam as redes sociais nesta segunda-feira (21).
Uma delas envolve Anitta e Nego do Borel, dois veteranos quando se trata de controvérsia. A cantora foi alvo de inúmeros ataques no ano passado, quando relutou em aderir à campanha #EleNão. O funkeiro causou polêmica com o clipe da música “Me Solta”, em que aparece vestido de mulher e beijando outro homem.
Dessa vez, os dois foram vaiados juntos quando Nego do Borel fez uma aparição surpresa em um ensaio do bloco de carnaval As Poderosas, comandado por Anitta. O motivo foi mais uma bola fora do músico, que escreveu no Twitter, durante uma conversa pública com a transexual Luísa Marilac, que ela era “um homem gato (...) deve tá cheio de gatas (sic)”.
Luísa –que viralizou em 2011 com o vídeo em que tomava “bons drink” em uma piscina– se ofendeu, com toda a razão. E Nego do Borel pediu desculpas públicas. Não adiantou muito. Boa parte da internet (e dos fãs de Anitta) ainda não o perdoou.
A outra mini-treta eclodiu depois que Túlio Gadêlha (eleito deputado federal pelo PDT-PE) publicou em seu perfil no Instagram uma foto ao lado da namorada, a apresentadora Fátima Bernardes, em frente a um curral onde se veem algumas vacas. A imagem vem acompanhada por uma legenda: “Namorada boa é aquela que está contigo até na hora de ordenhar a vaquinha”.
A frase enfureceu a cantora Maria Gadú, que passou um pito no rapaz em um comentário: “Dois casos graves de machismo. Namorada boa é namorada que não se condiciona a especifismo (sic) algum. Não existe 'namorada boa é a que blábláblá'. 2) Vaca é feminino, e mexer nas tetas também te coloca numa situação delicada. Sem contar as condições e os abusos cruéis. Vamos indo juntos até onde?”.
O que esses dois episódios têm em comum? A cobrança do que seria um comportamento ideal, feita pelos próprios fãs e seguidores da celebridade. Anitta errou em cantar ao lado de Nego do Borel; Túlio Gadêlha, em publicar uma foto supostamente machista e desrespeitosa com sua namorada.
Acontece que tanto Anitta quanto Gadêlha são militantes progressistas. A cantora já se posicionou inúmeras vezes a favor dos direitos LGBT, e inclui em seus shows dançarinos que representam minorias, como obesos ou portadores da Síndrome de Down.
Já Gadêlha, além de uma extensa atuação política pela esquerda, também quebra um tabu sexista ao se envolver com uma mulher mais velha do que ele.
Tais credenciais deveriam bastar –só que não. Longe de mim querer passar o pano nas burradas do Nego do Borel: o cara é mesmo um desavisado, e precisa fazer logo algum tipo de treinamento para adquirir mais sensibilidade social. Mas, de qualquer forma, já pediu desculpas. E a própria Anitta explicou que, além de pega de surpresa, não concorda com tudo o que o amigo diz.
Para problematizar o que Túlio escreveu é necessária uma dose extra de má vontade. Não há nada de mais em dizer que “namorada boa é a que...”, ainda mais em um contexto elogioso. E sexualizar a mera ordenha de uma vaca sugere algum problema mal resolvido da parte da comentarista.
Os progressos conseguidos nas últimas décadas por mulheres, negros, LGBTs e outras minorias nunca estiveram em tamanho risco como agora. Os inimigos dessas pautas chegaram ao poder em diversos países —inclusive no Brasil, claro— e já manifestaram a intenção de fazer esses avanços retrocederem.
Mas muitos militantes dessas causas, todas justíssimas, preferem gastar munição despejando fogo amigo sobre quem já está ao lado deles. Acabam se tornando uns chatos de galocha e espantando novos simpatizantes. Enquanto isto, os reacionários se unem e dão risada.