Thiago Stivaletti

'Friends', o melhor antidepressivo já inventado, chega aos 30 anos

Por que parece que foi ontem que terminou a sitcom mais querida do planeta? Porque ela nunca deixou de ser vista

Ícone fechar

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Cartaz na Califórnia anuncia o capítulo final do seriado 'Friends' com foto do elenco - Reuters

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Há 30 anos, uma noiva em fuga entrava num café de Nova York, interrompendo cinco amigos que conversavam no sofá do local. Nascia "Friends", a sitcom mais popular de todos os tempos, que chegou a ser exibida em 60 países ao longo de suas dez temporadas.

Hoje é fácil apontar os motivos do sucesso do seriado, mas em 1994 o canal americano NBC hesitou bastante em produzir uma sitcom sobre amigos de 20 e poucos anos, numa época em que as comédias televisivas giravam em torno de casais ou famílias. O elenco foi considerado muito jovem, sem atores conhecidos do público, e o cenário, urbano demais.

Para nossa sorte, os executivos da emissora estavam enganados. "Friends" é o melhor antidepressivo já inventado. Experimente acordar num domingo melancólico e botar uns poucos episódios (de qualquer temporada) para ver. Impossível não melhorar o humor.

Para qualquer fã de "Friends", nem parece que a história de Rachel, Ross, Monica, Chandler, Joey e Phoebe terminou no distante ano de 2004. Isso porque ela nunca deixou de ser vista, e ganhou novo fôlego no streaming, em que os nascidos a partir dos anos 1990 descobriram a série e seguem maratonando seus 236 episódios (o seriado, que já esteve na Netflix, hoje pode ser visto no Max).

VITÓRIA DA SECRETÁRIA ELETRÔNICA


Para escrever esta coluna, decidi rever os primeiríssimos episódios da primeira temporada e dar um salto para o episódio final, dez anos depois (atenção: spoiler para quem ousou não ver "Friends" até hoje).

Em 1994, ainda era bem inusitada a situação de Ross. A série começa com o irmão de Monica se separando da mulher porque ela se descobriu lésbica –ainda por cima está grávida dele, e vai criar o filho com a nova esposa. Sobram piadas sobre lésbicas que hoje não passariam de jeito nenhum.

Se não havia celular em 1994, todos já tinham o seu no episódio final, dez anos depois –e só assim Phoebe, dirigindo o seu táxi, consegue ligar para Rachel, que está dentro do avião rumo a Paris, tentando ganhar tempo até que ela e Ross cheguem ao aeroporto para ele declarar seu amor.

Por outro lado, a secretária eletrônica resistiu firme e forte. No primeiro episódio, Rachel deixa vários recados na secretária do ex-noivo Barry; no último, ela deixa uma declaração de amor na secretária de Ross, preparando o aguardado final feliz entre eles.

Detalhes à parte, é impressionante constatar que o espírito de sitcom não mudou um centímetro do primeiro ao último episódio. Cada um deles é como um relógio suíço, uma máquina de humor funcionando à perfeição, com diálogos afiados, sem comprometer a personalidade de cada um dos amigos ao longo de dez temporadas.

JOGO DO MILHÃO


Olhando em retrospecto, os criadores David Crane e Marta Kauffman acertaram direitinho na receita: um casal que vive aos solavancos, brigando e separando (Ross e Rachel); dois amigos com um certo déficit intelectual, meio alienados da vida real (Phoebe e Joey); uma amiga sensata e responsável, mas a tal ponto que desenvolveu TOC de limpeza e organização (Monica); e um neurótico que reúne os maiores defeitos dos homens (Chandler).

O sucesso pôde ser medido pelo salário do elenco. Se todos ganhavam US$ 22.500 por episódio na primeira temporada, na última a coisa chegou a US$ 1 milhão por episódio –em 2003, de dois em dois dias saía alguma notícia sobre a suada negociação dos valores; se algum dos seis pulasse fora, a última temporada poderia não vir à luz.

Com toda essa glória, é triste ver que o tempo não honrou o talento do elenco. É como se a magia de "Friends" só pudesse acontecer com os seis juntos. Matthew Perry, o mais talentoso dos seis, morreu sem ter feito outro projeto realmente bacana.

Matt LeBlanc tentou um spin-off, "Joey", em que o personagem foi para Los Angeles tentar a vida, que foi um fracasso e durou só duas temporadas. Courtney Cox deu as caras nas flopadas continuações de "Pânico".

David Schwimmer e Lisa Kudrow continuam trabalhando bastante, mas nada que chegue à unha do dedo do pé de "Friends" (ela chegou a fazer uma websérie bem interessante, "Terapia Virtual", que teve zero repercussão no Brasil). Só Jennifer Aniston sobrevive bem, com o sucesso da aclamada "The Morning Show".

PS: Para merecer o título de fã de "Friends", você tem que ter seu episódio favorito. O meu é aquele em que Monica e Rachel disputam com Chandler e Joey um jogo de perguntas sobre eles mesmos. Ficou curioso? Corre lá no Max para a temporada 4, episódio 12.