Epidemia de 'true crime' segue firme no streaming
Barulho nas redes motivou Netflix a produzir série dos irmãos Menendez, que aumentou a repercussão na internet, fazendo a roda girar
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"Baseado em fatos reais." Durante anos, a frase foi usada em Hollywood para abrir filmes inspirados em casos reais de crime. E já faz uma década que o gênero é explorado sem cessar nas plataformas de streaming.
A receita segue funcionando: num universo de oferta excessiva de conteúdo, os filmes e séries desse gênero conseguem ficar por mais tempo repercutindo nas redes, gerando um engajamento que convence mais pessoas a vê-los, numa roda de sucesso.
"Monstros: Irmãos Menendez - Assassinos dos Pais", que a Netflix lançou na semana passada, foi ainda mais longe nessa receita. Nos anos 1990, quando Lyle e Erik Menendez foram condenados à prisão perpétua pelo crime, o júri não deu muita atenção ao argumento dos dois de que eram abusados sexualmente pelo pai, José. Difícil lembrar, mas naquela época, abuso sexual de crianças não era nem mesmo um assunto ventilado na imprensa ou nas rodas de debate –ainda mais se cometido dentro da própria família.
Os produtores da série, Ryan Murphy e Ian Brennan, perceberam o potencial da história quando viram que havia milhares de vídeos no Instagram e no TikTok de pessoas defendendo a reabertura do caso dos irmãos. Poderia ser apenas um movimento de gente que nunca leu uma linha do processo, mas o argumento do abuso ganhou força depois que um ex-Menudo, Roy Rosselló, revelou ter sido abusado por José, o pai dos irmãos.
PSICOPATAS DE FILME B
Fechou-se o ciclo perfeito: um caso que voltou a ser amplamente discutido nas redes sociais motivou a produção de uma série de ficção, que esta há dias no número 1 das mais vistas na Netflix, e cujo sucesso pode fazer o caso ser reaberto –e quem sabe motivar até uma nova temporada.
A Polêmica com P maiúsculo é o principal motor para ver "Irmãos Menendez". Diante dela, não sobra muito espaço para qualquer discussão estética sobre a série, que é ruim, dirigida com mão pesada. Cooper Koch e Nicholas Alexander Chavez, que vivem os irmãos, reforçam o tempo todo o desequilíbrio mental e a possível sociopatia dos irmãos, e Javier Bardem faz do pai um monstro caricato.
A cena do assassinato é filmada como uma grande carnificina, com direito a mão decepada. Não interessa o mau gosto; o importante é dar ao público americano o gostinho de presenciar o crime que eles comentam há 35 anos –e que, graças à série, agora virou assunto no mundo inteiro. No quesito sutileza, as séries de Murphy sobre Jeffrey Dahmer e o assassino de Gianni Versace são bem superiores.
UNIVERSO EXPANDIDO
Tenho a impressão de que a obsessão por crimes é bem menor no Brasil do que nos Estados Unidos. Pouco importa: por aqui, os streamings decidiram seguir a fórmula, com bons resultados.
A série sobre o assassinato de Daniella Perez na Max ajudou a reabrir o trauma coletivo da morte da atriz. Netflix e Globoplay produziram boas séries documentais sobre o caso João de Deus, e o Canal Brasil fez uma boa série (pouco vista) tendo Marco Nanini como o médium abusador.
Depois dos três filmes sobre o caso Suzane von Richthofen, o Prime estreia no próximo dia 18 o filme "Maníaco do Parque", com Silvero Pereira no papel do serial killer que matou ao menos sete mulheres em São Paulo em 1998 e fazia a alegria do Fantástico e suas reportagens macabras.
O mesmo streaming prepara "Tremembé", série sobre o presídio de São Paulo que vai reunir numa mesma história Suzane (Marina Ruy Barbosa), Elise Matsunaga, o médico Roger Abdelmassih e o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, condenado por matar a filha dele.
Vai ser um Universo Expandido da Marvel, só que de criminosos. Mesmo que o resultado seja péssimo, alguém conseguirá não assistir?