Thiago Stivaletti

Novo talk show de Gabriela Prioli mistura informações relevantes e obviedades

Com quadros fixos simplórios, Sábia Ignorância aposta na habilidade de sua apresentadora em falar com públicos de diferentes níveis

A apresentadora Gabriela Prioli - Divulgação/Iude Richele

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São Paulo

Vivemos uma pandemia de talk shows na TV brasileira. Do Conversa com Bial ao Que História É Essa, Porchat?, do Saia Justa ao seu equivalente masculino, Papo de Segunda, o que não falta é celebridade batendo papo e contando histórias. Ainda que o formato varie um pouco, o princípio é o mesmo: a troca de ideias.

Num momento de crise da TV paga, a produção barata desses programas, que não envolve mais do que um único cenário, um sofá ou algumas cadeiras, ajuda a estimular o "boom", explorado principalmente pelo canal GNT.

É nesse terreno saturado que Gabriela Prioli estreou na última segunda o seu novo programa, Sábia Ignorância. A proposta: reunir um especialista e uma celebridade em torno de um tema. Pegando carona no nome do programa, o episódio de estreia reuniu o psicanalista Christian Dunker e a apresentadora Giovanna Ewbank em torno da questão: somos todos ignorantes?

Tentando falar com espectadores de diferentes níveis intelectuais, Sábia Ignorância se esforça em misturar a sabedoria mais rasteira da autoajuda com informações relevantes e pouco conhecidas, adicionando na receita citações das mais diversas, batendo num mesmo liquidificador a filosofia de Sócrates, o clássico "O Pequeno Príncipe", o físico Marcelo Gleiser e os Rolling Stones.

O programa de estreia pecou pelo excesso de frases reiteradas de forma escrita na tela, muitas delas de uma obviedade constrangedora, como "A gente nunca vai saber de tudo" ou "Voltar atrás é muito importante". O recurso pretende ser uma marca do programa, mas poderia ser usado com mais economia.

Os quadros fixos são ideias desgastadas: um quiz com os convidados e um momento em que Prioli senta no meio deles para comentar memes e posts sem muita graça em torno do tema da semana. Também desnecessário é o gráfico final, que procura resumir com linhas e palavras o que foi aprendido na conversa, como num Telecurso Segundo Grau.

Do meio das obviedades, porém, emerge algum conteúdo interessante que pode indicar o bom caminho da temporada. Depois de dividir a bancada do Saia Justa, Prioli já mostrou na estreia bastante segurança, desenvoltura e carisma para conduzir o debate.

Fez Giovanna Ewbank falar emocionada como a filha adotiva Titi a fez entender sua ignorância sobre o racismo, e tirou boas revelações de Dunker, como o fato de que ele nunca foi o intelectual do colégio, ficando de recuperação várias vezes, e sua ignorância sobre o que é uma caixinha de perguntas no Instagram.

No melhor momento, Prioli explicou o pouco conhecido efeito Dunning-Kruger, teoria segundo a qual pessoas muito ignorantes tendem a se considerar muito sábias sobre um assunto, enquanto pessoas bem informadas subestimam o seu conhecimento. A teoria ajuda a explicar, por exemplo, por que as bolhas de radicalismo nas redes sociais tendem a ser mais assertivas sobre temas que não dominam do que os comentários ponderados de verdadeiros especialistas.

É quando a apresentadora se sai melhor, destrinchando informações complexas para um público leigo, deixando de lado as obviedades fáceis. Mais do que desses acertos, o sucesso de Sábia Ignorância vai depender de uma resposta que o GNT ignora: quantos novos programas de entrevista o espectador ainda estará disposto a ver?

Sábia Ignorância
Apresentação: Gabriela Prioli
Toda segunda, às 21h45, no GNT