Xuxa, Marlene, Paquitas, Senna e Galisteu: O Brasil quer fazer uma D.R. do passado
Histórias contadas ao público sempre foram versões que interessavam a quem as narrava
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Atualmente, todos os holofotes estão voltados para Adriane Galisteu. Primeiro, porque A Fazenda 16, programa que ela apresenta diariamente na Record, está em sua reta final e tem alcançado altos índices de audiência. Segundo, devido à minissérie "Senna", a produção brasileira mais cara da Netflix, que estreou no final de novembro e dedica apenas duas cenas a ela.
Enquanto Galisteu aparece por cerca de dois minutos e meio ao todo, Xuxa, que também namorou o piloto, recebeu um episódio inteiro na série. Essa discrepância é tão evidente que o assunto ganhou mais destaque que a própria obra.
Galisteu gravou um vídeo comentando o ocorrido, seus fãs estão resgatando seu livro "O Caminho das Borboletas", que aborda seu relacionamento com Ayrton Senna, e diversos artistas têm se posicionado a favor da apresentadora.
Inclusive, sou testemunha da importância de Galisteu, pois a entrevistei quando ela era, de fato, a namorada do piloto. Demonstrando sua perspicácia, a apresentadora chegou a curtir uma postagem em que alguém comentou que Xuxa nunca será a viúva de Ayrton.
Essa aparente resistência da família de Senna em relação a Galisteu nunca foi bem resolvida, nem explicada. É uma situação semelhante à que vivenciamos por décadas sem compreender plenamente a relação entre Xuxa e Marlene Mattos, que veio à tona após a série "Xuxa - O Documentário", do Globoplay.
As duas não se falavam havia 19 anos e se reencontraram para a gravação de um episódio muito aguardado da produção. Apesar disso, muitos pontos permanecem nebulosos e polêmicos; não podemos afirmar que agora sabemos tudo sobre a relação entre elas.
Além disso, o complexo caso envolvendo a vida pessoal e profissional de Xuxa e Marlene Mattos teve mais um desdobramento com a série documental "Pra Sempre Paquitas", também do Globoplay, lançada em setembro deste ano, que expôs muitas mágoas e segredos na esfera pública.
Observamos que grandes nomes da nossa história recente, ídolos que moldaram nosso caráter e fizeram parte de nossas vidas, deixaram muitos pontos de interrogação no ar. Não digo que isso seja exclusivo da nossa cultura, mas certamente nós, brasileiros, temos dificuldade em lidar com a verdade, especialmente na indústria do entretenimento.
Se hoje temos filtros que alteram nossas imagens nas redes, esses "filtros sociais", que varrem para debaixo do tapete todas as informações que poderiam comprometer a imagem dos famosos, sempre existiram. As histórias contadas ao público sempre foram as versões que interessavam a quem as narrava. Agora, as coisas mudaram.
No mundo das redes, da internet, na sociedade digital que expõe suas intimidades para o mundo, é quase impossível que segredos permaneçam ocultos. Ainda vamos descobrir muitos detalhes sobre Adriane Galisteu, Xuxa, Ayrton Senna e a família do piloto, sob diferentes perspectivas. Até porque todas as pessoas envolvidas, todas as testemunhas, os conhecidos, os colaboradores, têm voz e espaço para publicar suas versões.
Particularmente, considero isso excelente. Chega de hipocrisias, de interesses, de máscaras. Chega de verdades editadas, mentiras fabricadas, agendas ocultas. O Brasil precisa saber de tudo. Expor tudo, revisar tudo, desde as trevas dos porões da nossa história política até as intimidades dos nossos ídolos culturais.
É hora de fazer uma grande D.R. e discutir não só as relações entre esses personagens, mas também entre eles e nós. Somente a partir da verdade poderemos fazer escolhas, formar nossas opiniões e firmar a certeza de que somos todos imperfeitos. É isso que queremos. A verdade. Somente a verdade pode nos manter humanos em um mundo tão artificial.