Rosana Hermann
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'Ainda Estou Aqui' chega em breve aos cinemas, mas já está em nossos corações

Longa é inspirado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva; obra é ambientada no Rio de Janeiro dos anos 1970, quando o Brasil vivia sob a repressão política da ditadura militar

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Cena do filme 'Ainda Estou Aqui', com Selton Mello e Fernanda Torres - Divulgação

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São Paulo

No domingo passado (1), o filme brasileiro "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, foi exibido numa sessão de gala do Festival de Veneza, um dos mais antigos e prestigiados festivais do mundo, na Sala Grande do Palazzo del Cinema. Ao término da exibição, o longa foi aclamado pela plateia numa ovação de dez minutos.

Assisti ao registro desse momento num vídeo do canal Splash do UOL e, ao ver a reação de Walter Salles e dos protagonistas Fernanda Torres e Selton Mello, chorei sem parar. Tudo ali é intenso e verdadeiro. Walter, Fernanda e Selton não conseguem conter as lágrimas ao receberem uma carga tão grande dos aplausos das mais de 1.000 pessoas, emocionadas com o filme que acabaram de assistir.

E, ao sentir essa carga emocional tão forte e genuína, a gente só tem um desejo: ver o filme também.

"Ainda Estou Aqui" é inspirado no livro de mesmo nome escrito por Marcelo Rubens Paiva. A obra, ambientada no Rio de Janeiro dos anos 1970, quando o Brasil vivia sob a repressão política da ditadura militar, narra a história da família Paiva, formada pelo pai, o engenheiro e deputado Rubens Paiva, a mãe Eunice e os cinco filhos do casal. E da tragédia que mudou o rumo de suas vidas para sempre.

Em janeiro de 1971, seis homens armados com metralhadoras, que se diziam ser da Aeronáutica, invadiram a casa de Rubens Paiva e, sem mandado de prisão, levaram-no. Rubens Raiva saiu dirigindo seu carro e nunca mais voltou. Foi torturado e assassinado pelas forças de repressão da ditadura e seu corpo nunca foi encontrado.

Marcelo percebeu que a verdadeira heroína dessa história era sua mãe, Eunice, representada por Fernanda Torres em toda sua resiliência para criar os cinco filhos e sua luta de quatro décadas para descobrir a verdade sobre o assassinato de marido. Fernanda Montenegro também faz o papel de Eunice, mas já na maturidade.

O filme deve estrear na França em janeiro do ano que vem. Aqui no Brasil, ainda não há uma data marcada. Mas desde já podemos fazer duas coisas: ler o livro de Marcelo Rubens Paiva e torcer para que o filme, que levou sete anos para ser concluído, seja premiado.

O nome "Ainda Estou Aqui" foi escolhido por Marcelo porque sua mãe Eunice disse exatamente essa frase, quando já sofria de Alzheimer, doença que a levou depois de uma luta de 14 anos contra a lenta e progressiva perda de memória.

E é exatamente esse o tema central do livro e do filme, memória. A memória de cada um, a memória da família, a memória de Rubens Paiva. Afinal, é disso que somos feitos. É disso que um país é feito. É disso que precisamos lembrar: que o passado, por mais doloroso que seja, precisa ser revelado e lembrado, jamais esquecido, para que as tragédias feitas pelos homens nunca mais se repitam.

Arbitrariedades, nunca mais. Tortura, nunca mais. Ditadura, nunca mais. Democracia, sempre.