Luis Navarro e o 'privilégio' de ser homem
Ele é adulto e planejou o filho com Ivi Pizzott
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Confesso que fiquei na dúvida se deveria ou não comentar a separação do ator Luis Navarro e da bailarina Ivi Pizzott. Não por medo de cancelamento ou de me intrometer na vida íntima de dois artistas, mas por não saber se eu seria capaz de manter a linha e controlar a revolta que senti como mulher diante das circunstâncias particulares em que isso aconteceu.
Porque não estamos falando simplesmente de um cara que decidiu "dar um tempo" no relacionamento com sua parceira, mas de um pai que, alegando não estar em sua "melhor versão", prioriza sua busca individual como homem e deixa sua mulher com duas filhas pequenas, sendo que a mais nova tem apenas quatro meses! Isso mesmo, um homem adulto se diz confuso, toma a decisão de reencontrar "sua essência" e simplesmente sai de cena e joga a responsabilidade parental no colo da mãe, que ainda está no puerpério, amamentando uma bebê recém-nascida.
Ler o texto publicado abertamente por Luis no Instagram me indignou ainda mais. Compreendo que ele possa estar, de fato, se sentindo mesmo perdido, sem tempo para "refletir ou ler um livro". Mas ele é um adulto, fez escolhas, planejou com a Ivi essa segunda gravidez (como foi noticiado em 2022), não pode simplesmente quebrar uma decisão conjunta, um pacto de responsabilidade, um contrato afetivo, moral, humano!
Curioso que o contrato com a Globo ele não rompeu para ler um livro, só com ela. E, pela postagem de Ivi, entendo que não houve uma decisão comum, mas unilateral, já que ela publicou "Tá difícil e eu não tive escolha". Pois é, quem teve "escolha", foi ele.
Outra parte especialmente irritante foi aquela em que ele diz "aprendi que a sinceridade e o diálogo é tudo numa relação!". Aqui, faço questão de ser bem didática. Se um homem diz que está abandonando sua família, ele não está sendo "sincero", mas IRRESPONSÁVEL. Ele também escreveu que seu espírito sucumbiu e que não se lembra da última vez em que olhou o espelho e se orgulhou de si mesmo. E ele acha que com essa atitude ele vai se orgulhar de si mesmo no futuro?
Por fim, fiquei especialmente revoltada com um detalhe específico, que parece um elogio, mas carrega um grande equívoco por parte de muitos homens: quando ele diz que ela é a mulher mais "forte" do mundo. Sempre isso. Sempre essa alegação da mulher forte que pode aguentar o tranco. Pode aguentar arcar com a casa, a filha pequena, a bebê, os compromissos, as responsabilidades sozinha.
E ai eu pergunto: e a mulher "forte"? Não existe como indivíduo, como pessoa? Ela também não tem vontade de cuidar de si, não tem desejo de ter um tempo para si, de sentir orgulho ao se olhar no espelho? Ela só pode ser mãe, já que é forte? Não tem nem o direito de sentir fragilizada?
Sinceramente, eu não sei se depois de todas as críticas, todos os comentários e todas as reações das pessoas ele vai mudar de postura, vai fazer outro textão, vai pedir desculpas. Não tenho como saber. Mas sei que disso tudo a gente tira um aprendizado: a mulher que decidir ter filhos precisa, antes de encontrar um parceiro, um doador de sêmen ou seja lá o que for, montar uma rede de apoio, composta de pessoas responsáveis, adultas e solidárias, que não a abandonem para "ler um livro" na hora em que ela mais precisa.