Rosana Hermann

Dani Calabresa x Marcius Melhem: E agora, de que lado estamos?

Se supostas vítimas tiverem mentido, será um lamentável desserviço às causas femininas

Dani Calabresa e Marcius Melhem - Montagem

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O perfil @dionarpe do Twitter fez uma pergunta que está na cabeça de todos nós: estamos do lado de Dani Calabresa ou de Marcius Melhem agora?

A resposta genérica é óbvia. Estamos agora e sempre do lado da vítima e do lado da verdade. O problema é que não sabemos mais qual é a verdade. Ou quem são as vítimas. Ou se as supostas vítimas que temos apoiado incondicionalmente em nome da justiça e da sororidade, mentiram, enganaram e induziram outras pessoas ao erro por interesses pessoais. Diante da reviravolta no caso, revelada recentemente pelo jornalista Ricardo Feltrin, colunista do UOL, e também pela revista Veja, estamos todos confusos e não sabemos mais o que pensar.

Depois de quase dois anos de investigação, Feltrin tem publicado textos e vídeos com novas e surpreendentes informações sobre o caso do ex-diretor da Globo, o ator e autor Marcius Melhem, acusado de assédio moral e sexual por oito mulheres, entre elas, a apresentadora e comediante Dani Calabresa. Feltrin afirma que entre as acusações das vítimas há mentiras intencionais, casos de vingança pessoal, traição conjugal e até complô para conquistar poder na emissora.

O jornalista tem tomado cuidado para não revelar quem são as mulheres envolvidas, limitando-se a citar Dani Calabresa, a única que tornou públicas suas acusações; já a reportagem da revista Veja entrega os nomes e segredos de várias outras profissionais que fizeram denúncias. O texto, com prints de conversas trocadas, detalhes conjugais, gera até um mal-estar.

Ao mesmo tempo que nosso lado "fofoqueira" se interessa em saber quem era amante de quem, nossa consciência nos alerta para o fato de que este é um caso real, que envolve pessoas reais, que têm família, amigos, parentes, filhos, empregos e, por isso mesmo, exige de cada um de nós muita cautela ao emitir opiniões apressadas baseadas apenas na nossa simpatia por cada um.

Mas há uma questão maior. Num país como o nosso, onde a cada seis horas uma mulher é assassinada por um companheiro, meninas sofrem abusos dentro da própria casa, mulheres são assediadas moral e sexualmente o tempo todo, é urgente sabermos se alguém nesse caso usou essa pauta tão importante de forma leviana e irresponsável apenas para acobertar problemas individuais.

Se isso tiver acontecido terá sido um lamentável desserviço prestado às causas femininas, já tão descredibilizadas por imensa parcela da sociedade patriarcal. Isso sem contar o linchamento público do acusado, que alega até hoje ser inocente.

Assim, a melhor resposta para @dionarpe seria essa: no momento estamos do mesmo lado onde sempre estivemos, do lado de fora do caso, acompanhando as investigações até que encontremos, enfim, o que tanto buscamos, a verdade dos fatos.