Prender um racista não acaba com o racismo! Temos muito o que trabalhar
Ataque aos filhos de Giovanna Ewbank mostra urgência do debate
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Li o comentário, mas não peguei o nome do sujeito. Sou a favor de expor racistas, mas como disse o querido Preto Zezé, é preciso ampliar o debate sobre racismo estrutural e não cair na armadilha de achar que "está tudo resolvido" e se sentir "vingado" quando um racista é preso pelo seu crime. Até porque a mulher branca racista que ofendeu de forma criminosa as crianças Titi e Bless, filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, pagou fiança e foi solta.
Confesso que me identifiquei totalmente com a atitude do casal de atores. Tem que constranger publicamente a criminosa racista, tem que fazer escândalo, tem que chamar a polícia. E se Giovanna e Bruno têm privilégios por serem brancos, ricos e famosos, eles têm também o dever de usar esses mesmos privilégios na luta contra o racismo estrutural, esse que está entranhado na nossa sociedade e que tem que ser eliminado com participação coletiva. Mas não é o que vemos nas redes sociais.
No afã de ser cool, descolado e engajadinho, muita gente nas redes aproveita a onda de qualquer assunto para distorcer o debate, mesmo em uma pauta tão urgente quanto essa. Foi o caso de um fulano que, ao comentar a reação de Giovanna Ewbank quando seus filhos foram violentamente atacados pela branca racista em um restaurante em Portugal disse que "em primeiro lugar ela nem deveria ter ido para o Malawi e adotar essas crianças".
Como todo covarde que não se sustenta, ele apagou o tuíte e excluiu a conta. Mas seguindo os conselhos de Preto Zezé, ampliemos o debate.
Repare o estrago diversionista que um comentário como esse pode causar. Ele tira o foco do crime da racista branca contra duas crianças pretas e coloca Giovanna (e ele não menciona Bruno, mas só a mãe, a mulher) como a pessoa que "antes de mais nada estava ERRADA" em adotar seus filhos! Exatamente como quem diz "foi estuprada, mas também…com aquela vestidinho!"
Em vez de discutir o tema urgentíssimo do racismo estrutural, ele se sente no direito de julgar quem deveria ou não ter adotado filhos e se essas crianças deveriam ser brancas, pretas, nascidas no Brasil ou no Malawi?
Realmente, temos muitas urgências para discutir. E armadilhas para evitar. Pois, aqui estou eu, caindo na armadilha e louca para achar um print, o nome do cara, ir atrás dele na rede e fulanizar tudo.
Não adianta individualizar e achar que resolveu. A racista foi presa, pronto, acabou o racismo no mundo. O fulano excluiu a conta, pronto, ninguém mais vai julgar ninguém. O fato é que nossa sociedade está doente e, se não nos tratarmos coletivamente, não vamos nem precisar de meteoro. Nós mesmos vamos nos destruir. E acabar com o planeta antes mesmo de acabar com o racismo.