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Descrição de chapéu Televisão Consciência Negra

Protagonismo negro cresce em novelas, mas movimento é restrito à Globo

Record tem raros atores pretos em papéis principais, enquanto SBT aumentou timidamente a representatividade, aponta levantamento da coluna

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Da esq. para dir.: Duda Santos, Fabrício Boliveira, Gabz, Jessica Ellen e Taís Araujo - Globo/Instagram

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Aracaju

A percepção, à primeira vista, corresponde à realidade. Um levantamento realizado pela coluna mostra que sim, há mais atores negros em papeis de protagonismo em novelas da TV aberta, especialmente neste século. A Globo avança e o SBT aumentou timidamente a diversidade em suas produções. Já a Record parece estagnada.

A pesquisa considera atores que se autodeclaram negros no papel de protagonista ou antagonista principal de novelas produzidas pelas maiores emissoras de televisão do país. Foram analisadas 184 tramas exibidas desde 2001.

No século, a Globo exibiu 123 novelas, disparada a que mais produziu esse tipo de conteúdo. A Record fez 34 e o SBT, 27 no mesmo período.

Na primeira década dos anos 2000, quatro novelas contaram com negros em seus papéis principais: "Da Cor do Pecado" (2004), "Cobras e Lagartos" (2006), "Viver a Vida" (2009) e "Cama de Gato" (2009). Apenas três atores estiveram neste patamar: Taís Araújo, Lázaro Ramos e Camila Pitanga.

O elenco se repetiu nos anos seguintes. Entre 2010 e 2018, somente esse trio de atores protagonizou novelas na Globo. É o caso de "Lado a Lado" (2012), "Cheias de Charme" (2012) "Babilônia" (2015) e "Velho Chico" (2016). Outros atores negros apareceram somente em papéis coadjuvantes.

Isso mudou em 2018. A Globo decidiu mudar sua política de escalações após "Segundo Sol", novela de João Emanuel Carneiro que se passava na Bahia e tinha um elenco majoritariamente branco representando uma história situada em um estado de maioria negra. Hoje, a Globo reconhece esse erro.

"A diversidade no vídeo brasileiro demorou para avançar. Mas fizemos nosso dever de casa. Não temos escassez de talentos negros na Globo", afirmou Amauri Soares, diretor-executivo da TV e Estúdios Globo, em recente entrevista à Folha.

VIRADA NA PANDEMIA

Especialmente após a retomada de produção na pandemia de Covid-19, houve notório crescimento de protagonistas nas novelas. Apesar de investigada por práticas racistas nos bastidores, "Nos Tempos do Imperador" (2021) teve Michel Gomes como um dos principais mocinhos da história.

Ainda em 2021, mais avanços: Juan Paiva protagoniza sua primeira novela em horário nobre, como Ravi em "Um Lugar ao Sol". No ano seguinte, Paulo Lessa é o mocinho de "Cara e Coragem" (2022).

Mas foi em 2023 que a nova política cresceu: todas as novelas do ano tiveram atores negros nos papéis principais. Sheron Menezzes e Samuel de Assis foram os rostos de "Vai na Fé"; Késia fez parte do quinteto protagonista de "Elas por Elas"; e Barbara Reis foi a mocinha de "Terra e Paixão"; Diogo Almeida fez par romântico com Camila Queiroz em "Amor Perfeito".

Neste ano, um grande marco: pela primeira vez, as três principais novelas da Globo no horário nobre têm atrizes negras em papéis protagonistas ao mesmo tempo: Duda Santos estrela "Garota do Momento"; Jéssica Ellen faz par romântico com Fabrício Boliveira em "Volta por Cima"; e Gabz é um dos destaques de "Mania de Você". O fato foi comemorado por Taís Araujo, uma das precursoras.

De 2020 a 2024, são 12 atores em papéis de protagonismo. O número é o dobro em relação ao período entre 2000 e 2018, somando todas as tramas.

Fora da Globo, a Record teve em 2016 a primeira protagonista negra do século: Gabriela Moreyra foi a grande estrela de "Escrava Mãe", onde fazia par com o ator português Pedro Carvalho. Em 2019, Lidi Lisboa foi fez a personagem-título de "Jezabel".

Em 2011, Silvio Guindane fazia parte dos vencedores do prêmio milionário que fazia parte da trama principal de "Vidas em Jogo" (2011), mas seu papel não era exatamente o de maior destaque. No mesmo ano, Micael Borges foi um dos protagonistas da versão brasileira de "Rebelde". E tudo parou por aí: desde 2019, a Record não tem um ator negro ou negra como protagonista de novela.

No caso do SBT, há um pouco mais de representatividade se comparado a Record, mas ainda atrás da Globo: em 2012, Jean Paulo Campos foi revelado como Cirilo em "Carrossel" (2012) e foi o primeiro ator negro a protagonizar uma trama na TV da família Abravanel.

Em 2013, Gabriel Santana e Júlia Olliver fizeram parte do time principal de "Chiquititas". Em 2018, Igor Jansen foi protagonista de "As Aventuras de Poliana" e, logo em seguida, de "Poliana Moça". Em 2023, Miguel Ângelo foi protagonista de "A Infância de Romeu e Julieta".