Krishna Mahon
Descrição de chapéu Sexo

Um presidente que goza sempre serve de inspiração

Chega de botar preto na favela, mulher no tanque e gay no armário

Obra de Daniel Kondo - Daniel Kondo

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"Um homem sem amor não é nada. No meu governo todo mundo vai namorar". Quando Lula disse isso no Flow, ri sozinha pensando que o brasileiro de fato merece fazer chameguinho, dormir de conchinha, transar e, mais ainda, amar.

Não sou petista, mas nunca quis tanto um ex na minha vida, rs. E ó que eu tenho 2 ex-maridos muito maravilhosos. É um alento, um exemplo e ainda serve de inspiração um presidente transante, que fala de afeto, que reconhece a importância do amor, que beija na boca, que goza, que vive. Senti o mesmo quando Obama foi eleito.

Durante as apurações meu amigo Pedro Guerra, esse sim esquerdista convicto, perguntou o seguinte: "quantas vezes por semana você acha que o Lula e a Janja transam?" Respondi: "duas, talvez três", mas olhei em volta e –contando comigo mesma– tive quase certeza de que eles transavam mais que todo mundo que estava ali.

Reza a lenda que se organizar direitinho todo mundo transa, e gente que transa não enche o saco dos outros. Estudei leis de incentivo ligadas ao audiovisual, que é por onde navego bem, mas a Phoda Madrinha que habita em mim pensou logo em criar um programa "Meu Krush, Minha Vida", porque vidas solteiras importam. Viagem a namoro vai ter isenção de impostos e sair mais barata que viagem a trabalho, porque namorar à distância é caro. Quem sabe ser o braço direito da Pabllo Vittar no Ministério das Relações Interiores? rs. A gente ia regularizar a vida dos LGBTQIA+, dos não-monogâmicos, dos poliamorosos, já que os laços que contam são os do afeto.

O rei Roberto diria que são tantas emoções e, entre riso e choro, lembrei do Paulo Gustavo –que completaria 44 anos no dia anterior às eleições, mas que não teve a vacina a tempo–, no seu viúvo e filhos lindos.

Quando a disputa virou, bem no finalzinho, chorei pensando na Marta Lece, mulher preta, cria da favela com muito orgulho, que ama e cuida da minha afilhada Clarice, e que soltou a voz no seu Instagram (@martalece) e foi compartilhada pela Xuxa e meu amado Quebrando o Tabu. Tati Nascimento, que tem uma produtora de som só com pessoas pretas, a Janga, estava de mãos dadas comigo; e seus filhos gêmeos, meus queridos amigos, que também estavam sentados no sofá, entenderam que aquele era um momento histórico, impulsionado –como tudo na história desse país– pelo movimento negro, e viam tudo com muita atenção.

Giovana Madalosso, escritora dos maravilhosos "Tudo pode ser roubado" e "Suíte Tóquio", lembrou que a vitória era coletiva, que era dos artistas, do Felipe Neto, dela que tinha mandado flores para atrizes pagando do próprio bolso, e de um monte de gente que, como eu, está semanalmente alargando os pensamentos, os afetos e que, também, está lutando – tentando empunhar suavidade e humor – contra as castrações, travas, culpa e todo tipo de amarras que tentam nos colocar.

Encaramos o fuzuê da avenida Paulista com as crianças e tudo. O medo passou assim que a gente chegou e viu outras famílias e até cachorros. Uma mulher trans/travesti me reconheceu do SexPrivé Club – programa que apresento todo sábado na Band– e agradeceu por abrir a cabeça de um monte de gente, depois demos um abraço repleto de felicidade e entusiasmo. Nos emocionamos ali no meio da multidão, e ela repetiu o que a Giovana disse, que a vitória era de todas nós. Depois completou com "o amor venceu o ódio" e, por fim, comemoramos que vamos voltar a amar o próximo, a ter empatia, compaixão, direitos humanos.

Nos grupos de WhatsApp bolsonaristas rolava uma fake news de que o Lula estava tratando de um câncer na garganta, e que este –para finalizar a fantasia a ser bombardeada– tinha sido adquirido de tanto fazer sexo oral na Janja. Tem que ser muito terraplanista para pensar um trem desse, né? Pois aquela voz de Darth Vader, de quem urrou em muito palanque na vida, me encheu de amor e esperança ao dizer, do alto do carro de som, que: "Essa foi a vitória das mulheres que não querem ser tratadas como objeto de cama e mesa, querem ser tratadas como sujeitas da história. A mulher quer, ela pode e deve estar aonde ela quiser sem pedir licença."

Voltei andando pelos jardins pensando na Olivetchy, minha sobrinha, aliviada por estarmos livres –pelo menos por enquanto– de nos tornarmos uma Gilead, como no "Conto de Aia" ("The Handmaid’s Tale"), de Margaret Atwood. É preciso estar atento e forte. E que as deusas nos livrem de todo mal (olhado, humorado e amado). Amém, saravá, axé, shalom, namastê.

PS: quem acredita num pensamento mais de direita, mas não se vê representado pelo bolsonarismo, e que votou no Lula a contragosto, ou que batalhou pela terceira via, essa vitória também é sua, então não esmoreça, tem quatro anos pela frente, e o ideal é começar já. Só não tente botar preto na favela, mulher no tanque e gay no armário que não dá mais.