Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
"Mas você ainda é casada?", perguntou o melhor amigo do meu pai quando chegamos na casa dele, depois de anos sem nos vermos. Desde que apresento o SexPrivé na Band e que passei a ser mais livre no Instagram, a repressão disfarçada de cuidado vem de muitas formas.
"Você não deveria se expor tanto" é bem mais sutil que "e seu marido deixa?" mas no fundo, no fundo, é tudo a mesma m3rd4: é parte da pressão social, que questiona a nossa voz, corpo ou lugar no mundo, como se para existir precisássemos do aval de um homem. O tal do patriarcado agoniza, mas não morre —que fique claro que não é por falta de torcida para que faleça, rs.
Amo um holofote, um palco, e falar pra muita gente me acende, diria que sou zero tímida. Só que o ser humano é cheio de dualidades. Talvez você não acredite, caro leitor, mas praia de nudismo, só vou se for de biquíni. É sério esse bilhete. Não me falta coragem, mas me sobra respeito com meus próprios limites.
Agora, entre a liberdade e a objetificação da mulher, que a liberdade vença. Porque há uma violência com o corpo feminino, que nos desmembra e nos vê em pedaços: peito, bunda, pé…
Morro de dó e de preguiça dos caras que não nos veem como seres completos e não sabem a delícia do encontro de cabeça, coração e rabo, não consideram o desejo feminino no jogo cênico. Tipo aqueles pornôs tristes em que só a mulher chupa e só o cara goza, credo. Mas tenho muito mais dó das mulheres que se submetem a isso por falta de informação, consciência ou, pior, pela vulnerabilidade social, que não permite que tenham poder de escolha.
Eu mesma já terceirizei minha liberdade por pressões externas, como um parceiro, ou internas, como convenções, a tradicional família mineira (argh!), mas hoje tenho o privilégio de descobrir que conquistei a minha liberdade —e ela é interna, só minha e ninguém tasca.
Que bom que, no meu processo de conscientização, tive ao lado um marido também em desconstrução, que segurou a onda e respeitou a liberdade que brotou, floresceu e segue crescendo dentro de mim. Brigada por tudo, Zizou, love you.
Quem dera o "meu corpo minhas regras" fosse uma realidade pra todas as mulheres. Quem dera o empoderamento feminino já estivesse aqui com tudo a que a gente tem direito: igualdade de gênero, indivisibilidade, inalienabilidade e universalidade dos direitos humanos das mulheres, emancipação econômica (tão difícil de ser alcançada), equiparação salarial, representatividade política… A lista é tão grande que liberdade sobre os nossos corpos, incluindo a sexual parece algo inatingível.
Torço para ser ponte e não muro. Inclusive, tento evitar confronto a todo custo, mas há que se combater a opressão no dia a dia. Então, sinto muito se você acha que me exponho demais, seja nas palavras aqui na coluna, seja pelo que digo na Band, seja pelas fotos que posto, seja pelo que eu sou. Sinto muito mesmo.
Claro que o amigo do papai, citado no começo do texto, assim como tanta gente, não percebe que questionamentos como "mas seu marido deixa?" soam como castração, como uma tentativa de calar a minha voz, de esconder meu corpo, por não me ver como um ser completo, digno de autonomia. Mas que bom que um monte de gente tem tentado ver o mundo por outras lentes, né? Quem sabe até ele?
Em algum lugar desse corpo de 49 anos, habita uma menina que ruboriza com certas fotos, dessas que a gente posta e sai correndo. Então, quando me vir por aí, bote suas lentes amorosas e veja essa raba como meu manifesto comunista, rs. Torço pra que eu inspire mais que horrorize.
PS: Folha/F5, muito obrigada por tudo. Phoda Madrinha abençoa cada um de vocês.