De faixa a coroa

Caso Thiago Brennand: Concurso diz que miss não perderia título por nudez em vídeo

Stefanie Cohen foi ameaçada e disse que temeu perder a coroa do Miss São Paulo de las Américas

Stefanie Cohen afirma que foi estuprada e dopada por Thiago Brennand - Reprodução/Instagram

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São Paulo

A universitária Stefanie Cohen, 30, é a mais recente vítima a denunciar Thiago Brennand, 42, por abuso sexual —ao todo, já são 15 mulheres a incriminá-lo. À época do crime, em outubro de 2021, a jovem havia acabado de conquistar a faixa de Mrs. São Paulo, para disputar a coroa de Miss Brasil de las Américas 2022, e disse que temeu perder o título.

Segundo seu relato, Cohen afirma que saiu para jantar com o empresário e acabou dopada e violentada. Ela diz que pretendia denunciá-lo, mas mudou de ideia depois que Brennand mandou um vídeo dos dois na noite anterior —ela afirma que não autorizou que ele gravasse as imagens. "Na hora, aquilo me calou. Foi um misto de ódio com vergonha", disse.

As regras dos concursos de beleza mudam pouca coisa entre as diferentes franquias e organizações mundo afora, mas alguns temas são quase que universais. Além de a miss não poder ser casada ou ter filhos —regra que muda, pelo menos no Miss Universo, a partir de 2023—, há também a exigência de que ela não tenha fotos públicas em nu frontal e/ou material de cunho pornográfico.

Foi nesse último ponto que Cohen entendeu que se enquadraria uma possível perda de título. Apesar disso, a organização do Miss Brasil de las Américas, com sede em Curitiba, explicou que a situação da jovem não se enquadra na regra, já que se trata de um crime, como explica a diretora nacional do concurso, a empresária Ana Lúcia Lopes, 44.

"No nosso regulamento está firmado que não admitimos nu frontal, explícito ou nada que seja pornográfico para as candidatas e candidatos. Mas entendemos que a história da Stefanie é totalmente diferente dessas descrições. É um abuso, ela foi coagida, ameaçada e sofreu vários tipos de violência. Não é o caso de perder o título, mas entendemos o receio que ela sentiu, e queremos que ela fique despreocupada", afirma.

A miss já havia contado para a diretora que havia passado por uma situação, mas não com todos os detalhes expostos agora. Lopes diz que ficou sabendo desses detalhes pela reportagem exibida no Fantástico (Globo) deste domingo (16) e confirmado pela própria estudante à Folha nesta segunda-feira (17).

"Fiquei arrasada com a notícia. Stefanie disputou o Miss Brasil de las Américas em fevereiro de 2022, e ficou em terceiro lugar. Com isso, ela foi defender o país na Costa Rica, no concurso Reina Internacional de los Mares y del Turismo 2022, no mês passado, e ficou em segundo lugar. É um orgulho para nós", diz Lopes.

ENTENDA O CASO

Stefanie disse à Folha, que conheceu Brennand em outubro de 2021 enquanto comemorava o título de Miss São Paulo de Las Américas em um restaurante na capital paulista. Alguns dias depois, ele a levou para jantar e, no fim, pediu duas caipirinhas de caju. Após beber, Cohen afirma ter ficado desorientada. A estudante não se lembra claramente de tudo, mas disse que foi dopada e estuprada sem preservativo.

Depois disso, estava disposta a denunciá-lo, mas mudou de ideia depois que ele mandou um vídeo dos dois na noite anterior. "Eu vi que eu estava nua, ele mexia no meu corpo e aparecia o meu rosto, mas não assisti ao vídeo inteiro. Me dá vontade vomitar", diz. Cohen diz acreditar que o vídeo foi uma forma de intimidá-la e, depois disso, eles não se falaram mais. "Para mim, a ameaça estava feita e eu me calei."

Brennand ficou conhecido após agredir, em agosto deste ano, a modelo Alliny Helena Gomes, 37, durante discussão em uma academia de ginástica em São Paulo. Ele teve a prisão decretada, mas viajou para os Emirados Árabes Unidos horas antes de o Ministério Público apresentar a denúncia.

Por isso, foi considerado foragido e teve seu nome incluído na lista da Interpol. Assim, acabou detido em Abu Dhabi na última quinta (13) —ele pagou a fiança e responde o processo de extradição em liberdade.

Quando esse caso foi revelado, Cohen diz ter recebido mensagens de Brennand na qual ele pediu para ela depor a seu favor. Ela diz que decidiu falar a respeito como forma de encorajar outras mulheres a denunciarem o empresário. "Decidi mostrar o rosto para mostrar que ele não é tão poderoso quanto dizem que ele é".

Na sexta (14), Brennand teve o segundo pedido de prisão preventiva decretado, a pedido da Promotoria de Porto Feliz, cidade a 90 km de São Paulo. O órgão afirma que ele cometeu ao menos cinco crimes: estupro, cárcere privado, tortura, lesão corporal de natureza gravíssima e coação no curso do processo.