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Vídeo de Pedro Cardoso contestando apresentadores da CNN Brasil viraliza

'Participei de um show de entretenimento noticioso', disse o ator após questionar ao vivo, no canal, a liberdade dos jornalistas

Pedro Cardoso critica jornalismo ao vivo na CNN - Reprodução

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São Paulo

Quem não acompanhou ao vivo as análises e contestações feitas por Pedro Cardoso na CNN Brasil, no fim de tarde desta sexta-feira (23), certamente já viu ou tem boas chances de esbarrar em um vídeo que une todos os trechos da participação do ator no canal, em programa conduzido pelos jornalistas Raquel Landim, Felipe Moura Brasil e Joel Pinheiro da Fonseca.

O ator não só criticou o senador Sergio Moro por seu histórico e Jair Bolsonaro por vários aspectos, como questionou a liberdade dos jornalistas da CNN Brasil e acusou o país de sofrer de falta de debate e excesso de monólogos, mencionando o próprio programa como exemplo, mas estendendo sua crítica ao jornalismo de modo geral.

"O diálogo pressupõe um sincero interesse no pensamento do outro", disse Cardoso, que entrou no ar por meio de um link, via telão. "Se nenhum de nós aqui tem um sincero interesse no pensamento do outro, nós vamos apenas ouvir, esperar a nossa vez de falar, e então confirmar aquilo que sempre achamos, porque não estamos nos deixando modificar em momento algum pelo pensamento do outro."

"E não é só esse programa", continuou. "Eu vim a esse programa porque queria viver a experiência de estar dentro desses programas que são pretensos debates, mas que, me desculpem, não são debates, são monólogos que empobrecem a mobilidade do pensamento."

Ao chamar o ex-presidente de "torturador", foi corrigido pelos apresentadores: "Ele apoiou torturadores, mas não torturou", defendeu Moura Brasil, sendo novamente contestado por Cardoso, que citou a homenagem de Bolsonaro o Carlos Alberto Brilhante Ustra na votação do impeachment de Dilma Rousseff como exemplo de tortura.

Convidado a opinar sobre os assuntos noticiados na ocasião, com ênfase para a investigação sobre as ameaças sofridas por Moro de membros da facção criminosa PCC, criticou a importância dada ao atual senador, ex-juiz e ex-ministro.

"O Brasil está profundamente adoecido moralmente, porque nós estamos falando aqui há dez minutos de uma pessoa chamada Sergio Moro, e ele está sendo tratado aqui como se fosse uma pessoa que merece todo o nosso respeito, uma pessoa muito digna, muito correta, enquanto ele é uma pessoa que tramou junto com um acusador pra botar uma pessoa na cadeia. E apenas por nossa democracia muito imperfeita, ele logrou virar senador da República."

"É um fato profundamente lamentável que ele tenha recebido ameaça, ninguém tem que ser ameaçado de coisa alguma, mas me desculpem, milhões de brasileiros são ameaçados de morte todos os dias pela pobreza em que vivem, pela proximidade que são obrigados a viver com o crime organizado, e agora, este homem moralmente desqualificado recebe toda esta atenção porque ele agora foi vítima de uma ameaça também, péra lá."

Moura Brasil, Landim e Pinheiro contestaram o ator, civilizadamente, argumentando que estavam ouvindo o que ele dizia. "A gente está aqui nesse programa já há alguns meses, acho importante que você tenha aceitado participar desse pretenso debate, a gente se dispõe a ouvir opiniões divergentes e contrapor opiniões divergentes, trazer argumentos, fatos, informações, para que quem está em casa possa tirar a conclusão dela", disse Landim.

A jornalista ressaltou que o papel do canal é "exercer a vigilância" do governo, seja ele qual for. "Fizemos isso no governo Bolsonaro e vamos fazer o mesmo agora", sustentou.

"Cada um faz as suas colocações", completou Moura Brasil. "O que a gente não aceita aqui é uma imposição em relação àquilo que é opinião de certas pessoas porque abrimos o espaço para opiniões divergentes."

Pinheiro lembrou que alguns podem não gostar ou não concordar com Moro e Bolsonaro, mas sublinhou o fato de ambos terem sido alçados a cargos públicos por meio de votação popular. "Você trouxe uma fala tão rica sobre o diálogo, nós vamos ter que dialogar com o horror também", constatou.

"Felipe, nós só não sofremos um golpe porque o Trump não se elegeu nos Estados Unidos. Senão, muito provavelmente teríamos sofrido. Eu vejo essa nossa conversa aqui que a gente humanamente tenta se descontrair, mas eu não tenho vontade alguma de me descontrair. Tem 44% de pessoas que acham que o país pode virar comunista, um delírio absoluto", reagiu o ator.

"Uma das coisas que fez o pensamento ficar imobilizado é a ausência de uma sincera dialética no jornalismo, por isso insisto nesse ponto", seguiu Cardoso. "Nenhum capitalista que investe na venda de informação paga para ouvir o que não quer. Nós, jornalistas (aqui estou sendo irônico, porque não sou jornalista) temos que botar na mesa a opressão que sofremos dos nossos empregadores."

"Na TV Globo", argumentou Cardoso, "quando eu trabalhei, eu habitei a intersecção ideológica possível entre eu e os interesses da TV Globo. Mas eu não sou jornalista. A minha matéria prima não são fatos, são invenções, talvez seja mais fácil pra mim dialogar com os interesses do vendedor do meu trabalho do que para vocês, jornalistas. E eu pergunto a vocês: vocês são pessoas livres? Vocês, quando vão trabalhar, sentem alguma impressão do interesse capitalista que emprega vocês?"

A seguir, sem responder ao questionamento, Moura Brasil avisou: "Está na hora da entrevista com o chefe da Secom, Paulo Pimenta", que já estava conectado para entrar no ar.

A participação do ministro trouxe outro embate à edição do Arena CNN, quando Pimenta, em vez de responder a um questionamento de Landim, tentou afrontá-la, ao perguntar se ela era jornalista (veja abaixo).

Neste sábado (25), Cardoso comentou sua participação na CNN Brasil como um "show de entretenimento noticioso." "Foi dos momentos mais nebulosos da minha atividade pública. Logo no começo do espetáculo, quando o tema era um interminável insistente questionamento sobre os talentos de Dilma para assumir o comando de um banco, eu me percebi confinado na linguagem dos meus anfitriões."

"Para pessoas debaterem é preciso que antes se debatam consigo mesmas. Quando o público se vê diante de uma conversa na qual ninguém é honestamente penetrável pela fala do outro, ele também fica imobilizado, pois a imobilidade do pensamento é a informação dominante, e ele aceita a opinião que já for a que tinha. No entretenimento de ontem, ninguém se ouvia, todos apenas falavam. Monólogos não produzem um diálogo."

"O que eu experienciei ontem foi estar numa peça publicitária que, oferecida com aparência de debate, promove, em verdade, a imobilidade do pensamento. E esse é o interesse de todos os autoritarismos. Eu me senti numa versão amena da Jovem Pan. Grande mentira muito bem fantasiada de excesso de jornalismo. É grave. Se o comércio de notícias fosse mais honesto no Brasil, o fascismo teria tido maior dificuldade de chegar ao poder", conclui.

Procurada por meio de sua assessoria de comunicação, a CNN Brasil informou que não vai comentar o post de Cardoso, considerando que os jornalistas presentes no Arena já haviam respondido ao ator ao vivo, pela TV.