Zapping - Cristina Padiglione

Oratória de Simone Tebet é melhor do que pareceu no JN

Estreante na bancada do telejornal, candidata recorreu a discurso ensaiado e ocupou vácuo deixado pelos adversários

A candidata à presidência da República Simone Tebet em entrevista ao Jornal Nacional - Reprodução/TV Globo

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Simone Tebet, candidata do MDB à presidência da República, é a novidade no quarteto que se apresentou ao longo desta semana na bancada do Jornal Nacional. Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT), sabatinados por William Bonner e Renata Vasconcellos na segunda, na terça e na quinta-feira, respectivamente, já conheciam o peso nevrálgico de ocupar aquela bancada.

Dito isso, é natural que ela tenha se apegado a um discurso mais ensaiado e menos orgânico que os outros três, sem falar no tom de voz monocórdico que dominou os primeiros 20 minutos da entrevista. É notório que tenha se soltado mais ao longo da conversa, mas aquela oscilação vocal que tanto sucesso fez nas réplicas e questionamentos protagonizados por ela na CPI da Covid, por exemplo, ficou na gaveta em boa parte da sabatina.

E não é só o nervosismo de estreante que pesa nessa questão, até porque Tebet claramente foi ganhando confiança ao longo da entrevista. Conta ainda a tese de marqueteiros políticos de que convém fugir de grandes arroubos em debates e sabatinas como essas do JN. A câmera, e em especial esta, que se mostra disposta a investir em closes, amplia cada gesto do focalizado aos olhos do espectador, pedindo moderação.

É evidente que a premissa vale mais para quem ainda não é exatamente conhecido pela massa da TV aberta, caso de Tebet, que se apresentou pela primeira para uma larga parcela dos eleitores. E a norma costuma ser mais cruel com mulheres, de quem o machismo estrutural cobra mais equilíbrio emocional. Basta dizer que homem, quando chora, é aplaudido. Já a mulher, quando verte uma lágrima, é vista como frágil.

Tebet usou bem o artifício de se dirigir a Bonner e Renata pelos nomes de cada um, com olho no olho, como ensinou Lula na véspera, e não desprezou outra carta manjada dos treinamentos de mídia, quando o entrevistado elogia e agradece ao entrevistador por determinada questão.

O fato de ser a última dos quatro selecionados para a sabatina também lhe permitiu estudar o que funcionou e o que não funcionou nas entrevistas com Bolsonaro, Ciro e Lula. Assim, abordou com ênfase e propriedade a questão da fome, mal mencionada pelos adversários.

A considerar esse contexto de novata no posto de presidenciável, desconhecida do grande público e mulher, Tebet foi aplicada na lição de casa e soube aproveitar a condição feminina para sublinhar a diferença para os adversários. Logo informou a Renata que quem vai presidir o país não é a parlamentar, mas sim "a alma da mulher e o coração de mãe", clichezão com potencial para fisgar o público.

E reforçou o quanto pode a sua identificação com as questões que são mais caras na disputa pelo cobiçado voto feminino.

Foi também a condição de gênero que nos mostrou um Bonner mais delicado que nas sabatinas anteriores, preocupado em não interromper a entrevistada e atento a cada palavra usada nas réplicas que buscavam mais precisão nas explicações da candidata.