Colo de Mãe
Descrição de chapéu

A decisão de mandar um filho para a escola agora é das mais difíceis

Só mãe sabe quanto o coração aperta; angústia me define

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Só uma mãe sabe identificar o sofrimento do seu filho. Só uma mãe completamente conectada com sua cria —seja gestada dentro de si ou desejada por tantos anos até uma adoção— sabe a hora que o filho tem fome, tem frio, sede, necessidade de aconchego, afeto e apego.

Só o olhar materno é capaz de identificar como o filho está. Entender o que realmente traz felicidade a ele e saber quando o choro, a manhã ou o olhar tristonho são simples birras.

Eu passei o ano de 2020 com minhas filhas em casa, como muitas mães no mundo, em aulas online, com poucos contatos com outras pessoas que não fossem eu e o pai, e, de vez em quando, os avós e os tios. Dei, assim, toda a minha colaboração para tentar conter a pandemia de coronavírus no Brasil, mas não foi o suficiente.

Jovens, adultos, velhos, pais e mães dos mais diversos cantos deste país fizeram questão de aglomerar, viajar, pegar avião e festejar sem os mínimos cuidados, fazendo com que hoje, um ano após identificado o primeiro caso de Covid-19 no país, vivamos o pior momento da pandemia.

E, neste pior momento da doença, vou mandar a minha filha caçula para a escola. Eu, que passei um ano inteiro defendendo —e fazendo— o isolamento social para preservar a saúde não só dela, mas de toda a sociedade.

Sei que fui privilegiada por poder ficar em casa, que minhas filhas estão no aconchego do lar, sem faltar nada de essencial. Mas isso não é o suficiente para seres humanos em formação. As crianças e os adolescentes precisam de contato. E a escola é o primeiro microcosmo da sociedade onde eles convivem de verdade com realidades diferentes.

O Brasil está entre os países do mundo em que houve maior tempo de fechamento das escolas. Em alguns locais, houve abertura permanente das unidades para dar opção aos pais. Sei que são realidades distintas e que, do ponto de vista do vírus, não se pode aglomerar. E a escola é, por si só, uma atividade aglomerativa.

Mas, hoje, eu me recuso a compactuar com um mundo em que escolas ficam fechadas e bares abertos. Em que as crianças são obrigadas a ficarem trancadas, sem vivenciar o olho no olho, enquanto a maioria sai por aí, lotando as praias, correndo sem máscaras, fazendo churrasco e aglomerando —vide os vários exemplos de nosso presidente.

A angústia que me toma é a que está no coração de muitas mães neste início de ano. É difícil ter que escolher entre mandar um filho para a escola no meio de uma pandemia, correndo riscos, e deixá-lo em casa, vivenciando a pandemia do isolamento, da obesidade e do excesso de telas.

Só uma mãe sabe o que é melhor para o seu filho. E ponto. Mas ninguém entende isso. Nos culpam se escolhemos o caminho da aula online ou se decidimos que a criança irá para a escola.

Acreditam saber o que é melhor para as mães da periferia e querem escolher por elas. Mas só uma mãe sabe. Tome a sua decisão sobre o seu filho e pronto. Porque só você sabe quanto o coração aperta.