Em 1965, o fotógrafo ítalo-americano Bob Guccione fundou a revista masculina Penthouse com o objetivo de competir com a Playboy. A publicação se tornou a mais vendida dos Estados Unidos e acabou se desdobrando em um império do entretenimento adulto. E Guccione passou a viver uma vida de ostentação, cercado de suas modelos —as 'Pets'— em uma mansão de 2.600 m² e 42 quartos em Nova York.

A história do império de Guccione, que morreu em 2010 aos 79 anos, é contada na série documental "Segredos da Penthouse", que estreia no canal pago A&E neste domingo (21), às 23h. Em uma apresentação da série à imprensa latino-americana, da qual o F5 participou, Nick Guccione, um dos quatro herdeiros do fundador da revista, relembra sua louca adolescência vivida em meio a modelos seminuas, sexo e drogas na mansão do pai.

Nick e seus três irmãos, Bobby Jr., Nina e Tony, cresceram sob constante escrutínio da mídia norte-americana, já que seu pai estava o tempo todo envolvido em alguma polêmica. "Sempre tive muito orgulho do meu pai, embora ele tenha uma reputação ruim. Ele era um pouco distante por causa da empresa e de tudo que estava acontecendo. Mas era meu pai e eu o amava", diz.

Ele conta que perdeu a virgindade aos 15 anos com uma das modelos da revista. "Seria como crescer em uma loja de doces ouvindo 'não coma os doces'", diz. Ou seja, controlar um adolescente em um palácio de mulheres seminuas era tarefa praticamente impossível.

Aos 17 anos, Nick engatou um namoro com uma das "Pets", Sheila Kennedy, que tinha 18 anos e frequentava a mansão, posando para ensaios. "Eu tinha um enorme 'crush' no Bob", revela Sheila, que foi Pet entre 1981 e 1989. Apesar da queda pelo pai, ela acabou namorando o filho.

"Sheila e eu crescemos juntos naquela mansão, aprendendo tantas coisas sobre o mundo adulto, a sociedade e o dinheiro", lembra Nick. "Éramos dois adolescentes crescendo juntos naquele lar nada comum", completa Sheila.

Hoje com 61 anos, a ex-Pet diz levar uma "vida simples" com sua família e não se arrepender de nada do que viveu na juventude. Ela chegou a participar do Big Brother USA e fez algumas pontas na televisão.

"Temos uma tendência a pensar que fizemos coisas quando éramos jovens que não deveríamos ter feito. Mas eu não me arrependo. Se eu tivesse feito tudo diferente, não seria quem eu sou hoje", afirma Sheila. "Sou mãe, sou feliz, levo uma vida simples. A maioria dessas garotas hoje estão casadas, são mães, as coisas deram certo para elas."

REVOLUÇÃO SEXUAL E PADRÕES DE BELEZA

Fundada para disputar público com a Playboy, a Penthouse chegou a desbancar a concorrente nos anos 80. O ápice de vendas da publicação foi em 1984. Nick fala sobre as principais diferenças entre a revista do pai e a rival.

"Nossas fotos mostravam mais a beleza natural, o aspecto real das mulheres, enquanto a Playboy valorizava o estereótipo da loira peituda de olhos azuis", explica o herdeiro, que atribui ao pai um "papel crucial na revolução sexual". "Mudamos a civilização culturalmente", afirma.

Para Nick, porém, a revolução sexual iniciada por seu pai descambou para algo "deprimente" hoje em dia. "Hoje não é mais bonito. Hoje só temos sites pornográficos como X Vídeos e Pornhub, conteúdos que nada têm a ver com o que fazíamos na época."

"Meu pai era um artista que tirava belas fotos de mulheres nuas, era algo saudável e bonito. Hoje isso acabou se tornando uma máquina", avalia.

Sheila também considera que seu trabalho abriu caminho para muitas mulheres que hoje vivem de produzir conteúdo para sites como Onlyfans e Privacy. Ao mesmo tempo, ela critica os novos padrões de beleza.

"Essa geração atual quer ser mudar completamente para parecer uma Kardashian. Todo mundo é 'camgirl' agora, todo mundo faz dinheiro com isso. Não que eu ache isso errado, porque daí também seria errado o que eu fiz nos anos 80", pondera.

NUDEZ FEMININA POR IA

Nick ainda não sabe o que esperar do futuro no que diz respeito a conteúdo erótico. Mas o herdeiro da Penthouse hoje aposta em um novo projeto: o site FemDiva.com, que traz imagens sensuais de mulheres feitas por inteligência artificial, além de entrevistas e reportagens.

"A revista do meu pai não era pornográfica. No final [anos 1990] ele ficou louco e começou a mostrar material pornográfico, mas durante anos mostrávamos apenas lindas mulheres nuas", diz. "Hoje os sites mostram pornografia hardcore e acho que deveriam voltar a mostrar mulheres nuas. Ou homens nus, depende do que você gosta. Nudez é uma coisa linda."