'The White Lotus': Jennifer Coolidge e Mike White comentam final da 2ª temporada
Atriz e criador da série assistiram na casa dela ao episódio mais aguardado da série da HBO
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Mike White sempre soube como a história terminaria. Meses antes do início das filmagens da segunda temporada da série "The White Lotus" para a HBO, que terminou com furor homicida na semana passada (e, se você ainda não viu esse final, o melhor seria parar de ler agora), ele ligou para a atriz Jennifer Coolidge, sua amiga e colaboradora de longa data.
A Tanya de Coolidge, uma herdeira que ostenta lábios pneumáticos e uma conexão tênue com a realidade, foi um dos dois únicos personagens a serem transferidos da primeira temporada, ambientada em um hotel cinco estrelas no Havaí, para a seguinte, que se passa em uma propriedade irmã na Sicília. "Jennifer", ele lhe disse. "Sinto muito, mas você vai morrer."
Ele queria dizer que no episódio final da temporada, e contrariando as previsões de até mesmo os mais obsessivos dos fãs, Tanya, depois de abrir caminho a bala por um iate repleto de "gays de alta classe" que planejavam assassiná-la, erra no cálculo da distância entre o iate e um bote e mergulha ineptamente para a morte. Em uma entrevista gravada após a exibição do episódio, White descreveu a morte dela como propositalmente "songa".
Em uma temporada cujo foco era o desejo e suas consequências, o episódio final também viu um ressurgimento do romance entre Ethan (Will Sharpe), um sujeito casado e infeliz, e Harper (Aubrey Plaza); um novo entendimento entre as três gerações de homens da família Di Grasso (F. Murray Abraham, Michael Imperioli, Adam DiMarco); e um triunfo para as jovens mulheres locais Mia e Lucia (Beatrice Grannò e Simona Tabasco). Já para a assistente de Tanya, Portia (Haley Lu Richardson), quase nada muda –nem mesmo suas escolhas infelizes de moda; o mesmo se aplica ao casal de riquinhos desavisados Cameron (Theo James) e Daphne (Meghann Fahy).
Na noite de domingo (11), Coolidge e White assistiram na casa dela ao episódio final da temporada. E, na segunda-feira (12) de manhã, conversamos por vídeo para discutir o fim trágico e desastrado de Tanya, e o futuro da série (renovada para uma terceira temporada). Abaixo, trechos editados da conversa.
Se a primeira temporada tinha como centro a riqueza e o privilégio, por que a segunda se se fixou no sexo e no desejo?
White: Originalmente, eu tinha outro conceito. E então, quando fui à Sicília, vi aquelas esculturas "testa di moro" (figuras inspiradas por uma lenda popular sobre infidelidade sexual) espalhadas por toda parte. Parecia ser um lugar onde algumas histórias clássicas entre homens e mulheres podiam ser contadas com personagens contemporâneos.
Você sabia desde o início como a temporada 2 terminaria?
White: Na primeira temporada, a última frase de Tanya é algo como: "Já passei por tantos tratamentos em minha vida; a morte é a última experiência imersiva que ainda não tentei". E eu pensei que aquele talvez fosse o caminho pelo qual levar a história dela. Na ópera italiana, as mulheres devem chorar e morrer, e eu imaginei que essa poderia ser uma história apropriada para a locação, a Sicília e para aquela batalha dos sexos. Tanya é a vítima disso.
Durante a temporada, fãs dentro e fora das mídias sociais ficaram obcecados em descobrir quem iria morrer, e como. Vocês prestaram atenção às teorias?
Coolidge: Eu as achei hilariantes. Havia coisas loucas que as pessoas diziam. Por exemplo, que o marido de Tanya, Greg (provavelmente envolvido no plano de assassinato e interpretado por Jon Gries), precisa voltar para salvá-la daqueles gays assassinos. Mas eu adorava as teorias. As pessoas esgotaram todas as possibilidades.
White: É engraçado, porque 95% das teorias teriam sido realmente chocantes, mas, como roteirista, eu de jeito nenhum teria conseguido fazer que elas funcionassem. Tipo, Daphne mata todo mundo! Mas eu acho que o final que tivemos é um pouco mais selvagem. Eu geralmente trabalho em uma realidade mais modulada. Esta foi uma conclusão mais grandiosa, uma coisa de ópera. Porque eu senti que aquele era o clima da história. E também, a ideia de Jennifer no barco com aqueles caras me pareceu engraçada demais.
Jennifer, você alguma vez tentou convencer Mike a mudar o final?
Coolidge: É impossível convencer Mike White de qualquer coisa, na verdade. Mas sempre que Mike estava de bom humor e ria de algo, eu dizia: "Isso quer dizer que não preciso morrer, certo?".
White: Mesmo quando estávamos filmando a cena no oceano em que Daphne encontra o corpo dela. Ela disse: "Será que não devíamos fazer uma tomada em que chego à costa e me arrasto para fora da água? Só umazinha?".
Coolidge: O que você vê aí é uma atriz lutando por mais uma temporada! Eu queria ser prática, no caso de Mike mudar de ideia. Eu só queria deixar as possibilidades em aberto.
Por que você quis uma morte "songa" para Tanya?
White: É algo que me fez lembrar um pouco de Jennifer, porque Jennifer, é alguém que chega, grava uma cena incrível e depois fica presa no banheiro porque não consegue destrancar a porta. Eu conseguia ver Jennifer naquela situação, realmente matando todos os bandidos, sobrevivendo à tentativa de assassinato, e depois tropeçando ao sair pela porta. Parte de Jennifer é que ela jamais desiste sem lutar. Mas, ao mesmo tempo, ela talvez seja um pouco desastrada.
Você fez alguma das cenas de ação finais, Jennifer?
Coolidge: Eu implorei para fazer! Mas Mike já tinha a dublê de ação no set. E ela estava esperando há horas. Não havia como Mike dizer a ela, depois de ela esperar todo aquele tempo em um barco gelado, que ela não faria a cena. E, assim, Mike não me deixou fazer as cenas.
White: Ela realmente queria pular do barco. Para dentro de água gelada. Não havia como.
Algum dos personagens da temporada dois chegará à temporada três?
White: A verdade é que eu realmente não sei. Não sei mesmo.
Bem, você mencionou uma temporada sobre a espiritualidade oriental e a morte, e por isso vou tomar a liberdade de sugerir Tanya como fantasma.
Coolidge: Obrigado por tentar me arrumar uma vaga.
White: Nossa, especialmente se estivermos fazendo algo sobre o reino espiritual.
Durante a primeira temporada, vocês gravaram dentro de uma bolha por conta da Covid-19. Desta vez, os atores e personagens poderiam deixar o hotel. A gravação foi diferente, com isso?
Coolidge: Obviamente, nos divertimos demais na primeira temporada. Na segunda, eu pensei que, meu Deus, nunca mais teremos uma camaradagem como aquela. É impossível. Porque com a Covid foi tudo muito intenso.
Mas, na verdade, acho que foi igualmente bom. Eu adorava o Havaí, nadar no oceano e sair com todos os companheiros de elenco no final do dia, e a possibilidade de sermos comidos por tubarões, o drama daquilo. Mas a Sicília é tão bonita, e as pessoas acabaram sendo muito engraçadas e interessantes. Eu disse a Mike: "Você não se limita a oferecer trabalho como atores às pessoas; você lhes oferece uma experiência". Foi tudo muito imprevisível e extraordinário.
Você tem algum arrependimento sobre a temporada? Você se arrependeu de matar Tanya?
White: Eu realmente amo esta história. E achei que seria uma maneira engraçada de terminar. E o jeito certo. Não tenho arrependimentos sobre isso.
Mas ontem, eu fui à casa dela e assisti ao episódio sozinho com Jennifer. A certa altura, eu estava meio rindo e olhei para ela, e ela estava tão triste por Tanya. Naquele momento, eu pensei comigo mesmo que aquele era o fim para Jennifer e eu. E Jennifer foi a razão pela qual eu escrevi "The White Lotus", para começar. Porque eu queria escrever algo para ela e eu a adoro. Portanto, é triste. Eu só percebi isso ontem, mas agora estou triste. Vai ser difícil fazer isso sem ela. Definitivamente, vai faltar alguma coisa.
Coolidge: Eu não esperava, ontem à noite, ficar tão comovida quanto fiquei.
Você já o perdoou por matá-la?
Coolidge: Não, de jeito nenhum. Ficarei triste para sempre com isso.
A série já foi renovada para a terceira temporada. Portanto, vamos tirar isso do caminho: Quem morrerá da próxima vez?
White: Talvez seja como Kenny em "South Park". A cada temporada, Tanya tem que voltar e morrer de novo.
Tradução de Paulo Migliacci