'Clube das Mulheres' americano inspira série que mistura crimes e striptease masculino
Parte do elenco, Juliette Lewis revela que assistiu a show real que inspirou a trama
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"No meu primeiro dia, tinha que fazer um solo", lembra Quentin Plair, 34, que faz o papel do stripper Otis na série "Bem-Vindos ao Clube da Sedução", disponível no serviço de streaming Star+. "Tínhamos uma cena em que todos precisavam ficar em silêncio, baixaram a música e as pessoas tinham que ficar fingindo que ela continuava tocando. Isso coincidiu com a primeira vez que tive que tirar minhas calças."
Foi impossível gravar a cena naquele momento, diz o ator. "Todo mundo começou a gritar, não dava nem para ouvir o diretor falando: 'Corta'. Eu estava extremamente nervoso porque não é algo ao que estou acostumado, mas quando dancei pela primeira vez e senti a energia das pessoas, entrei no personagem. Foi estranhamente empoderador."
O relato dá o tom dos bastidores das gravações dos oito episódios em que se divide a trama, centrada na boate Chippendales. Fundada em 1979, após tentativas de fazer vingar um bar falido em Los Angeles, ela fez sucesso nos anos 1980 e entrou no imaginário americano como um lugar hedonista, que subvertia a fórmula tradicional de objetificação do corpo feminino.
O criador foi o imigrante indiano Somen Banerjee, que adota o nome Steve nos Estados Unidos. Na série, ele é vivido por Kumail Nanjiani, 44. Nascido no Paquistão, ele diz acreditar que a origem do empresário é muito importante para entender o desenrolar da história (baseada em fatos reais), que envolve superação e criatividade, mas também crimes.
"Na realidade, [a série] é sobre o que significa fazer sucesso nos Estados Unidos e o tipo de coisa que você faz para isso, especialmente se você for estrangeiro", afirma Nanjiani. "Apesar de se tratar de um período muito particular, acho que ainda é aplicável nos dias de hoje. A ideia que os americanos têm de sucesso é muito específica, assim como a interpretação de quem não é americano. Então, exploramos tudo isso. Os homens dançando para as mulheres são um bônus (risos)."
O intérprete analisa o que levou Steve a fundar essa espécie de precursor do Clube das Mulheres. "Ele criou esse espaço onde as mulheres podiam expressar livremente a própria sexualidade de uma forma que não existia antes, mas essa não foi a motivação dele", explica. "Ele só estava tentando ganhar dinheiro. Isso era o principal para ele, que —meio que por acaso— se deparou com uma grande ideia no momento certo."
Vencedor do Emmy por "The White Lotus" (HBO Max), Murray Bartlett, 51, dá vida ao coreógrafo Nick De Noia, que transformou as apresentações da Chippendales em verdadeiros espetáculos visuais. "Eu via a Chippendales como um show de striptease masculino exagerado e divertido, mas não tinha ideia da complexidade das histórias que havia por detrás", comenta. "Todos esses personagens são ricos e têm histórias individuais fascinantes, então, quando colidem uns com os outros, é explosivo."
O ator contou que é um dançarino mediano, mas que isso foi suficiente para a série. "Como sou o coreógrafo, não preciso dançar tão bem quanto os dançarinos", compara. "Quando me convidaram, eu pensei: 'Sério, vocês querem que eu dance?'. Mas fiquei animado. Ninguém nunca tinha me pedido para fazer isso. Não sou bailarino, mas adoro dançar —e me diverti muito."
Criador da trama, Robert Siegel se baseou no livro "Deadly Dance: The Chippendales Murders" ("Dança Mortal: Os Assassinatos da Chippendales", em tradução livre). "Eu não sabia de nada do que tinha acontecido lá quando descobri a história", conta. "Só o fato de o cara por trás da Chippendales ser um imigrante indiano já é fascinante e surpreendente. Temos ainda uma conexão com a [revista] Playboy e com a morte da [playmate e atriz] Dorothy Stratten, então é quase um cruzamento de todo o universo estendido dos anos 1980."
O roteirista afirma que tem algumas partes da trama que ele adoraria ter inventado, mas que aconteceram de fato, por mais inacreditável que pareçam. "Temos os homens tirando a roupa, mas também tocamos na natureza do sonho americano, do capitalismo, da segunda onda do feminismo, do racismo...", enumera. "E temos muitas interseções interessantes entre todos esses temas, como o fato de o feminismo ser afetado pelo capitalismo."
Juliette Lewis, 49, interpreta a figurinista Denise, responsável por introduzir nos shows a calça especial que os homens arrancam de uma só vez no palco. A atriz e cantora diz que chegou a ir a um show da Chippendales em Las Vegas. "Na verdade, eu obriguei a minha banda a ir comigo, porque era o tipo de coisa que nós gostávamos de fazer (risos)", lembra. "Para mim, tudo parecia muito engraçado."
"Nos anos 2000, nós já vimos de quase tudo, mas nos anos 1980 eu imagino que era como quando o Elvis [Presley] começou a rebolar e os programas de TV só o filmavam da cintura para cima", compara. "Eles achavam que a libido masculina era perigosa, mas esperem até excitar as mulheres! É uma energia completamente diferente."
Já a atriz Annaleigh Ashford, 37, vive a contadora Irene, que é cheia de ideias para aumentar os lucros do negócio e acaba se casando com Steve. Com uma carreira que inclui diversos sucessos na Broadway, ela lembra que algumas das coreografias vistas na tela fazem pequenas homenagens a musicais como "A Chorus Line" e filmes como "All That Jazz - O Show Deve Continuar" (1979).
Ela conta que as gravações tinham praticamente apresentações de verdade ocorrendo diariamente. "Nossas figurantes maravilhosas começavam a gritar, e isso nos fazia sentir como se estivéssemos de volta a 1979", comenta. Ela tentava ficar na personagem, mas não julga quem não conseguia. "Quanto a ver homens dançando todos os dias, eu sempre direi: 'Sim, por favor, e muito obrigada!' (risos)."