Janine de 'The Handmaid's Tale' diz não ter instinto materno da personagem
Madeline Brewer compara aborto da personagem ao que passou na vida real
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Janine está sempre entre a vida e a morte em "The Hadmaid's Tale", cuja 5ª temporada está tendo episódios disponibilizados semanalmente pela Paramount+ no Brasil, sempre aos domingos. No mais recente deles, em uma cena chocante, a personagem da americana Madeline Brewer, 30, vomitou sangue e passou mal após comer trufas envenenadas.
O caminho de Janine foi sacudido por quem ela menos esperava: a jovem Esther (Mckenna Grace). Ambas estão sendo obrigadas a exercer a função de aia, como são chamadas as mulheres obrigadas a fazer sexo para procriação com oficiais de alta patente em Gilead, a fictícia nação ultraconservadora da série.
Na trama, Janine havia acolhido Esther, a quem estava ensinando como ser uma boa aia. Após tentar fugir para o Canadá com June (Elisabeth Moss), a personagem parecia conformada com o seu destino. "Ela estava encarando a amizade das duas como uma irmandade, tentando mostrar a Esther como não cometer os mesmos erros que ela havia cometido", avalia a atriz.
"Tem um elemento desse instinto maternal da Janine", continua. "A Janine foi feita para ser mãe. Isso está em seu coração, em sua alma e em cada fibra de seu ser. Ela ama ser mãe, mas estar separada dos filhos é excruciante para ela. Então ela vê esse passarinho caído da árvore e quer salvá-lo."
A personagem não poderia ser mais distante da atriz. "Eu não tenho o desejo de ser mãe", afirma Brewer. Na série, ela teve uma filha que é criada por uma família abastada de Gilead. Seguindo o costume estabelecido na série, ela foi trocada de casa depois de dar a luz.
Em flashbacks, também foi revelado que ela já tinha um filho antes do golpe que transformou boa parte dos Estados Unidos —ele morreu em um acidente, após ser entregue à adoção. Além disso, foi mostrado que Janine realizou um aborto bastante traumático quando isso ainda era possível.
"Quis dar tudo de mim nas cenas do aborto", lembra a atriz. "Queria mostrar tudo com o respeito necessário, mostrar que não é algo para se ter vergonha, mas é delicado. Fazer uma escolha merece respeito, ainda mais uma que impacta tão fortemente o emocional e o físico."
A atriz elogia a forma como a história foi contada na série, inclusive com pessoas protestando do lado de fora da clínica. Ela também lembra que a história ficou ainda mais forte após a Suprema Corte americana ter suspendido, em junho, o direito constitucional ao aborto no país após 49 anos.
"Por causa disso, eu decidi compartilhar a minha própria experiência com um aborto", revela. "Pensei: 'Por que nunca falei sobre isso?'. Faço uma personagem cuja história é atravessada por isso e me sinto muito orgulhosa e honrada de que tenham me confiado essa trama, mas não falo sobre a minha própria história."
A atriz conta que, diferente de Janine, sua escolha não se deu por motivações financeiras (a personagem temia não ter como sustentar mais uma criança). "A Janine faz essa escolha baseada no bem-estar de seu outro filho, já eu tomei essa decisão por realmente não querer ser mãe", compara. "Não fui feita para isso, não é para mim."
Ela sabe que sua atitude pode não ser compreendida por todos, mas acha que isso não é da conta de ninguém. "Foi uma decisão que tomei para a minha vida, porque sou um ser humano e mereço ter a vida que eu escolhi", afirma. "Não acredito que a narrativa precise ser sempre sobre uma decisão médica [para salvar a vida da mãe]."
Sobre a decisão da Suprema Corte, ela diz que se preocupa não por ela, mas por outras mulheres —a decisão sobre o direito a abortar passou a ser dos estados, então em vários deles essa possibilidade ainda existe. "Eu tenho a possibilidade de viajar para outro país ou cidade para fazer um aborto se eu desejar, mas temo pelas mulheres que morrerão porque serão forçadas a terem bebês", lamenta.
Apesar de ter sido extremamente elogiada pelas sequências de flashback, mostrando todo o passado da personagem, Brewer conta que essas não foram as cenas que achou mais emocionantes da personagem. "As pessoas falavam que eu estava doida por não submeter esse episódio para uma indicação ao Emmy, mas escolhi o que ela é recapturada", conta.
Na trama, após tentar escapar de Gilead, ela é encarcerada e volta a ficar frente a frente com Tia Lydia (Ann Dowd), a responsável por "educar" e manter a ordem entre as aias. "Ela me diz que a June conseguiu fugir para o Canadá, e eu digo que prefiro morrer do que voltar a ser aia", lembra. "Foi um ponto de virada muito importante para ela."
Ela conta que a cena foi bastante ensaiada. "Nós precisávamos discutir onde essas duas mulheres se encontravam", comenta. "Eu precisei repassar tudo o que a Janine havia vivido desde o começo da série. Ela perdeu todos os amigos, foi estuprada repetidas vezes e teve que abrir mão dos filhos. Ali, ela estava nua, como se não tivesse sobrado nada."
A estratégia deu certo, e atriz de fato foi indicada ao Emmy pelo papel. Sobre seu processo de trabalho, ela diz que costuma pensar em músicas enquanto está construindo suas personagens. Para Janine, a música escolhida foi "Smile" (que ganhou versão de Djavan em português, com os versos: "Sorri/Vai mentindo a tua dor/E ao notar que tu sorris/Todo mundo irá supor/Que és feliz").
"Todo mundo achava que a Janine era louca nas primeiras temporadas", lembra. "Essa mulher passou por muita dor, tem muita coisa acontecendo ali dentro. Ela não é louca, ela decidiu não lidar com aquilo, e estava ativamente se dissociando de tudo o que estava acontecendo ao seu redor."