'Entre Facas e Segredos': Veja guia sem spoilers da continuação do filme
'Glass Onion: Um Mistério Knives Out' mostra nova aventura de Daniel Craig como Benoit Blanc
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Como jornalista, minha obrigação é revelar ao leitor tudo que eu consiga descobrir sobre um assunto. Mas quando o assunto é "Glass Onion", filme que estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto na noite do último sábado (10), prefiro agir com cautela.
Para entender o motivo, destaco o título completo do filme: "Glass Onion: Um Mistério Knives Out". Ou seja, o filme não é algo inspirado pela canção homônima dos Beatles, e sim uma continuação da sinuosa aventura "Entre Facas e Segredos", que trazia Daniel Craig como o roufenho investigador particular Benoit Blanc. E antes da estreia de seu filme, o diretor Rian Johnson distribuiu um comunicado implorando à imprensa que evitasse "spoilers".
"Há algumas grandes surpresas, que vão além de quem morre e do que se perde, cuja preservação realmente afeta a experiência de quem assiste ao filme pela primeira vez", escreveu Johnson. "Agradeço com antecedência por sua ajuda em preservar esse aspecto para as audiências".
Quando se trata de informar os leitores do New York Times, sempre tentei adotar uma política de evitar "spoilers", mas os critérios das pessoas quanto a esse assunto variam. Recentemente, quando escrevi sobre uma comédia romântica e mencionei que os dois personagens principais se beijam –o que é mais previsível do que alguém ser retalhado a facadas em um filme sobre maníacos homicidas—, alguns usuários do Twitter reagiram como se eu tivesse vazado segredos do governo.
Portanto, abaixo, mesmo que eu sempre me esforce para evitar "spoilers", vou tentar demarcar claramente o que estou prestes a dizer, para que o leitor possa decidir até que ponto ele deseja descascar a cebola [onion].
A premissa (sem "spoilers" sobre o assassinato)
Como no primeiro filme, Blanc é chamado para uma reunião de ricos excêntricos a fim de resolver um mistério. Mas dessa vez, ainda não aconteceu qualquer morte.
Em lugar disso, o egocêntrico bilionário Miles Bron (Edward Norton) enviou convites para um grupo eclético de seus confidentes a fim de convocá-los à sua ilha particular na Grécia, ostensivamente para escapar aos protocolos da Covid-19 (o filme se passa, muito especificamente, no verão de 2020), mas também para participar de uma divertida brincadeira de investigação de homicídio (fictício) que ele preparou. Depois que Blanc se orienta, Bron confessa que não foi ele que convidou o detetive para a festa; assim, o mistério inicial passa ser: quem o fez?
E depois há uma pergunta maior, com um lado meta: Será que o filme vai acompanhar a investigação de Blanc sobre o mistério do assassinato fictício idealizado por Bron, ou teremos uma morte real que exigirá ainda mais do olhar atento do detetive?
Os personagens (sem "spoilers" sobre o vilão)
Craig é o único remanescente do elenco do filme original e, respondendo a perguntas da plateia depois da estreia, Johnson brincou que "vou continuar fazendo isso até que Daniel me bloqueie em seu telefone".
Portanto, não, não temos o retorno de Ana de Armas, Jamie Lee Curtis ou de qualquer dos outros malucos de "Entre Facas e Segredos", mas o novo elenco foi muito bem escalado. Quem mais se destaca no grupo é Kate Hudson, que claramente se diverte fazendo o papel de uma influenciadora que gosta muito mais de festas do que de pensar; Johnson disse que a inspiração para o novo filme veio em parte do mistério "O Fim de Sheila" (1973), e Hudson claramente assume o papel de beberrona que Dyan Cannon interpretou naquele filme.
Temos também Kathryn Hahn, como uma política bancada por Bron, Leslie Odom Jr. como um astro da ciência, e Dave Bautista (em calções de banho ainda mais minúsculos que os de Craig em "007 – Cassino Royale"), no papel de um ativista, armado, dos direitos masculinos. E há também a misteriosa Janelle Monáe, que interpreta uma sócia de negócios expulsa de uma empresa por conta da avareza insuperável de Bron. Ela perambula pela ilha privativa, olhando feio para as pessoas mas dizendo pouco, como se fosse uma arma de fogo que o espectador mal pode esperar que dispare.
A reação (sem "spoilers" sobre as surpresas)
"Glass Onion: Um Mistério Knives Out" foi muito bem recebido no festival de Toronto, e diversas críticas ecoaram a da revista The Hollywood Reporter, que definiu a continuação como "mais agradável que o original na maioria dos aspectos (e comparável a ele nos demais)". Já Variety não pareceu tão entusiástica, mas sua resenha apontou para o fato de que o novo filme parece maior que o de 2019, e que o aumento de orçamento é claramente visível na cenografia absurda da mansão de Bron na ilha, que inclui uma versão muito vistosa da cebola de vidro que dá título ao filme.
"Entre Facas e Segredos" fez bastante sucesso, arrecadando US$ 165 milhões (mais de R$ 870 milhões) nas bilheterias dos Estados Unidos e quase o dobro disso internacionalmente, mas Johnson optou por trocar sua distribuidora original, a Lionsgate, pela Netflix, que desembolsou um bom dinheiro pelo direito de exibir "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" (com estreia prevista para dezembro) e uma segunda continuação.
Que o serviço de streaming tenha se disposto a pagar US$ 450 milhões (cerca de R$ 2,4 bilhões) pelo pacote indica o quanto a Netflix está ansiosa para ter uma série de filmes com sucesso comparável às suas séries de TV mais populares, mas ainda é melhor assistir a "Glass Onion: Um Mistério Knives Out" em uma sala de cinema lotada, e a audiência na ruidosa estreia em Toronto aplaudiu cada participação especial e reviravolta na trama.
O filme deve estrear em dezembro, mas os executivos da Netflix indicaram que estão estudando uma estreia antecipada nos cinemas em um número de salas bem mais robusto do que o mínimo necessário para qualificar o filme ao Oscar, a prática habitual da companhia. Será que esse pode vir a ser um novo modelo interessante para a empresa, que está cortando despesas? Não é preciso um detetive para saber que, nas bilheterias, filmes como esses poderiam ser matadores.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci