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'A Casa do Dragão': Protagonistas se despedem do maior sucesso da HBO

Milly Alcock e Emily Carey ainda não têm planos após deixarem a série

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Sean T. Collins

Elas foram a âncora dos primeiros episódios de um dos programas de maior sucesso na televisão, mas Milly Alcock e Emily Carey não têm ideia do que farão a seguir –nem mesmo sabem se voltarão ou não a "A Casa do Dragão", seja em flashbacks, seja de outra maneira. "Não sei nem o que vou fazer amanhã", disse Alcock. "Portanto, não faço ideia". "E eu nem sei o que vou jantar!", acrescentou Carey.

As atrizes não sabem o que virá, depois que originaram duas das personagens principais de "A Casa do Dragão", a princesa Rhaenyra Targaryen (Alcock), herdeira do Trono de Ferro de Westeros, e a rainha Alicent Hightower (Carey), cuja esperança é de que no futuro seus descendentes usurpem o direito de sua melhor amiga ao trono. O quinto episódio, que saiu no domingo (18), marcou o final da passagem das duas pela prequela de "Game of Thrones".

Um salto no tempo da narrativa verá Emma D'Arcy assumir o lugar de Rhaenyra e Olivia Cooke o de Alicent. Para Alcock e Carey, é um momento de incerteza. "Eu e Emily falamos sobre isso hoje", disse Alcock, 22, de Londres, em uma entrevista por telefone na semana passada. "Dissemos que não sei que [ela usa um palavrão] vamos fazer agora. Fico andando em círculos". "Milly anda em círculos e eu fico sentada montando Legos, e esse é o clima", acrescentou Carey, 19.

Como acontece com as personagens que elas retratam, foi pedido às duas atrizes, muito jovens, que carregassem um fardo enorme. Elas vêm sendo componentes cruciais para a dispendiosa aposta da HBO em que os fãs de "Game of Thrones", série de fantasia produzida pela rede que se tornou um sucesso fenomenal, correriam a assistir a uma prequela que se passa cerca de 175 anos antes que um primeiro vislumbre de Daenerys Targaryen surgisse em forma de um brilho malicioso no olhar do Rei Louco.

Mas a aposta deu resultado, e o talento de Alcock e Carey para representar o relacionamento complexo entre suas personagens foi crucial para o sucesso do programa. Para onde vão as coisas a partir daqui? Alcock e Carey também gostariam de saber. Abaixo, trechos editados de nossa conversa.

Vocês duas ancoraram os cinco primeiros episódios de um programa derivado do maior sucesso da história da HBO, e a nova série se tornou um grande sucesso por direito próprio. Que mudanças isso trouxe em suas vidas?
Alcock: Para mim, houve uma grande sensação de terror, de medo, de empolgação. Mas também houve um senso muito reconfortante de que, para mim e para Em, é um privilégio poder trabalhar com isso pelo resto de nossas vidas. É algo com que qualquer ator sonha: a sensação de que as coisas não vão desmoronar debaixo de você.

Carey: É estranho ser visível. Para mim, isso é a principal coisa que mudou: antes eu conseguia me misturar sem ser percebida, mas agora sou vista.

Em nível fundamental, a história da série depende de Rhaenyra e Alicent. Como a relação entre elas se refletiu na relação entre vocês duas como atrizes?
Carey: Temos muita sorte porque nos damos bem na vida real, e com isso a química veio de forma muito orgânica. Somos muito parecidas com nossos personagens.

Alcock: As duas são muito parecidas.

Carey: Eu sou uma pessoa muito neurótica, muito ansiosa e muito disciplinada. Sigo as regras. Mil é muito mais parecida com Rhaenyra, nesse sentido. [As duas riem.] Mas vejo Milly como uma irmã mais velha, o que é diferente do que acontece entre as personagens na tela. Ainda assim, a proximidade que o espectador vê entre Rhaenyra e Alicent é definitivamente um reflexo de nossa proximidade na vida real.

Alcock: Eu e Em passamos por uma experiência muito semelhante à que nossas personagens tiveram. Fomos jogadas nesses papéis muito importantes e, quando algo assim acontece na realidade, você não sabe como agir. Somos duas mulheres muito jovens que nunca tinham trabalhado em projetos tão grandes, até agora, em um ambiente cheio de homens, e tendo que estar à altura da oportunidade que recebemos. Fomos forçadas a nos apegar firmemente uma à outra.

Carey: E não pretendemos nos largar.

Alcock: Meu Deus, não. Isso não vai acontecer.

É também uma história sobre famílias.
Alcock: É, em última análise, uma história sobre pais disfuncionais, o cerne da situação, e isso é algo que conheço bem.

Carey: Mesma coisa, para mim. Passei por isso.

Alcock: E eu também estive lá.

Um dos temas centrais do programa, a autonomia da mulher quanto ao seu corpo e futuro, se tornou ainda mais marcante depois do início das gravações, quanto a Corte Suprema dos Estados Unidos derrubou a decisão do caso Roe vs. Wade [que embasava o direito ao aborto].

Carey: Acho que é isso que torna série tão interessante de assistir, para um público moderno. Há muito mais nela do que fantasia e dragões. Há temas e enredos bem fundamentados e verdadeiros, que refletem o mundo em que vivemos.

Alcock: A história estuda o trauma que aquelas duas mulheres teriam enfrentado no mundo da série —não apenas o patriarcado, mas a misoginia entranhada. As duas mulheres são forçadas a lutar uma com a outra por conta de escolhas feitas por homens.

É bem irônico que na mídia social as pessoas comentem que não querem ver Milly trocada por Emma, ou comparem Emma e Liv! É exatamente disso que a série toda trata, mas as pessoas continuam a fazê-lo mesmo assim. Portanto, é uma decisão inteligente.

Quanto vocês trabalharam com Emma e Olivia em...
Alcock: Não trabalhamos com elas, de forma alguma. Nada. Zero.

Interessante!
Alcock: Eu sei. [Risos].

Então vocês devem estar tão curiosas quanto todas as demais pessoas para ver como as personagens continuarão sem vocês.
Carey: Sim, estou muito intrigada. Nós nem lemos os roteiros em que não participávamos, e com isso sabemos muito pouco sobre o que acontece depois de nossa saída.

Alcock: Não nos deram [os roteiros]. Eu pedi muito para lê-los, mas me responderam que "não, você não pode". Vou aguardar com muita ansiedade, porque quero saber o que vai acontecer.

Como foi entregar as rédeas de Rhaenyra e Alicent a novas atrizes?
Alcock: Estou muito entusiasmada para ver o que Emma fez com Rhaenyra. Não haveria como eu tê-la representado em etapas posteriores de sua vida, porque não tenho a experiência de vida que Emma tem. Por isso, estou muito interessada.

Carey: Amo a maneira pela qual você explicou isso, Mil. É uma grande verdade. Quando as pessoas perguntam se eu gostaria de continuar fazendo o papel, eu sempre penso que não sei. Acho que não teria capacidade para isso.

Mas vou ser honesta: é estranho entregar um personagem que é tão pessoal. Como atrizes, nós colocamos muito de nós mesmas nas pessoas que representamos. Portanto, é estranho ter que deixar a história de alguém no meio do caminho.

Ao mesmo tempo, a sensação não é a de que ficou inacabada, porque está sendo entregue a alguém obviamente incrível, Olivia. Vai ser muito legal —e estranho— assistir à série como espectadora, sem criticar meu próprio desempenho, e apenas curtir o que estou vendo e apreciar o programa pelo que ele é.

Vocês sentem que havia uma tensão romântica ou sexual sublimada entre Rhaenyra e Alicent?
Carey: Porque sou "queer", eu detectei um traço disso no roteiro, que achei que poderia ser enfatizado. Mas, tendo dito isso, não acho que Ryan Condal [um dos criadores e showrunners da série] escreveu um drama lésbico. Se você quiser ver esse lado, ele é perceptível. Se quiser fingir que ele não está lá, também pode fazê-lo.

O problema é que aquelas garotas não sabem o que significa "platônico" ou "romântico" –nem o que as palavras significam e nem o que são os sentimentos que elas descrevem. Existe só uma proximidade entre duas mulheres jovens que não pode ser verbalizada, especialmente no mundo em que vivem. Acho que elas não entendem totalmente o sentimento: é um amor devorador.

Há um ciúme subjacente que eu detectei, especialmente por conta do episódio quatro. Havia uma cena em que estávamos sentadas em um banco, e é a primeira vez que elas se reconectam depois de perder a proximidade que tinham. Lembro-me de que, no ensaio, no momento final da cena, nós meio que perguntamos uma à outra se "você também sentiu que estávamos para nos beijar?"

Alcock: E eu respondi: "Sim!"

Carey: Sim, cara, parecia que íamos nos beijar. Foi muito estranho.

Não fizemos nada para tornar a cena gay, ou para forçar o "lado gay". Pareceu muito natural. Como eu disse, é fácil de ignorar se você realmente não quer olhar para isso. Mas se você está torcendo por elas e quer tornar a história ainda mais desoladora, é algo em que você pode reparar.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci