Cinema e Séries
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'The Man Who Fell To Earth' retoma universo de filme com David Bowie

Série da Paramount+ traz Chiwetel Ejiofor como alienígena em missão na Terra

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São Paulo

David Bowie (1947-2016) já havia criado Ziggy Stardust, seu astro do rock de outro mundo, quando foi convidado para interpretar outro alienígena. Em 1976, Thomas Jerome Newton chegava à Terra com o objetivo de salvar seu planeta natal, Anthea, no filme cult de ficção científica "O Homem Que Caiu na Terra".

Em 2022, é outro extraterrestre que aterrissa por aqui para completar essa missão na série "The Man Who Fell To Earth", cujo primeiro episódio está disponível desde a última segunda-feira (25) no serviço de streaming Paramount+. Novos capítulos serão lançados semanalmente, sempre às segundas.

O elenco é encabeçado por Chiwetel Ejiofor (indicado ao Oscar por "12 Anos de Escravidão"). O ator interpreta Faraday, um alienígena que tenta se adaptar aos hábitos dos humanos enquanto completa sua tarefa por aqui.

"Eu me sinto como um alienígena com frequência", disse Ejiofor a jornalistas durante evento da associação americana de críticos de TV (TCA, na sigla em inglês), que o F5 acompanhou. "Acho que é por isso que as pessoas poderão se conectar com o meu personagem. Ele representa muitos de nós na forma como interage, sente e no sentido do isolamento."

"Muito do que está acontecendo, tanto no planeta dele quanto por aqui, está fora do controle dele", continua. "Nós nos envolvemos com isso também, com essa impotência e com o fato de ele estar tentando fazer alguma coisa. É por isso que nós torcemos para ele completar sua missão. Tudo isso é parte da experiência humana."

Como não tinha alguém em quem se inspirar, ele diz que buscou estímulo na própria experiência. "Já vimos alienígenas sendo interpretados por outras pessoas muito bem, mas eu não queria repetir isso", conta. "A única coisa que eu podia fazer era internalizar esses sentimentos e tentar entendê-los."

Ele exemplifica com uma situação em que se sentiu assim. "Quando estava começando a estudar para virar ator e percebi que queria trabalhar com artes, me senti muito excluído no começo", revela. "Esse sentimento de estar em um lugar que não te pertence certamente foi algo que revivi interpretando o Faraday."

Na trama, o alienígena chega à Terra sem saber se comunicar, mas aprende a falar rapidamente. Em cenas de flash forward (que mostram o personagem no futuro), é possível ver que ele se tornou um grande orador e um influente empresário —à la Steve Jobs.

"Ele passa por toda uma jornada, é isso que estamos testemunhando", avisa. "Acompanhamos essa evolução durante a série, porque ele desenvolve cada vez mais a linguagem falada e as nuances humanas, bem como as dinâmicas de interação social."

"O desenvolvimento dele como humano é muito multifacetado e parte central da história", diz. Para o ator, esse foi justamente um dos maiores atrativos do papel: "Havia muita variedade, ele incorpora muitas personas ao longo de sua trajetória".

Apesar de estar vivendo um alienígena diferente, o ator conta que o filme de Bowie foi outro fator que o atraiu para a série. "Eu me senti completamente envolvido por ele", lembra. "Assim como todo mundo, a primeira vez que vi esse filme, há muito tempo, não conseguia tirar os olhos de David Bowie. Ele é um homem muito especial."

Um dos criadores da série, Alex Kurtzman, diz que não só o longa dirigido por Nicolas Roeg serviu de inspiração, mas também o livro original, lançado por Walter Tevis (de "O Gambito da Rainha") em 1963. "É uma obra extraordinária em diversos níveis", elogia.

"É um livro de ficção científica no qual a ficção científica fica de lado", comenta. "Trata-se de uma exploração profunda da solidão. O autor estava lutando contra os próprios demônios quando o escreveu e se sentia extremamente alienado, de forma que o Thomas Jerome Newton é uma versão obscura dele mesmo. Acho que é por isso que é tão poderoso, detalhado e cheio de nuances."

Ele avisa, no entanto, que a série é uma obra nova. "Sentimos que era importante achar um jeito de reinterpretar os temas e ideias que estavam vivas e respirando nesses dois belos objetos criativos", conta. "O mais incrível nas questões colocadas por eles é que elas são atemporais, são perguntas que todo mundo precisa se fazer: como chegamos até aqui e o que vamos fazer agora?."

Jenny Lumet, que assina com Kurtzman a criação e o roteiro da série, diz que é exatamente o que ambos estavam se perguntando quando resolveram apostar em uma continuação do filme, 45 anos depois de seu lançamento. "Estamos sozinhos? Ansiosos? Ainda estamos conectados com nós mesmos? E com as nossas famílias e amigos? Será que a distância que um alienígena precisa percorrer para vir de outro planeta é maior do que a que existe entre nós e nossos próprios corações?", filosofa.

"Essas questões pareciam muito poderosas no momento atual", conta. "Não foi uma série fácil de escrever. Mas tentamos aplicar no que fizemos a curiosidade e a coragem emocional que David Bowie injetou no que ele fez."

Para Kurtzman, a trama é uma grande metáfora. "Faraday, como alienígena, se torna um prisma pelo qual enxergamos a nós mesmos", comenta. "Toda experiência para ele é a primeira. Ele é como uma criança que come o primeiro pedaço de bolo de aniversário ou olha pela primeira vez para o céu ou puxa o ar pela primeira vez. Como tudo para ele é pela primeira vez, tudo é reduzido à sua maior simplicidade e essência."

Se isso será suficiente para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de mudanças na forma como vivemos, é impossível prever. "Não temos uma bola de cristal para saber como salvar a humanidade", diz Chiwetel. "Já participei de debates acalorados sobre o que vai ocorrer com as mudanças climáticas e com o nosso futuro. Não temos como saber com precisão o que o futuro nos reserva."

"O mais legal desse personagem é que ele não dá lição de moral", avalia. "Ele simplesmente está dizendo que, de onde ele vem, foi isso o que aconteceu. Vocês podem seguir na direção que quiserem. Acho essa uma forma profunda e interessante de olhar para os problemas da humanidade."