Rodrigo Sant'anna se inspirou na mãe o 'infernizando' para criar nova série
Humorista leva humor escrachado para a plataforma em 'A Sogra que te Pariu'
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Durante a pandemia, uma mulher simples, moradora da zona norte do Rio, se muda para a casa do filho, na emergente zona oeste da cidade. O que deveria durar apenas algumas semanas, acaba se prolongando indefinidamente, com muitas confusões surgindo a partir dessa convivência forçada com a família.
Esse é o enredo de "A Sogra que te Pariu", primeira comédia estrelada por Rodrigo Sant'Anna, 41, na Netflix, que estreia nesta quarta-feira (13). O humorista, que fez carreira na Globo e tem alguns dos maiores sucessos de público do canal pago Multishow, leva para a plataforma de streaming o humor escrachado pelo qual é conhecido.
"Ai, cansei de Brasil (risos)", brinca o ator, que vive a protagonista, dona Isadir, e também criou a atração, em entrevista ao F5. "Por muito tempo, eu desejei, lá atrás, no meu passado, estar na Globo, mas em algum momento eu já tinha despertado o interesse pela Netflix."
"Quando rolou esse namoro nosso, acabei realizando esse outro objeto de desejo da minha carreira", afirmou ele, que em princípio segue com projetos como o "Tô de Graça", no Multishow. "Ou seja, é o melhor dos mundos para mim."
Para o novo programa, Rodrigo diz ter se inspirado na própria mãe, Ana Lúcia Sant'Anna. "Durante a pandemia, a minha mãe foi morar comigo e com meu marido [o roteirista Junior Figueiredo] e aí teve um momento que meu marido falou: 'Cara, não estou aguentando mais a tua mãe'."
Rodrigo não tira a razão do marido. "Minha mãe é uma mulher muito expansiva, fala alto", entrega. "Teve um momento que meu marido botou uma placa de 'Por favor, não atrapalhar' na porta do escritório dele."
Isso por conta das situações cotidianas que iam se acumulando. "Teve um dia que ela gritou: 'Junior, o almoço está pronto!'. 'Tá bom, já vou.' Só que ele não descia e ela continuava: 'Junior, o almoço! Juuuuniooooor!'. Ele falou: 'Ana, pelo amor de Deus, estou no meio de uma reunião, daqui a pouco eu vou. Então às vezes um almoço virava uma questão."
Essas pequenas coisinhas é que serviram de inspiração para a criação da série. "Eu comecei a observar essas situações do nosso cotidiano, sou muito observador", conta Rodrigo. "E aí foi um prato cheio para a gente pirar e fazer 'A Sogra Que Te Pariu'."
"Sem dúvidas, eu agradeço minha mãe por ter ficado quase um ano lá em casa infernizando a nossa vida (risos)", brinca. "E ela foi com a minha avó, tá? Não era só a minha mãe, era minha mãe e minha avó."
O criador diz acreditar que o humor da série poderá ser compreendido fora do país, já que a produção estará disponível nos diversos países em que a Netflix está presente. "Eu acho que a sogra e a mãe que foi morar com a família, independente de ser uma família homoafetiva ou uma família heterossexual, são situações universais", avalia. "Em qualquer lugar, em alguma extensão, todos viveram isso durante a pandemia de alguma maneira. Faço votos de que sim [o humor seja entendido]."
As gravações foram realizadas em estúdio com plateia, no estilo sitcom. Trata-se da primeira produção do gênero que o serviço de streaming produz no Brasil.
"Nossa, quando a gente voltou a gravar com plateia eu chorei no primeiro dia", relata Rodrigo. "A plateia é uma ligação tão imediata para quem faz comédia. Pelo menos, para mim. É uma resposta imediata do que está funcionando e do que não está."
"Eu já vi muita gente falando que a plateia é um combustível em um lugar meio clichê, mas para mim é real o quanto eles vão te potencializando", afirma. "Você fica a fim de fazer para essas pessoas, sabe? Quando você está no estúdio, as pessoas da técnica são sempre mais profissionais e mais frias. 'Já faço isso todo dia, ela vai contar essa piada de novo?' E parece que o público tem essa generosidade, então assim para mim a plateia é algo fundamental para esse formato."
Sobre a caracterização para viver dona Isadir, Rodrigo diz que demorava entre 40 e 50 minutos para ficar pronto. "Acho que colar a peruca era o mais complicado de fazer", comenta. "Na verdade, é o mais chato", corrige. "O momento que já acabou toda a cara, que faz a crosta para esconder a minha barba, quando vai colar a peruca, para mim é a pior parte."
Ele diz que esse tempo que gasta se transformando na personagem não é tranquilo. "Eu sou muito agitado, então tipo já fico balançando perna", conta. "A Manu, que faz a minha caracterização, é supertranquila e fica: 'Calma, pelo amor de Deus'. E eu fico: 'Vai, vai, vai'."
Isadir se une a uma ampla galeria de personagens femininas na galeria de Rodrigo Sant'Anna. Ele estourou nacionalmente como a Valéria Vasques, do extinto Zorra Total (Globo), mas também já deu vida a Adelaide, Maria da Graça, Carol Paixão, alguns de seus maiores sucessos.
Rodrigo explica o porquê dessa predileção. "Porque são meus ícones, são as minhas mulheres", afirma. "A minha história é muito baseada [em mulheres]. Eu fui criado lá no Morro dos Macacos [comunidade da zona norte do Rio] pela minha madrinha, uma mulher extremamente generosa porque minha mãe não tinha com quem me deixar. Ela trabalhava fora e a minha madrinha me acolheu na família dela e eu admiro muito essa mulher."
"Aí vem a minha mãe, que é uma mulher extremamente forte, minha avó, que veio da Bahia", enumera. "Ela tem 10 filhos, veio de caminhão, fez a minha mãe com o caminhoneiro que a trouxe. Então são histórias tão ricas que eu acabo sempre tentando focar nas histórias das minhas mulheres", conta.
Essas histórias acabam aparecendo em sua obra, mesmo quando ele tenta fugir. "De alguma maneira, quando eu vejo, está lá: 'Ih, era a história da minha avó'."