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Foo Fighters faz seu próprio filme de terror 'Studio 666': 'Por diversão'

Vocalista David Grohl cogita continuação com outras bandas

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Sara Aridi

Nas três décadas desde que David Grohl se tornou um astro do rock, ele gravou com Stevie Nicks e Paul McCartney, dirigiu documentários, tocou para presidentes e foi admitido, duas vezes, ao Hall da Fama do Rock.

Mas no último dia 25 de fevereiro, ele trouxe uma estreia inédita nos Estados Unidos: o Foo Fighters lançou "Studio 666", uma comédia de terror dirigida por BJ McDonnell ("Terror no Pântano 3"), e estrelada... pelos Foo Fighters. Por quê? "Por diversão", disse Grohl em uma recente entrevista por vídeo. "Jamais foi nossa intenção entrar no jogo de Hollywood com um grande filme de terror. Foi algo que simplesmente aconteceu". No Brasil será exibido nos cinemas nos dias 19 e 20 de março

No filme, que também tem no elenco Whitney Cummings, Will Forte e Jeff Garlin, os membros da banda se mudam para uma mansão, onde Grohl de fato viveu no passado, para trabalhar em seu 10º álbum. Mas compor as canções é um desafio. Na esperança de escapar de sua crise de criatividade, Grohl perambula pela casa e descobre um segredo que o torna muito criativo –e sedento de sangue.

O filme estava em produção desde 2019, mas o projeto foi interrompido por conta da pandemia do coronavírus. Não é provável que o trabalho acumule muitos prêmios. "Não estamos encomendando smokings para a festa do Oscar", disse Grohl –mas há bons momentos de rock pesado e sangue.

Falando de seu estúdio caseiro em Los Angeles, com uma xícara de café nas mãos, Grohl discutiu a realização do filme, discorreu sobre suas ideias quanto ao rock e falou de um novo álbum. Abaixo, trechos editados da conversa.

Por que você decidiu fazer um filme?
Três anos atrás, um amigo foi a uma reunião em um estúdio de cinema e nosso nome foi mencionado. Eles disseram que sempre tiveram vontade de fazer um filme de terror com o Foo Fighters. Ele me mandou uma mensagem de texto e eu respondi que aquela era a ideia mais idiota que já tinha ouvido, e achei que nada sairia daquela proposta.

Estávamos compondo para o nosso último álbum. Normalmente, quando estamos preparando um disco, eu trabalho no meu estúdio caseiro ou vou a um estúdio especializado em demos [gravações de demonstração] e trabalho sozinho, só compondo melodias e partes instrumentais. Por isso, comecei a procurar por casas para alugar onde pudesse construir um estúdio temporário. Ao mesmo tempo, um cara de quem eu aluguei uma casa 10 anos atrás me mandou um email perguntando se eu queria comprar um imóvel. Eu respondi que não, mas que, se pudesse alugar a casa, seria ótimo.

Comecei a compor e a gravar lá, e a mandar demos ara o nosso produtor, e ele disse que "o som parece ótimo. Vamos gravar aí mesmo". Por isso comecei a pensar que seria interessante fazer um filme de terror naquela casa velha e soturna. Esse conceito apareceu em minha cabeça e eu falei com a banda a respeito, e todo mundo riu. E a ideia disparou, a partir disso. Nunca imaginamos que terminaríamos fazendo um longa.

Você é fã de filmes de terror?
Não sou um aficionado. Mas quando era pequeno assisti a muitos dos clássicos, e amava. Lembro-me de ter lido o livro "Amityville Horror" em 1979 e de depois assistir à adaptação para o cinema, "Horror em Amityville". E cresci no subúrbio de Washington, onde "O Exorcista" foi filmado. Eu era obcecado por aquela casa, aqueles degraus. Era lá que o pessoal que curtia punk rock se reunia na década de 1980. Sentávamos naqueles degraus e tomávamos cerveja.

"Studio 666" também é um filme de banda, e não parece haver muitos desses no mercado. Qual é a razão para isso, em sua opinião?
Não sei. Cresci assistindo a filmes de rock. "Kiss Contra o Fantasma do Parque". Os Ramones em "Rock ’n’ Roll High School". Eram filmes que funcionavam bem sem grandes astros de cinema, com um elenco jovem. Acho que a banda tem que não só estar disposta a fazer o filme como estar disposta a zombar de si mesma. E isso é algo que fazemos há 26 anos, e por isso o filme é só uma espécie de versão mais longa de zoar a ideia de ser uma banda de rock. Falamos sobre uma continuação e sobre como o conceito do "Studio 666" poderia ser transferido de banda a banda. Será que o Coldplay faria um filme de terror? O Wu Tang Clan? Seria maravilhoso.

Você escreveu em suas memórias que viveu por algum tempo em uma casa que achava ser mal-assombrada. Tinha essa história em mente enquanto estava fazendo o filme?
Não acho que aquilo tenha influenciado a ideia do filme. Mas a casa era com certeza mal-assombrada. Antes de morar lá, eu nunca tinha me fascinado com atividades paranormais. Mas depois, passei a acreditar que esse tipo de coisa possa existir. Mas também me lembro de ter pensado, tudo bem, estou dividindo a casa com um fantasma. Ele vai me matar? Não. As luzes se acendem sem motivo de vez em quando, e ouço passos à noite? Sim. Já dividi a casa com pessoas piores.

Como na maioria das bandas, houve tensões dentro do Foo Fighters no passado. Isso inspirou a trama? Não, não inspirou. Mas a roteirista veio passar algum tempo conosco enquanto estávamos gravando ("Medicine at Midnight", o 10º disco da banda), para sentir como era a dinâmica. Ela exagerou bem o que viu. Como qualquer banda, somos parecidos com uma família. É um relacionamento que oscila à beira do desastre em todas as situações criativas, porque existe uma vulnerabilidade, uma insegurança. Não é fácil fazer parte de uma banda por 26 anos. Apesar de tudo por que passamos, não acho que nenhum de nós teria vontade de matar outro integrante. Nós amamos uns aos outros demais para isso.

O filme brinca com o rock em geral, mas zomba especificamente de você: você está travado e não consegue compor, Lionel Ritchie grita com você. Foi divertido?
Há um monte de clichês no filme. É parte "Horror em Amityville", parte "O Iluminado", parte "Uma Noite Alucinante". Do lado musical, há o vocalista controlador, que tortura a banda, os problemas de bloqueio criativo. O clichê mais engraçado, eu acho, é a história de bater palmas na sala de controle. Sempre que um engenheiro ou produtor entra numa sala, ele bate palmas para sacar a acústica. Estou aqui para dizer que isso é uma [palavrão] bobagem. Não faz diferença alguma.

Você tem uma cena favorita?
Gostei da cena na mesa redonda com Jeff Garlin. Improvisar diálogos, tomada após tomada, a sensação era a de que estávamos em "Segura a Onda".

Houve acusações de que Jeff Garlin se comportou de maneira inapropriada no set de "The Goldbergs". Como foi trabalhar com ele?
Jeff curte música, de verdade. Por isso, a maior de nossas interações, longe das câmeras, era falar das bandas que ele ama. Não estou informado sobre qualquer outra coisa. Nós ficávamos lá sentados falando do Wilco o dia todo.

Há uma cena em que o seu empresário diz que o rock deixou de ser relevante há muito tempo, e que precisa de uma infusão. Você concorda com essa afirmação? E, se concorda, o que poderia revitalizá-lo?
Acredito que ela seja parcialmente verdade. Não acho que o rock precise de mais Satanás, mas acho que precisa de uma nova revolução puxada pelos jovens. Minha filha mais velha tem quase 16 anos. Estou acompanhando a descoberta da música por ela, e suas primeiras composições. A resposta está aí.
Acho que a próxima grande revolução do rock não será nem um pouco parecida com o que quer que tenhamos visto antes. Mas virá. Há muita coisa a apreciar, nesse tipo de música. Eu descubro um novo artista favorito a cada semana, e por isso não dá para dizer que o poço secou.

Em 2021, você lançou dois álbuns, um documentário, uma série documental, um livro de memórias, alguns singles e fez uma turnê. Qual é a sua motivação para fazer tanta coisa?
O café. [Sorriso.] Não, na verdade eu aprecio as oportunidades que tenho. Aprecio as pessoas que tornam essas ideias ridículas possíveis, e me cerco de pessoas que têm uma energia parecida. E odeio férias. Sou como um tubarão. Se eu parar de nadar, morro. Você sabe o que estou fazendo agora? Gravando o disco perdido da banda Dream Widow, do filme, como as gravações de "A Bruxa de Blair".

A canção principal do filme vai estar nele?
É uma obra instrumental louca. Cresci ouvindo heavy metal, e por isso comecei a aceitar a influência de algumas de minhas bandas favoritas. Em termos de metal, é um bom disco.

Quer dizer que você foi de covers dos Bee Gees ao heavy metal.
Que presente você pode dar a um cara que já tem tudo?

Certo. Você tem mais alguma coisa planejada?
Sim... você verá.