Shemar Moore diz que 'S.W.A.T.' é mais que 'caras legais perseguindo vilões'
Para ator, série ter 'consciência social' não atrapalha o entretenimento
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"Todo mundo quer ser um super-herói, seja o Homem de Ferro, seja o Homem-Aranha, o Thor ou o Batman", diz Shemar Moore, 51, em conversa com veículos de imprensa da América Latina, da qual o F5 participou. Mas o ator não está estrelando um novo filme da Marvel ou da DC, a comparação é para falar do policial Hondo da série "S.W.A.T.".
No Brasil, a produção tem feito sucesso com exibições no canal pago AXN (primeira temporada) e na Globo (segunda temporada). Além disso, as duas primeiras temporadas —nos Estados Unidos, a produção já está em seu quinto ano— estão disponíveis para assinantes do serviço de streaming Globoplay.
"Nós não estamos de capa e collant, estamos falando de heróis da vida real", lembra Moore. "Você persegue pessoas de motocicleta, pula de helicópteros, faz rapel na fachada de edifícios e luta bastante. E eu que faço tudo isso acontecer, então fico igual a uma criança que acabou de fazer um gol e está se achando. É muito legal estar na TV e salvar o dia!"
O ator conta que passou por um treinamento rigoroso com agentes da S.W.A.T. na vida real —a sigla em português significa "armas e táticas especiais" e designa unidades da polícia americana que são chamadas para resolver incidentes críticos envolvendo ameaça à segurança pública. Ele conta que chegou a praticar com "um dos caras que derrubou o Bin Laden".
"Quando eu pego um papel, levo muito a sério, não quero só fingir que sei fazer algo, como atirar com uma arma de fogo", explica. "Eu quero que a câmera capte um certo senso de autenticidade. Nunca vai ser uma cópia idêntica dos homens e mulheres que realmente trabalham nisso, mas de certo modo é uma homenagem a eles, então precisamos deixá-los orgulhosos e mostrar ao público o que é estar na pele deles."
Além de ajudá-lo a tornar as cenas mais próximas da realidade, Moore conta que também pôde conversar com muitas pessoas que trabalham em unidades especiais da polícia e militares, o que contribuiu na construção de seu personagem. "Nós sentamos e escutamos eles falarem o que se passa na cabeça deles para poder entregar algo maior do que só caras legais perseguindo vilões", diz.
Mesmo com todo o treinamento, ele lembra que nunca são usadas balas de verdade nas gravações. "[Atirar] é divertido, mas você tem que respeitar, porque não há margem para erros", conta. "Você precisa saber manejar a arma, atirar no alvo e, obviamente, estar seguro e se proteger. Eu entendo o poder que uma arma tem, e que ela pode ser usada para o bem e para o mal."
No set, os atores são acompanhados por Otis Gallop, um ex-membro da S.W.A.T. de San Diego, que é o conselheiro tático da série, mas também faz pequenas pontas quando necessário. "Sempre que estamos gravando qualquer sequência de ação, ele está junto", conta Moore. "Ele faz o sargento Stevens, mas não tem muitas falas."
QUEM FAZ O GOL
O protagonista avalia que o êxito da série mundo afora se deve a uma combinação entre ação e a humanidade dos personagens. "É algo que não importa quem você é, qual a sua cor ou de onde você vem, todo mundo gosta", comenta. "Acho que esses ingredientes é que fizeram de 'S.W.A.T.' o sucesso que virou."
A trama é baseada na série homônima, que também fez sucesso na década de 1970 e também deu origem a um filme de 2003 com Samuel L. Jackson no papel de Hondo (na teoria, o pai do personagem de Shemar Moore).
"Eu lembro de saber que a série existia, mas era muito novo —devia ter uns 7 ou 8 anos—, então acho que estava assistindo ao Scooby-Doo ou ao Gasparzinho", conta o ator. Ele diz que pesquisou mais da série quando ganhou o papel. "Acho que até os dias de hoje ainda dá para considerar uma boa série", avalia. "Talvez seja um pouco exagerada, mas é boa."
Sobre o filme, ele diz que a produção não se aprofunda nos seres humanos que estão por baixo da farda. Também conta que não tentou de forma alguma se aproximar da interpretação dada ao Hondo daquela versão. "Eu não ia tentar imitar o Samuel L. Jackson", ri.
Moore diz que se sente muito à vontade à frente do elenco da série, embora saiba que o todo só funciona porque tem toda uma equipe por trás. "Adoro ser quem faz o gol, por assim dizer", conta. "Quantos homens negros estão protagonizando séries na televisão?"
Com uma carreira de quase 30 anos, iniciada no novelão "The Young and the Restless", ele diz que não foi fácil abrir caminho sendo negro na indústria audiovisual americana. "É um triunfo pessoal —'olha, mãe, eu consegui'—, mas também carrega muita responsabilidade", analisa. "Eu espero que o meu sucesso possa abrir portas para pretos, espero que inspire e mostre às pessoas que é possível."
O ator também conta que leva muito a sério a missão de mostrar como os negros são tratados pela polícia nos Estados Unidos. "Nem todos os policiais são perfeitos", argumenta. "Nós retratamos homens e mulheres policiais e o que está ocorrendo no país e no mundo, inclusive a violência policial."
"Quando o George Floyd foi assassinado, eu sentei com meus produtores e roteiristas e falei que não poderíamos ignorar aquilo", revelou. "Não podíamos ir para a TV enquanto pessoas negras eram mortas sem razão e comigo interpretando um policial, que é a categoria que estava sendo questionada e examinada com lupa naquele momento, sem falar sobre aquilo. Não era questão de dizer o que é certo ou errado, mas minimamente mostrar às pessoas o que estava acontecendo."
Para ele, o fato de a série ter "consciência social" não atrapalha o entretenimento. "Somos uma série de ação, mas também tentamos mostrar que todos os seres humanos importam", diz. "Eu adoro conseguir fazer isso por meio da minha arte. Os momentos de que mais me orgulho da série são os que falamos sobre temas como esses, porque eles realmente importam."
Moore diz que cresceu em um lar inter-racial e que, como ator, tenta não se limitar. "Quero que as pessoas vejam além da cor da minha pele, além da superfície", explica. "Sou um homem preto que não quer fazer só papéis para pretos, quero ser um homem preto que conta qualquer história humana."
Nesse sentido, ele também deu vida ao intrépido agente do FBI (a polícia federal americana) Derek Morgan de "Criminal Minds" (2005-2020). "Era uma série incrível, muito adulta e extremamente cerebral", recorda. "Aprendi muito sobre o comportamento humano e o que faz as pessoas irem para um lado obscuro enquanto fazia esse personagem tentava proteger os inocentes e buscar Justiça."
Para ele, as duas séries têm algo em comum: ambos os personagens têm um pano de fundo, uma história prévia que vai sendo mais conhecida ao longo do tempo. "É como ir tirando as camadas de uma cebola", compara.
"Nunca quis ser um herói perfeito, que não tivesse a sua criptonita", diz, referindo-se à substância que é o ponto fraco do Super-Homem. "Ter essas histórias para me debruçar é o que me faz continuar motivado e o que faz um personagem continuar sendo interessante para mim a longo prazo."