Em 'O Culpado', Jake Gyllenhaal contracena só com as vozes dos colegas
Ator conta como foi fazer filme com atores que encontrou apenas pelo Zoom
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Jake Gyllenhaal, 40, já precisou ligar algumas vezes para o 911 (o número de chamadas de emergência nos Estados Unidos). "Mas nunca teve uma situação em que precisei lidar com alguém como o Joe Baylor", brinca, referindo-se a seu personagem no filme "O Culpado", que estreou neste mês na Netflix.
Na produção, ele interpreta um detetive da polícia de Los Angeles que foi suspenso e, por isso, está trabalhando como operador numa central que recebe os mais variados chamados, do homem que caiu da bicicleta e não sabe se quebrou algo ao jovem roubado por uma prostituta que abordou na rua. Até que uma ligação em particular chama sua atenção.
Trata-se de uma moça que começa a falar com ele como se tivesse ligado por engano para a filha. Ele percebe que ela está na presença de um agressor e, bem-intencionado, começa a fazer de tudo para salvá-la do que parece ser um sequestro.
Em entrevista exclusiva ao F5, o ator americano falou sobre a adaptação que fez do dinamarquês "Culpa", de Gustav Möller. O longa chegou a ser indicado pelo país de origem como concorrente ao Oscar de filme estrangeiro de 2019 (atualmente a categoria se chama filme internacional), mas não ficou entre os cinco finalistas.
O ator conheceu a produção no festival de Sundance, onde ela recebeu o prêmio do público em 2018. "Eu senti imediatamente que era algo de que queria fazer parte", conta. "É como quando você vê um ator no palco interpretando um papel clássico ou algo do tipo e pensa: 'Eu gostaria de tentar algo assim, esse parece um universo interessante'."
Foi o próprio Gyllenhaal quem decidiu adquirir os direitos da obra para o remake —além de estrelar o filme, ele também assina como produtor. Ele diz que entrou em contato com Möller e que os dois acabaram virando grandes amigos —atualmente, eles trabalham juntos em um filme baseado na graphic novel "Snow Bling".
"Havia o desejo dele de me deixar tentar fazer a adaptação", lembra. "Nós pensamos muito parecido e ele me contou que, quando estava preparando 'A Culpa', usou como referência quatro fotos de mim em outras produções. Foi uma troca curiosa a nossa, porque ele já era meu fã de longa data e eu virei fã dele."
Apesar de conhecer o serviço como usuário, o ator também foi visitar uma central de atendimento de emergências para entender seu funcionamento. "Foi uma experiência interessante porque são pessoas que de repente estão conversando com alguém que está tendo o pior dia da vida", comenta.
Ele diz que ficou particularmente impressionado com um aspecto sobre o qual nunca havia pensado antes. "Na maioria dos casos, os operadores nunca ficam sabendo qual foi o final daquela ligação que receberam", aponta. "Não tem resolução. Acho muito difícil de lidar, você vai todos os dias para casa sem saber se ficou tudo bem."
O filme se passa quase todo na sala de operações, com Joe Baylor interagindo com os demais personagens apenas por telefone. Gyllenhaal passa particamente o tempo todo em tela, enquanto boa parte do elenco não é visto —apenas as vozes são ouvidas.
O ator, no entanto, diz que a experiência no set não foi tão estranha quanto se pode imaginar. "De muitas formas, quando estamos falando de atores são talentosos como esses, não fazia diferença [eles não estarem no mesmo ambiente]", afirma. "Eles estavam presentes e a par de tudo."
Entre as vozes ouvidas, estão as de Riley Keough, no papel da moça que liga para a emergência, e Peter Sarsgaard (cunhado do ator), como o ex-marido dela. Para fazer as respectivas participações, eles eram conectados por videoconferência no aplicativo Zoom e interagiam em tempo real com o protagonista.
Para fazer tudo dar certo, cada um tinha que saber os tempos exatos em que deveria dar suas falas, e tudo era ensaiado no começo do dia, antes de começar a rodar. O entrosamento do elenco foi o que ajudou. "Eu já tinha trabalhado com algumas pessoas, e com outras quero trabalhar sem ser só pelo telefone", comenta. "Foi um processo interessante."
O ator explica que as gravações ocorreram em outubro de 2020 (com duração de apenas 11 dias), quando a pandemia de Covid-19 estava em um de seus piores momentos. "Naquela época, a gente não estava interagindo com ninguém, estávamos todos em pequenas bolhas ou sozinhos", lembra. "Então eu estava muito grato só de estar com uma equipe fazendo o meu trabalho."
Elogiado pela performance, Gyllenhaal explica como as camadas do roteiro, que vai desvelando novas informações sobre os personagens a todo momento, e a entrega dos colegas, mesmo à distância, o ajudaram.
"Como ator, obviamente eu já sabia o que ia ocorrer, mas honestamente fiquei tão surpreso quanto o público em alguns momentos", afirma. "Os meus colegas captaram muito bem as mudanças que ocorrem em momentos-chave que eu não quero entregar para não estragar para quem não viu o filme ainda."
Na trama, a ligação e todos os seus desdobramentos acabam transformando Joe Baylor. Assim como para o operador do 911, o ator diz que seu principal aliado nesse trabalho foi a escuta. "Eu sabia desde o começo que precisava ouvir com muita atenção para poder reagir, e que assim as coisas iriam ganhar vida. Foi isso que eu tentei fazer."