Como o elenco do novo musical 'Querido Evan Hansen' encontrou sua voz
Filme reúne atores experientes e amadores na arte de cantar
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Quando você está fazendo um musical de cinema, é provável que procure atores que, bem, saibam cantar. Esse é um truísmo que pareceria se aplicar a “Querido Evan Hansen”, adaptação de um musical da Broadway premiado com o Tony, com música de Benji Pasek e Justin Paul.
O papel principal ficou com Ben Platt, como um adolescente que sofre de ansiedade social e perpetua uma mentira que lhe conferiu uma dose bem-vinda de popularidade.
Mas quando os realizadores de “Querido Evan Hansen” estavam montando seu elenco, não começaram necessariamente por uma lista dos cantores mais conhecidos de Hollywood.
Como disse o diretor do filme, Stephen Chbosky, em uma entrevista recente, “eu na verdade não tento escalar atores. Tento escalar pessoas. O que procuro é uma qualidade quase invisível, eles como seres humanos. Encorajo cada ator a deixar sua marca no personagem e a contar um pouco mais da verdade”.
O resultado é um elenco com origens muito diversas e experiências igualmente distintas em termos de cantar diante de uma plateia; alguns vêm fazendo isso a vida inteira, outros morrem de medo, e ainda outros gostariam de ter a oportunidade de fazê-lo com mais frequência.
Abaixo, cinco das estrelas de “Querido Evan Hansen” falam sobre como aprenderam a amar o som de sua própria música.
Julianne Moore
Ainda que o público tenha visto Julianne Moore cantar alguns compassos em “Magnólia” e um par de rocks em “Pelos Olhos de Maisie” (e dublar os vocais operísticos de Renée Fleming em “Bel Canto”), ela não cantava com tanto gosto diante de uma plateia desde que participou de uma produção escolar de “The Music Man”.
Por isso, quando foi convidada para um teste como a mãe de Evan, cujo terno número solo, “So Big/So Small”, pode ser considerado como a culminação do musical, ela ficou compreensivelmente preocupada. Mas trabalhar em estreito contato com instrutores de canto e a equipe do musical bastou para lhe valer o papel e atenuar sua ansiedade —até que chegou a hora de filmar sua grande canção.
Naquele dia, disse Moore, “achei que ia engolir minha própria língua. Fiquei com medo disso, de verdade. Porque era um momento aterrorizante. Um dos operadores de câmera do filme, um cara realmente bacana, depois da cena comentou que, ‘nossa, parece ter sido difícil’”.
O sinal mais claro de que Moore se saiu bem foi o comentário que ela ouviu do marido, o cineasta Bart Freundlich, depois que ele viu uma versão inicial do filme. Moore conta que “meu marido foi comigo ver o filme, e meus filhos, a namorada do meu filho —fui com uma turma. E meu marido disse que estava muito aliviado. Ele comentou que, do jeito que eu falava daquela canção, ele estava preparado para algo realmente horrível”.
Amy Adams
Mesmo os fãs mais dedicados de Amy Adams provavelmente não devem ter testemunhado o começo de sua ascensão profissional em musicais semiamadores como a produção do Boulder’s Dinner Theatre para “A Chorus Line”, na qual ela interpretava Kristine.
Adams explicou que Kristine “era a menina que não conseguia cantar, e isso me deixava nervosa, porque eu achava que as pessoas iam pensar que eu não sabia cantar”. Quando começou a encontrar oportunidades no cinema, Adams disse que não havia muitos papéis em filmes musicais –e que não muitos deles estavam em produção.
Mesmo para seu papel como Giselle em “Encantada”, um musical da Disney, Adams disse que não foi procurada inicialmente por sua competência como cantora, e que teve de fazer testes antes que “eles me deixassem cantar no filme; eles estavam preparados para contratar alguém para me dublar, mas pedi para me deixarem tentar”. (Ela se preparou ouvindo repetidamente as canções de Kristin Chenoweth no papel de Glinda em “Wicked”, antes de ser informada de que trabalharia com a Elphaba do elenco original daquele musical, Idina Menzel, em “Encantada”.)
Ainda que Adams saiba que seu papel como uma mãe em luto, em “Querido Evan Hansen”, envolva “não muito canto”, ela ainda assim se preparou cuidadosamente nas semanas anteriores à filmagem.
“Eu canto bastante em karaokês, e conheço os perigos de ser confiante demais”, ela disse. “Sabe quando você tem certeza de que vai arrasar em uma música e aí descobre que fez o contrário disso? Pois é, eu sei".
Ben Platt
Vindo de uma família do show business (seu pai, Marc Platt, é o produtor do filme), e acostumado aos palcos desde criança, Ben Platt jamais vacila em sua fé no poder da música. Bem, talvez exceto naquela ocasião, em 2012, quando ele estava cantando no musical de rock “The Black Suits” e se sentia estressado com o regime rigoroso que precisava seguir para manter sua voz.
“Passei por um breve momento em que pensei que aquilo tudo era insuportável, e seria melhor só interpretar, sem cantar, muito mais fácil e menos estressante”, disse Platt. “Mas isso passou em mais ou menos 30 segundos”.
Quando ele interpretou Evan Hanson na produção original da Broadway, Platt se dedicou completamente ao papel —tanto que não se permitiu nem mesmo um dia de folga nos primeiros meses da temporada. E então ele teve uma hemorragia e um pólipo nas cordas vocais.
“Tive de me tratar mantendo completo silêncio, me comunicando por escrito e tomando remédios. Foi um recado do meu corpo, me avisando que não sou super-herói”. Mas na versão cinematográfica, Platt disse que sentiu prazer em poder gritar bem alto (nos momentos apropriados para seu personagem), sem precisar reproduzir aquele volume em apresentação após apresentação.
“Evan é um personagem muito meigo, e ele precisa de muito tempo para sair de sua concha”, disse o ator. “Mas nas poucas vezes em que ele ergue a voz ou grita, eu fiquei menos preocupado com precisar economizar a voz para o canto”.
Kaitlyn Dever
Quando adolescente, Kaitlyn Dever desenvolveu seu gosto musical da maneira tradicional: andando de carro com o pai. “Ele gostava de tocar músicas do The Cure no carro, e eu odiava, odiava quando ele colocava The Cure”, ela disse.
“Agora, é minha banda favorita de todos os tempos, mas eu não entendia a banda quando tinha seis anos de idade e ele estava me levando de carro para as aulas de balé. Agora entendo”.
Ela aproveitou outras conexões familiares, anos mais tarde, quando ela e a irmã Mady criaram uma banda, Beulahbelle —na explicação de Dever, a lógica era que “já somos irmãs, vamos logo montar uma banda”—, e as duas colocaram um par de composições na trilha sonora de “Tully”, filme de Jason Reitman.
Dever foi informada durante uma viagem a Londres de que tinha sido convidada para um teste para o papel de Zoe Murphy, o par romântico de “Querido Evan Hansen”. Por isso, ela diz, “reservei um estúdio para poder cantar sozinha em algum lugar, e não no quarto de hotel, incomodando os outros hóspedes, berrando ‘Requiem’ às duas da manhã porque estou com jet-lag”. Na volta a Los Angeles, ela conquistou o papel.
Amandla Stenberg
Antes de treinar como gladiadora infantil para “Jogos Vorazes”, Amanda Stenberg já tocava violino clássico. “Comecei com o método Suzuki, mas as competições de que eu participava me intimidavam”, recorda Stenberg.
“Havia crianças chorando pelos cantos, crianças com os dedos sangrando. Por isso desisti, por algum tempo”. Felizmente, ela encontrou um novo professor que a ensinou como improvisar no instrumento e, quando chegou ao segundo grau ela já era parte de uma dupla folk chamada Honeywater, embora Stenberg hoje diga, sobre aquele projeto, que “é algo que ficou no passado”.
Depois de colocar algumas de suas composições solo nas trilhas de filmes de que participou, como “O Ódio que Você Semeia”, Stenberg foi abordada para o papel de Alana Beck, a colega de classe muito competitiva de Evan —e para ajudar a compor uma nova canção para o filme, “The Anonymous Ones”, em parceria com Pasek e Paul.
“Fiquei completamente surpresa, claro”, disse Stenberg. “Saí perguntado: 'quem, eu? Vocês devem estar me confundindo com alguém'”. A canção foi criada em conversas via Zoom, enquanto Stenberg estava em Copenhagen e seus parceiros nos Estados Unidos, o que exigiu que trabalhasse durante muitas madrugadas.
“No final daquelas noites, eu costumava estar quase delirando de sono”, disse Stenberg. “Era como uma festa do pijama virtual”.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci.