O ano era 2009. O ator Jeff Daniels, 66, estava em uma livraria de Nova York com seu agente Paul Martino, que leu passagens de um livro do então estreante Phillip Meyer. Tratava-se de "American Rust", que terminou o ano em diversas listas de melhores ficções do ano.

A história mexeu com Daniels, que comprou dos direitos da obra, mesmo sabendo que não poderia adaptá-la imediatamente por causa de outros compromissos profissionais. Quase 12 anos depois, o livro finalmente ganha uma versão em série, que estreia na segunda-feira (13) no serviço de streaming Paramount+ com episódios sendo lançados semanalmente.

Foi ele quem entregou o material para que Dan Futterman, com quem ele trabalhou em "The Looming Tower" (2018), desenvolvesse o roteiro e vendesse o projeto. Martino, que nem é mais seu agente, entrou como produtor executivo, bem como o próprio Daniels.

"De repente, estava recebendo os episódios", conta o ator ao F5 durante bate-papo com a imprensa internacional. "Aí veio a pandemia e tivemos que esperar por um ano. Nesse tempo, deu para terminar de escrever todos os nove episódios, o que é muito melhor para os atores. Tivemos tempo de trabalhar na estrutura da história não só desta temporada, mas de futuras, caso as tenhamos."

Daniels, que tem no currículo personagens que vão do Debi de "Debi e Loide - Dois Idiotas em Apuros" (1994) ao âncora de TV Will McAvoy da série "The Newsroom" (2012-2014), disse que tem se interessado cada vez mais por personagens que o instiguem de modos diferentes.

"Não sou alguém como o Clark Gable, James Stewart, Gary Cooper ou mesmo Tom Cruise, que o público meio que já sabe o que esperar", avalia. "Grandes carreiras foram alcançadas assim ao longo de décadas, mas o que me atrai é trabalhar o personagem, interpretar outra personalidade."

Ele diz que a TV a cabo e mais recentemente o streaming foram libertadores nesse sentido, além do formato seriado. "Com 'American Rust', é como se tivéssemos gravado nove filmes, com começo, meio e fim", compara. "Como ator, isso te dá muito mais opções."

Na trama, o ator vive Del Harris, o chefe de polícia de uma cidadezinha da Pensilvânia, localizada no chamado "cinturão da ferrugem" ao qual o título em inglês faz referência. Trata-se de uma região dos Estados Unidos que sofreu um forte declínio da atividade industrial, o que impactou na vida dos moradores.

"Eu cresci perto de Detroit, de onde grande parte da indústria automobilística se mudou para o México ou para a China", lembra ele. "O mesmo ocorreu com as mineradoras. Quando uma grande empresa como essas vai embora, o que fica para trás não são só os prédios. As pessoas [que trabalhavam lá] ainda existem, ainda têm famílias e sonhos, ainda estão tentando encontrar meios de se manter decentemente e ter uma vida melhor."

Assim é em Buell, onde Harris mora. Os adultos tentam fazer o salário durar até o final do mês, enquanto os jovens só pensam em sair dali. A vida parece passar em câmera lenta, sem muitas emoções. Até que um assassinato muda tudo.

Apesar de aparentemente ser um bom policial, acaba se envolvendo mais do que deveria ao perceber que o filho de Grace, por quem ele é apaixonado, pode ser um dos suspeitos. A personagem é vivida por Maura Tierney, 56, de séries como "Plantão Médico" (1994-2009) e "The Affair" (2014-2019).

"Maura está disposta a pular do penhasco, algo que nem todo ator faz", elogia o colega. "Numa produção como essas, você precisa de parceiros de cena em que possa confiar. Após poucas tomadas, não dava para acreditar no que ela estava fazendo. A série é melhor porque temos dois protagonistas que conseguem se jogar, então todo o resto do elenco segue essa linha."

A atriz confessou ao F5 que não leu o livro que inspirou a série. "Eu queria reagir à forma como ela era descrita nos roteiros", explica. "Preferi abordar a personagem a partir da visão dos roteiristas, em vez da do livro. Foi de propósito, porque houve pequenas mudanças na relação entre Del e Grace. No livro, eles têm menos envolvimento."

Tierney explica que, apesar de os dois personagens terem muito afeto um pelo outro, nada é simples no relacionamento entre eles. "Tem duas coisas que complicam a relação, o filho dela e o trabalho dele", resume. "Não é uma história de amor em que eles se encontram num gramado com flores, o sol está brilhando e os passarinhos azuis começam a cantar."

"Essas pessoas são complexas, têm um passado e estão tentando mais uma vez", avalia. "É complicado, assim como muitas relações ao redor do mundo. Não é uma história de amor como costuma ser mostrada em Hollywood, é uma história de amor real, com muitos obstáculos."

Ela diz que a cidadezinha onde a história se passa acrescenta muito à trama. "Algumas pessoas ali foram deixadas para trás, algumas estão lá para fugir, porque é um lugar onde ninguém vai encontrá-las", antecipa.

A falta de perspectiva dos personagens também é um fator que agrava a ação. "Acho que viver tão perto do limite faz com que apenas um erro possa fazer com que tudo desmorone", diz. "O Billy, filho da minha personagem, é um garoto esperto, talentoso e atlético. Ele entra em uma briga de bar e tudo desmorona."

Ela retribui os elogios do colega Jeff Daniels, dizendo que foi "delicioso" trabalhar com o ator. "Ele é inteligente e engraçado, tem uma presença agradável tanto gravando quando entre as cenas", conta. "Eu sempre podia confiar nele quando estava com alguma dificuldade com a minha personagem. Nós conversávamos e ele me ajudava a dissecar a cena."