Cinema e Séries

Indicado a Oscar pornô, Nego Catra se diz desiludido com filmes e investe em acessório para o pênis

Ator faz palestras sobre sexo e desenvolveu peso para exercícios penianos

São Paulo

Aos 31 anos, o ator Nego Catra já estrelou mais de cinquenta filmes pornôs, ganhou troféu de melhor ator hétero no Prêmio Sexy Hot 2018, e concorre na edição deste ano do ‘Oscar do pornô brasileiro’, que acontece na próxima terça (6), na categoria de melhor cena de dupla penetração, ao lado de Mirella Mansur e Tony Tigrão, em "Promessa é dívida". 

Apesar do extenso currículo, Nego Catra está desiludido com o cinema pornô. A concorrência dos novatos e da pirataria, que derrubou os cachês, levou o ator a buscar novos rumos dentro da indústria. Ele agora é palestrante, coach de sexo e empreendedor —lançou recentemente o Pênis Fit, uma coleção de pesos para exercitar o pênis.

O começo de Nego Catra, nome artístico de Afonso Bispo dos Santos Junior, nos filmes pornográficos foi um tanto por acaso. Ele trabalhava em uma financeira na zona sul de São Paulo e passava os dias na rua, diante da agência, tentando angariar clientes para fazer cartões de crédito e empréstimos. Perto dali, ficava um laboratório clínico onde muitos atores pornôs realizavam os exames médicos exigidos pela indústria para atestar a ausência de doenças sexualmente transmissíveis.

Conheceu Rogê Ferro, astro da indústria que acumulou mais de 2.000 cenas antes de se aposentar. Ferro viu em Afonso a beleza e desenvoltura necessárias para a carreira e fez a ponte com o diretor Marcelo Cavalcanti, da produtora Gostosa Vídeos, para um teste. 

“Foi em 2011. Não foi fácil, tive que dar uma respirada, pegar concentração, tomei Viagra”, conta, antes de completar com uma das muitas lições ao melhor estilo coaching ditas ao longo da entrevista. “Mesmo você tomando algo, se não souber trabalhar sua cabeça, se não tiver concentração, nada funciona. Isso serve para tudo na vida."

Heterossexual, nunca topou cenas gays ou com transexuais. "Muitos me chamam para filmes LGBT, mas para mim ainda não é a hora. Não sei o dia de amanhã, mas ainda não deu vontade."

No começo, escondeu a mudança de carreira da família e dos amigos. Mas o sucesso nas cenas de sexo explícito o levou aos programas de TV para falar dos bastidores de filmagem. Sem ter mais como esconder, chamou a família para contar a sua nova profissão. "Disse que tinha uma coisa a contar e minha mãe logo perguntou: ‘Não tá matando, não tá roubando, não virou estuprador não, né?’ Eu falei: 'Não, pelo amor de Deus’”, relembra Nego Catra, que adotou o nome em homenagem ao Mr. Catra (1968-2018).

Ele conta que teve de explicar à família que aquilo não era prostituição, e sim uma arte. “Sou um ator igual aos da Globo e do SBT. A diferença é que o sexo é explícito. Com os filmes de agora, que tem mais falas, tem roteiro, a gente pode mostrar que é ator de verdade”, defende. 

Nego Catra explica ainda que, mesmo tendo de gozar de verdade em cena, há muita diferença entre o orgasmo diante e fora das câmeras. “Entre quatro paredes, posso fazer o que quiser, posso fazer uma preliminar da forma que a mulher merece, uma penetração sem pressa. No pornô não, você precisa filmar isso e aquilo. Você já sabe o que tem que fazer.”

O ator critica a simplificação e glorificação da indústria pornô, ainda cercada de aspirantes iludidos com a ideia de serem pagos para transar. "Ser ator pornô não é só ficar de pênis duro e penetrar a mulher. Tem que entender que a mulher não é uma boneca inflável. Precisa saber interpretar, saber pegar a mulher na cama de uma forma que o telespectador sinta prazer." 

Esse entendimento da profissão não foi precoce. Por muito tempo, Nego Catra era um personagem interpretado por Afonso e, assim como inúmeros colegas da indústria, tomava remédios para garantir a ereção. Hoje, diz que Afonso e Nego Catra são indissociáveis e a fórmula para garantir o desempenho esperado diante das câmeras está na concentração.

"É questão de energia, espiritualidade, de cuidar da sua saúde. Precisa estar bem contigo, não só no sexo, mas na vida", diz, em mais um dos ensinamentos que parece ter sido tirado das aulas de coaching. 

A lição veio a duras penas. Nego Catra dividia a cena com duas atrizes na Casa das Brasileirinhas, reality show da produtora Brasileirinhas que exibe, pela internet, os bastidores das gravações de filmes. “Foi quando eu brochei ao vivo", conta. 

"Na hora, eu já sabia que não estava bem. Estava um sobe e desce, um vai, não vai. Tentei fazer algo diferente, enquanto as pessoas comentavam no site sobre a minha brochada", relembra. "Mas foi uma noite em que eu pude refletir sobre muita coisa do meu trabalho, o que me fez amadurecer muito."

Hoje, ele usa o episódio em suas palestras sobre “como ser mais que um 'porn star' na cama” como exemplo para que o homem se liberte desse que é tido como um dos piores pesadelos masculinos. "Sempre quis fazer palestras. Depois que fui em alguns programas contar o que aprendi no estúdio pornô, percebi que os homens precisavam aprender o que é sexo de verdade. [...] O homem vê filme pornô e faz o que vê. Vai para a cama, beija a boca, o peito, abaixa a calça e vai para a penetração. É uma coisa que a gente precisa desconstruir", afirma.

Para se preparar para as palestras, faz curso no Instituto Casal Tessarioli –voltado para formação de sexólogos. Lá, diz aprender de tudo, desde a diferença dos gêneros, aos conceitos de sexualidade e como trabalhar o corpo. Ganhou a ajuda da publicitária Paula Aguilar, presidente da Abeme (Associação das Empresas do Mercado Erótico e Sensual), que o conheceu nas feiras de sex shop.  

Nas apresentações, que têm versões para homens, mulheres e casais, ele dá dicas sobre preliminares, sexo oral, masturbação (com direito a aula prática com um pênis de borracha), posições sexuais para sair da rotina e o que mais lhe for perguntado.

Suas palestras duram de duas a três horas e são vendidas para empresas por valores entre R$ 6.000 e R$ 8.000. Já nos filmes ganha, em média, R$ 1.000 por produção. O próximo evento está marcado para 15 de agosto em São Paulo, no sex shop Doce Sensualidade, na Vila Mariana (zona sul).

A questão mais comum entre as mulheres é como fazer o sexo oral. E a dos homens, claro, como fazer o pênis crescer. O que ele responde? “O máximo que vai acontecer é você aprender a retardar a ejaculação e prolongar a penetração. E você não tem só o pênis, tem a mão, a língua, tem muitas coisas."

ACESSÓRIO DE GINÁSTICA PARA O PÊNIS

Não à toa, o outro investimento de Nego Catra é justamente um acessório de ginástica para o pênis. Os pesos, que vêm em versões de 20 a 50 gramas, devem ser amarrados à base do pênis ereto e levantados, como em um exercício para o bíceps. "Queria levar um conceito para o homem. A maioria dos produtos de sex shops é para a mulher. E o que um homem quer hoje? Ele quer demorar a gozar, ficar mais tempo na cama e ficar com o pênis mais ereto”, resume. 

A inspiração veio de seus próprios experimentos com o pompoarismo, técnica para ampliar o prazer sexual através da contração e relaxamento dos músculos do assoalho pélvico. Nego Catra diz que fazia polichinelos nu, de pênis ereto, e colocava pesos improvisados no órgão sexual para garantir um melhor desempenho em cena e atribui a eles o fato de não precisar mais de remédios de ereção nas gravações.  

O acessório, fabricado pela empresa Hard, é vendido em lojas de produtos eróticos online por cerca de R$ 110. O ator não revela quanto investiu ou faturou com o aparelho, mas diz que já está tendo retorno e quer agora investir em publicidade.

Quando carreira de empreendedor e palestrante decolar, o que espera acontecer no curto prazo, Nego Catra deixará de vez os estúdios e voltará a ser apenas um telespectador dos filmes pornôs. "Adorava pornô mesmo antes de ser ator, sempre me masturbei e me masturbo assistindo aos filmes. Eu assisto aos meus, para ver onde eu preciso melhorar, e aos dos outros por prazer."

Aparelho de exercícios peniano - Divulgação