'Coisa Mais Linda', da Netflix, retrata união de quatro mulheres fortes e de mundos diferentes
Atrizes celebram espaço para feminismo com clima de anos 1950
A mulher é a protagonista da série “Coisa Mais Linda”, uma das produções brasileiras que a Netflix lança este ano. Com Maria Casadevall, 31, Fernanda Vasconcellos, 34, Pathy de Jesus, 41, e Mel Lisboa, 37, a série estará disponível a partir desta sexta-feira (22) para assinantes.
Com o título inspirado na música “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980), esperava-se uma série sobre o nascimento da bossa nova, mas o tema serve, na verdade, como pano de fundo para a história de superação de quatro mulheres.
No clima do fim dos anos 1950, Malu (Maria Casadevall) é uma menina paulistana de família rica. Casada e com um filho, ela planeja se mudar para o Rio de Janeiro e abrir um restaurante com o marido. Só que ele desaparece com toda a grana dela. Malu fica perdida até se encontrar com a ajuda de Lígia (Fernanda Vasconcellos), Adélia (Pathy de Jesus) e Thereza (Mel Lisboa).
“A Malu reproduz todos os valores dessa família tradicional até que tudo isso acontece e ela se vê obrigada a fazer novas escolhas”, afirma Maria Casadevall. Ela vê em Adélia uma possível nova sócia para um novo negócio: um bar que dará espaço ao movimento musical que cresce no Rio.
Mãe solteira, empregada doméstica e moradora de uma comunidade no morro, Adélia se assusta com a chegada de Malu em sua vida. “Falar de Adélia me emociona porque me remete diretamente a minha avó. Uma mulher negra e sem muitas opções”, afirma Pathy de Jesus. “Ela é uma mulher solteira que está na batalha e não tem muita dimensão do universo dela e do que pode ter alem dele até encontrar a Malu. A Adélia é uma mulher forte, mas se torna uma outra potência a partir disso”, afirma a atriz.
Lígia tem o sonho de ser cantora. É amiga de infância de Malu e prima de Thereza. “A Lígia é uma mulher que luta pelo direito de existir. Ela é jovem, cheia de sonhos que se esbarram no moralismo e na estrutura familiar que ela está. Ela não percebe esses preconceitos, em princípio, e acaba sendo sufocada e sufocando a si mesma”, afirma Fernanda Vasconcellos.
Já Thereza trabalha na redação de uma revista feminina. Apesar do tema da publicação, ela é a única mulher em um espaço cheio de homens. “A Thereza é uma mulher independente, diferente das outras personagens, porque ela já tem uma consciência do papel da mulher e do que ela pode mudar em uma sociedade cujo protagonismo é masculino”, afirma Mel Lisboa. Para a atriz, Thereza serve de farol para as outras mulheres. “Ela deixa claro que todas podem ser o que quiserem ser. E ela é tudo que deseja ser, uma escritora moderna, com o casamento aberto, que já morou em Paris”, afirma Mel.
Já nos primeiros episódios, as quatro unem suas forças para contar histórias de superação feminina. “Todas elas estão em bolhas, e esse encontro é libertador para todas elas”, define Pathy.
LUTAS DE ONTEM E O FEMINISMO DE HOJE
“Coisa Mais Linda” deu voz às quatro atrizes protagonistas falarem de seu ativismo como feministas. “É um lugar raro ter esse espaço. Precisamos de mais protagonistas mulheres”, diz a atriz Pathy de Jesus. Para o elenco, a série ambientada nos anos 1950 fala de temas atuais.
"‘Coisa Mais Linda’ é que as mulheres do mundo todo, dentro desse contexto de estatísticas chocantes de violência, tenham a dignidade humana respeitada e também a sua integridade física”, diz a atriz Maria Casadevall, fazendo referência ao título da série. “A Malu é uma das personagens que está totalmente alheia a essa discussão que temos hoje, mas cada uma delas vai tomando consciência do seu lugar e de suas próprias questões”, conclui a atriz.
Pathy de Jesus relata que fez uma longa jornada para entender um passo mais profundo, que é ser mulher e negra. “Percebi, de fato, como uma pessoa negra tem dificuldade de descobrir a sua história. Nada ficou registrado, é tudo do que se conta, do que minha mãe contou sobre a minha avó. Isso para mim foi um choque. Sempre tive essa consciência disso, claro, mas quando você tem que enfiar a mão na massa para trabalhar, é mais difícil de encarar”, afirma a atriz.
OS HOMENS DA HISTÓRIA
Em meio a quatro poderosas mulheres, a série “Coisa Mais Linda” tem dois homens também modernos dentro do contexto social dos anos 1950. O elenco defende a forma positiva de como esses personagens são retratados na trama. "O antagonismo da série é o preconceito, não os homens. Fala das forças opressoras que calam as mulheres, principalmente as mais frágeis", afirma Fernanda Vasconcellos.
Capitão (Ícaro Silva) é um desses homens. Ele é músico e apaixonado por Adélia (Pathy de Jesus). “Ele é um baterista de sucesso que volta de uma longa turnê só para reencontrar Adélia. Ele é um cara a frente de seu tempo porque ele escuta as mulheres”, afirma o ator, que já interpretou Jair Rodrigues (1939-2014) no cinema e no teatro. “A música permeia a história o tempo todo, e mostra como estávamos encontrando a nossa cultura, o nosso espaço na época. Até hoje, aliás, estamos buscando o que é ser brasileiro”, afirma Silva.
Par romântico de Malu (Maria Casadevall) e galã da bossa nova na trama é Chico Carvalho (Leandro Lima). “Ele é um cara que investiga essa nova música sem dar nome aquilo que vai se transformar na bossa nova. O Chico é um cara muito apaixonado pelo que faz e encontra Malu, que tem a mesma paixão pela música. Eles terão uma relação muito a frente de seu tempo, com um certo desapego”, adianta o ator