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Ator de 'Bodyguard' e ex-'GoT', Richard Madden evita especulação sobre ser o novo 007

Astro concorre ao Globo de Ouro no domingo (6) por série da BBC

O ator Richard Madden em Los Angeles - Elizabeth Weinberg/The New York Times
Kathryn Sattuck

Depois de três temporadas como Robb Stark em "Game of Thrones", Richard Madden achava que sabia uma coisa ou duas sobre grandes sucessos de TV. E aí surgiu o thriller britânico "Bodyguard" ("Segurança em Jogo"), e ele teve de mudar de ideia. 

Escrito por Jed Mercurio ("Line of Duty"), "Bodyguard" traz Madden como David Budd, um veterano da guerra do Afeganistão que sofre de síndrome de estresse pós-traumático e recebe a missão de proteger a secretária de Estado britânica Julie Montague (Keeley Hawes). Ela tem posições políticas bélicas que ele despreza –mas ele não consegue resistir ao charme gélido dela.

Quando a série estreou, em agosto, os números de audiência surpreenderam: de acordo com a BBC, 41 milhões pessoas assistiram aos seis episódios (e o total continua a crescer), fazendo de "Bodyguard" a série dramática com maior audiência na rede de TV britânica desde "Downtown Abbey".

Em seguida, em outubro, "Bodyguard" entrou em cartaz na Netflix e conquistou ainda mais audiências e levou a indicações ao Globo de Ouro para Madden, como melhor ator, e para a série, na categoria melhor drama televisivo.

"As pessoas me perguntam se eu sabia que a série iria assim tão bem e respondo que não fazia ideia, e só estava preocupado com sobreviver a uma gravação muito sacrificada", disse Madden. "Pensar que esse modesto programa britânico de TV, no qual nós todos trabalhamos tanto, tenha conseguido tamanho impacto é algo que me espanta. Acho que um quarto dos britânicos assistiram à série, o que é uma loucura."

A série solidificou a carreira do ator escocês Richard Madden, 32, como astro, e o colocou na liderança da disputa para substituir Daniel Craig no papel de James Bond. Reportagens recentes dizem que ele adora um martíni de vodca, se é que isso importa. Mas se Madden sabe alguma coisa quanto a isso, ele não pretende dizer.

Em uma entrevista por telefone, de Los Angeles, onde se prepara para a temporada de premiações, ele falou sobre a alquimia de "Bodyguard" e de como faz para manter a calma sob o olhar dos paparazzi.

NYT - Que audiência! Qual foi a fórmula mágica?
Richard Madden - Eu bem gostaria de saber para poder recriá-la em todos os trabalhos que fizer. [Risos] Tem algo a ver com essa zona cinzenta em que todos vivemos, com a ambiguidade moral. Às vezes, as coisas são claras demais quanto a quem é o mocinho e quem é o vilão. Mas nesse caso as linhas se confundem, o que mexe com as percepções da audiência.
 
E há o relacionamento escaldante entre Budd e sua poderosa chefe. Pelo que sei, essa é uma história com boa dose de realismo.
Sim, trabalhamos em estreito contato com diversos homens que estiveram nessa posição –trabalhando com dignatários estrangeiros, membros do Parlamento, pessoas da família real–, e eles disseram, sem citar nomes, que esse tipo de coisa acontece e que as pessoas cruzam as linhas. Porque você vive com aquela pessoa o tempo todo, e a vê mais do que vê sua família, e passa por situações extremas com ela. O que conduz a esse tipo de intimidade.
 
O que a gravação teve de tão sacrificado?
Foram semanas de seis dias de trabalho, e estávamos rodando 14 horas por dia; a câmera raramente saía do meu personagem. E eu usava um colete a prova de balas o tempo todo, o que é fisicamente desconfortável. Mas a maior dificuldade era a mentalidade de alguém que está enfrentando problemas graves de saúde mental enquanto tenta manter sua vida em ordem.
 
Com certeza vai haver uma segunda temporada.
Não houve um anúncio oficial até agora. Eu e Jed queremos muito trabalhar juntos de novo. Por isso, estamos conversando sobre ideias para onde poderíamos ir. Mas é preciso levar em consideração que o personagem se tornou uma figura conhecida, porque percorreu todo o centro de Londres com um colete explosivo amarrado ao peito. Fico imaginando que efeito isso teria sobre sua carreira futura.
 
Daqui a alguns meses, você vai cantar e dançar em "Rocketman", com Taron Egerton como Elton John e você como John Reid, que foi seu agente e namorado. Isso certamente vai fazer de você um símbolo sexual de outra ordem.
[Risos] Não sei bem se será esse o caso. Você viu o cabelo que uso no filme? É bem longo, bem anos 1970, com grandes ondas, penteados feitos com a ajuda do secador, e coisas assim. E tingido de um preto bem escuro, assim como minhas sobrancelhas, o que não é nem um pouco confortável. Parecia que minhas sobrancelhas tinham sido desenhadas com uma caneta hidrográfica.
 
E quanto a "Game of Thrones?" Seus amigos na série contaram como a história termina?
Não sei como termina, e não deixaria que me contassem. Não que alguém se dispusesse a contar, mas eu nem deixaria eles conversarem a respeito perto de mim, porque não quero que estraguem a surpresa. Essa é a alegria de não estar na série. Posso curtir como espectador, sem ter de ler os roteiros e saber o que acontece depois. E creio que eles filmaram múltiplos finais; ou seja, não sei nem se eles sabem qual é o final verdadeiro.
 
Eles pediram "spoilers" de "Boduguard"? 
A série passou em episódios semanais no Reino Unido, e por isso havia muita especulação. Nos Estados Unidos, as pessoas assistiam a todos os episódios de uma vez. Não havia aquela conversa sobre ela no café. 
 
Agora, o assunto que você vem evitando: 007.
[Risadinha nervosa.] Muita gente se sente proprietária daquele personagem, e parece saber exatamente quem deveria interpretá-lo; assim, que haja pessoas defendendo em público que eu faça o papel é muito, muito lisonjeiro. Mas não, não está acontecendo nenhuma negociação nessa frente. É tudo pura especulação.
 
Você gostaria de interpretar Bond?
Olha, vejamos o que acontece no futuro. Sim, essa é uma questão com a qual vou lidar quanto o momento chegar.
 
É verdade que você tem um sistema de alerta em seu bairro para quando os paparazzi se escondem nas árvores?
Sim, em minha rua temos um grupo de WhatsApp, porque os fotógrafos se escondem diante da casa. Os vizinhos tiram fotos de um carro e dizem "tem um deles por aqui, aliás", o que é muita gentileza deles. (Risos)
 
Mas ainda assim eles conseguem encontrá-lo. O sucesso de "Bodyguard" e a especulação sobre Bond o levaram a ficar mais atento?
Com certeza não vou de pijamas à loja, nos finais de semana. Mas de qualquer jeito nunca fiz isso.
 
Você acha que, enfim, está chegando ao seu apogeu?
"Bodyguard" foi ótimo para mim, porque é um papel no qual tenho dois filhos, e por isso pude sentir a mudança que acontece entre interpretar um filho e interpretar um pai, em termos de idade e responsabilidade. Interpretei muitos jovens, muitos filhos e muitos príncipes ao longo dos anos, e por isso é realmente empolgante ingressar num espaço em que você é o adulto.

The New York Times

 Tradução de PAULO MIGLIACCI