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Fernanda Montenegro faz 95: Relembre frases marcantes da atriz

Sociedade, velhice, sexo, família e política estão entre os assuntos abordados ao longo da vida

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Leonardo Volpato

São Paulo

Apesar de Fernanda Montenegro não gostar de ser chamada assim, ela é, sim, uma diva. Um ícone da dramaturgia brasileira, já que sua contribuição vai muito além das interpretações memoráveis. Como protagonista de obras clássicas e contemporâneas, ela elevou o padrão da atuação inspirando novas gerações de atores com sua dedicação e talento

Mas a artista, que celebra a chegada dos 95 anos nesta quarta (16), também é lembrada pelas frases marcantes e opiniões fortes com relação a política, sexo, sociedade, velhice, televisão e morte. A atriz se estabeleceu ao longo das décadas como uma pensadora que usa sua arte e sua voz para incitar debates e solidificar ainda mais seu papel como uma das figuras mais respeitadas da cultura brasileira.

'Enquanto isso aqui [mente] estiver funcionando e eu tiver alguma possibilidade de me expressar, de que maneira for, vão me aguentar. Porque é impossível parar. É uma vocação, entendeu?'" disse ela, à Globo em 2024. @fernandamontenegroof/

"Eu me vi diante do momento mais emocionante da minha trajetória. E olha que vivi muita coisa em mais de 70 anos de carreira. Mas, ali, aos 90, no palco do [Theatro] Municipal com as pessoas me abraçando em aplausos intermináveis, senti algo diferente. Eu pensei e disse: 'é a minha cerimônia do adeus'", disse ao El País sobre espetáculo em que leu crônicas de Nelson Rodrigues, em 2019. Eduardo Knapp - 18.11.2019/Folhapress/

"Jamais pensei que iria levar esse negócio [Oscar em 1999]. Mesmo que não pegue a estatueta, aquilo já bota você no noticiário. Eu assisti como se estivesse em uma fantasia. Sabia que não iria levar nada, mas estive lá. Eu sou obediente" afirmou numa edição especial do programa Tributo, da Globo, em 2024. Fred Prouser - 15.mar.1999/Reuters/

"Rir traz o raciocínio em cima da dor. Não que paramos de sentir dor, mas isso te leva a sair da toca e ir adiante. Comédia não é só uma defesa, mas uma arma sadia", disse em entrevista em plena pandemia ao F5, em 2020. Globo/

"Quando você vai para o meio do mato vê que pode viver sem aquilo tudo do cotidiano corrido. Você vê que dá para sobreviver sem aquela ansiedade", contou a atriz ao F5, em 2020, quando confinou-se com a família em seu sítio, na região serrana do Rio. Globo/

"A consciência dos meus mais de 90 anos me veio forte. De repente, já que me aprisionaram, passei a pensar na minha própria grade", comentou Fernanda ao F5 durante a pandemia. Acervo pessoal/

"Não gosto do termo 'diva'. Deixo a vida agir. Acordo, dou graças a Deus que acordei, atravesso o dia e quando vou dormir agradeço de novo. E assim vamos vivendo", afirmou a atriz em entrevista ao site Dez Minutos de Arte, em 2018. @ellebrasil no Instagram/

"Sem Fernando (foto), a minha vida não se cumpriria. Do nosso mais profundo pacto de existir, vieram dois filhos maravilhosos, que também são referências dentro do nosso processo artístico", disse ela no especial Tributo da Globo, em 2024. /

"Família é amor. É onde nascemos e nos reencontramos, nosso bem mais precioso. O que importa de verdade na criação desse núcleo social é o respeito, a união, o amor mútuo. Não há o que se discutir com esses preceitos", afirmou em entrevista à Marie Claire em 2021. @fernandamontenegroo no Insta/

"Hoje a esperança, mais do que nunca, tem que ser ativa. Estamos com esse trágico governo, um presidente que faz como símbolo da sua atividade presidencial uma mão que é uma arma ou o sexo de um homem. É um emblema sórdido", disse ela sobre Bolsonaro em entrevista ao jornal O Globo, em 2022. @fernandamontenegroo no Instagram/

"Esse homem [Bolsonaro] só está no poder porque todos os governos que o precederam, embora mais simpáticos, mais democratas, não fizeram o suficiente. Dou como exemplo as favelas. É uma herança. Por que não tiraram esse homem do poder? A carência social não deveria estar tão potente", comentou Fernanda também ao O Globo em 2022. Ricardo Borges - 10.mar.2017/Folhapress /

"Minha vaidade está, em primeiro lugar, em cuidar da minha saúde, da minha alimentação. Não me privo do que quero comer, mas não encaro mais banquetes como antes, quando saía morta de fome daquelas peças enormes, de três atos ou mais. Fora isso, tomo dois banhos por dia, escovo os dentes e coloco um creminho na pele", disse, em 2017. Paulo Belote/Globo/

"Penso em morte todo dia. Até meus 80 anos, pensava pouco. Desde então, acordo dizendo: 'Meu Deus, eu tô viva!'. E vou viver esse dia da melhor maneira. Quando eu era jovem, achava que a idade em que me encontro equivalia a mil anos. Eu me pergunto muito como ela (a morte) virá, de que maneira, onde estarei no dia em que vier", contou, em entrevista há sete anos. Zô Guimarães - 18.set.2019/Folhapress /

Os que acham que não existe sexo na velhice são jovens, mas quando chegarem a essa idade, irão ver que é diferente. Quem pensa assim vai ver quando envelhecer que esse pensamento se resume a uma palavra só: preconceito", contou ela à revista Claudia em 2015. Greg Salibian - 16.ago.2015/Folhapress/

"Não eram só os homossexuais que estavam no armário. De uma certa forma o país estava em armários", disse à GloboNews, sobre o beijo gay em Nathalia Timberg, em "Babilônia" (2015). Globo/

"Se não fosse ele [ator Vinicius de Oliveira], não existiria esse filme ['Central do Brasil']. É verdade, filho! Nós tínhamos tudo preparado com outro menino e não deu certo, aí paramos. Fizemos mais de 700 pesquisas de crianças para saber quem iria fazer o papel. E o Vinicius, engraxate ali no aeroporto, viu o Walter Salles e pediu para engraxar o seu sapato. Walter respondeu que não, porque estava de tênis", disse em premiação em 2018. Divulgação/

Já afirmou, por exemplo, que pensa na morte todos os dias. "Eu me pergunto muito como ela (a morte) virá, de que maneira, onde estarei no dia em que vier". Também já criticou os jovens que acreditam que não exista sexo na terceira idade. "Mas quando chegarem a essa idade, irão ver que é diferente. Quem pensa assim vai ver quando envelhecer que esse pensamento se resume a uma palavra só: preconceito".

E o que falar do estilo "sincerona" ao relatar sua experiência após nomeação ao Oscar de 1999 com o clássico "Central do Brasil". "Jamais pensei que iria levar esse negócio".

A importância de Fernanda Montenegro se reflete ainda em sua presença fora das telas. Ela é uma defensora fervorosa da cultura e do teatro no Brasil, incentivando o diálogo entre as diferentes formas de arte. E, como diria a própria Fernanda: "Enquanto isso aqui [aponta para a cabeça] estiver funcionando e eu tiver alguma possibilidade de me expressar, é impossível parar". O público agradece.

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