Mais importante do que ser o protagonista é trabalhar com os grandes, diz Lucio Mauro Filho
Ator e músico celebra a chegada dos 50 anos, diz que ter mesmo nome do pai foi 'pistolão' na carreira, conta detalhes da amizade com Mion e relembra brigas que via em 'A Grande Família'
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Entra ano, sai ano, lá está Lucio Mauro Filho na TV. Nas últimas três décadas, é raro ligar a televisão e não ver Lucinho em algum projeto, seja numa novela, num humorístico, em uma série ou tocando com uma banda aos sábados à tarde da Globo. E a fórmula para sempre conseguir se manter em evidência tem a ver com uma estratégia estipulada pelo pai, seu grande conselheiro, o comediante Lucio Mauro (1927-2019).
"Reforço que sou nepobaby porque ele descobriu a fórmula de me proteger ou de me alertar que se eu fizesse sucesso, precisaria aguentar", diz o ator, a respeito dos privilégios por ser filho de um "pistolão". "Meu primeiro sucesso foi no Zorra Total (1999), quando eu já estava com 25 anos. Era jovem, mas, ao mesmo tempo, tinha muita bagagem. Um dos segredos da longevidade do meu trabalho é que fiz sucesso na hora certa", avalia o ator em entrevista ao F5.
Nesta terça-feira (18), Lucinho —como é chamado pelos amigos— chega aos 50 anos. Ele chega a essa idade cheio de novos projetos, mas com um retrospecto nas artes que o enche de orgulho. No bate-papo, ele fala sobre a chegada nada esperada de uma filha, rememora as brigas nos bastidores de "A Grande Família" e comenta o fato de nunca ter sido uma figura polêmica. "Toda vez que alguém quiser falar mal de mim vai haver alguém me defendendo." Confira a entrevista abaixo.
Que reflexão faz com a chegada dos 50 anos?
Tenho que celebrar todos os dias. Acho importante prestar atenção nesse exercício de gratidão. São 50 anos muito bem vividos com muita luta e vitórias. É uma data simbólica, a metade da vida, uma esquina que quando chega não tem jeito. Olho para trás e reflito. O primeiro sentimento que vem é a gratidão a Deus, ao universo, pelas pessoas maravilhosas que cruzaram meu caminho.
Você nunca tem seu nome envolvido em polêmicas. Como consegue?
Eu tenho meus momentos de polemizar, sim, mas definitivamente não sou uma figura polêmica. Sempre mantive uma privacidade e isso me protege, porque eu me comunico de uma forma muito doce e sou de equipe. É isso que, de certa maneira, me transformou nessa figura carinhosa e, consequentemente, com muitos anjos protetores na hora do hate [ódio na web]. Claro que não agrado a todos, às vezes para qualquer coisa que você diga que não bata com a opinião do outro, vem o ódio. Mas toda vez que alguém quiser falar mal de mim vai haver alguém me defendendo.
Você teve um mestre em casa. Quais os conselhos do seu pai, Lucio Mauro (1927-2019)?
Quando comecei a acreditar que seguiria a profissão, ele foi lacônico sobre o fato de eu precisar chegar mais pronto. Me disse para evitar ansiedade. Isso acabou evidenciando que não adiantaria pedir nada, eu tinha que conseguir por mim mesmo. E ele queria que eu procurasse a minha turma. Quando fui fazer a novela 'A Viagem' (1994), confesso que não me encantei pela TV, pois fazendo minhas peças de teatro eu conseguia ter a grana que a TV me pagava.
Seu pai teve influência na sua carreira? Se considera um nepobaby?
Claro, eu sou nepobaby, sim. Só o fato de me chamar Lucio Mauro Filho já é um puta pistolão. Quando descobriam que eu era filho dele abriam um sorriso. Por ele ter sido muito querido, levo esse legado adiante. Ser afetuoso do diretor ao cara do café. Já posso dizer que sou nepobaby, pois tive acesso a um grande artista de forma íntima por ser meu pai. E ele sempre demonstrava o orgulho por qualquer coisa que eu fizesse. Enquanto pai, ele tinha o sonho de que eu tivesse um diploma de faculdade. Mas o teatro me chamou e eu fui, depois veio a TV.
Ele te apoiou na sua decisão de ser ator?
Quando fui buscar trabalho aos 16 anos como ator, saindo do teatro Tablado, no Rio, tinha plenas condições para ir aos lugares e falar por mim. Mas meu pai sempre falava: quem faz sucesso jovem não fará quando adulto, pois ele achava que a pessoa não teria caráter formado e, aos 30 anos, ninguém mais iria querer nos ver. Ele estava coberto de razão. O melhor é fazer sucesso com caráter formado, com opinião a respeito da vida. Também reforço que sou nepobaby porque ele descobriu a fórmula de me proteger ou de me alertar que se eu fizesse sucesso, precisaria aguentar o sucesso. Meu primeiro foi no Zorra Total (1999), quando eu já estava com 25 anos. Era jovem, mas, ao mesmo tempo, tinha muita bagagem. Um dos segredos da longevidade do meu trabalho é que fiz sucesso na hora certa.
Você trabalhou com muita gente importante. O que tira dessas experiências?
Trabalhei com Chico Anysio (1931-2012) no teatro, com meu mestre Ivan de Albuquerque (1932-2001), fundador do Teatro Ipanema. Atuar com figuras fantásticas imprimiu em mim um nível de exigência enorme. E foi o que fui buscar na TV. O retorno foi em Zorra Total, que era popular, com Carlos Manga (1928-2015) na direção e Mauricio Sherman (1931-2019). Eu fazia dupla com Jorge Dória (1920-2013), um dos maiores comediantes de todos os tempos. Fiz cenas com Hugo Carvana (1937-2014), Milton Gonçalves (1933-2022), Tonico Pereira... Tudo isso me colocava no sarrafo do alto, era sempre uma aula. Em 'A Grande Família', tinha Marco Nanini, a Marieta Severo, enfim... Fui descobrindo que mais importante do que ser o protagonista é trabalhar com os grandes.
Como foi atuar em 'A Grande Família' por 14 anos?
Era espetacular, uma dádiva. Tudo o que um profissional deseja é cair num lugar onde estão os top artistas e profissionais de ponta da área. É como você jogar numa seleção brasileira, aprendi um pouco de cada coisa com todos ali. Esse rótulo de ser o 'Lucinho multitarefas' eu aprendi naquele momento. Para durar 14 anos, só sendo muito parceiro e amigo.
Mas houve uma briga entre Guta Stresser e Pedro Cardoso que se tornou pública...
É triste que tenha acontecido, mas é impossível não haver uma briga em 14 anos. Eram pessoas com temperamento especial, e quando tinha briga era briga de gente grande. Essa briga não muda a minha percepção do lugar de afeto que era essa série. Apesar disso, a parceria e o profissionalismo dos dois eram lindos em cena. Nós tivemos maturidade para lidar, a Guta nem se fala, ela foi de uma responsabilidade emocionante. Nós decidimos seguir adiante. Essa coisa acontece em ambiente profissional, seja qual for. E não teve só essa briga, houve mais umas duas ou três que ninguém soube. As pessoas têm fetiche por briga, mas éramos discretos.
Quais foram os maiores desafios naquela época?
Enfrentamos uma morte muito doída que foi a passagem do Rogério Cardoso em 2003. Ali, 'A Grande Família' poderia ter acabado. Lembro de conversarmos e decidirmos continuar. Mas havia essa dúvida: teria clima? Graças a Deus, teve. Mas, na maioria do tempo, era maravilhoso, fazíamos viagens, fui morar perto da Marieta. E pegamos o nascimento da rede social, mas todos tinham os perfis fechados em 2013, 2014. A gente mantinha essa aura de proteção.
Atualmente, você tem banda e toca no Caldeirão. Imaginava essa mudança de carreira?
Minha relação com música é desde adolescente e, quando a MTV veio ao Brasil, eu era um entusiasta do canal. A vida foi acontecendo para mim, no teatro, na TV, e aquele sonho de trabalhar com isso foi deixado de lado. O convite para o Caldeirão aconteceu por uma coincidência maluca. O [Marcos] Mion postou na internet que estava feliz em chegar à Globo de manhã. Mandei mensagem de boas-vindas para ele e, de noite, o diretor LP Simonetti me ligou e me ofereceu essa oportunidade.
Como é sua amizade com o Mion?
Desde que ele estava na MTV eu tinha uma empatia. Fiquei fã. Uma vez o Otávio Müller estava fazendo uma peça e haveria uma substituição, e o Otávio me falou sobre o Mion. Já sabia que aquele moleque era bom e chegaria botando para quebrar. Fui para São Paulo ver e o Mion roubou a cena mesmo no espetáculo. Fui ao camarim, contei essa história a ele. Criamos uma amizade. Ele frequenta minha casa com a família, fazemos aniversário quase que juntos (18 e 20 de junho, respectivamente).
A pandemia te deixou alguma marca?
Eu tive Covid antes mesmo de existir vacina. Lembro que quando fomos gravar a Escolinha, o primeiro programa a voltar às filmagens, ninguém podia conversar nem se ver. E eu tive crise de pânico, fiquei muito nervoso, não estava acostumado a sentir aquilo. Descobri que estava precisando fazer tratamento pós-Covid, pois em consulta vi que eu estava com taxas sanguíneas e hormonais todas erradas e desequilibradas. Estava em um momento frágil que nunca tinha vivido na minha profissão, chegar no trabalho com medo. E quando veio o convite para fazer a novela 'Quanto Mais Vida, Melhor' (2021) eu estava assim, mas quis enfrentar e me curei.
Você é bastante família. Com tanto trabalho, arruma pausas para momentos de lazer?
A família é um assunto do Lucinho pessoa pública. Tenho 'Filho' no nome artístico. Com meus filhos eu tenho uma conexão muito forte. Tenho um de 20 anos (Bento), uma de 18 (Luiza) e uma de 6 (Liz), então tem muito assunto dentro de casa. O sucesso do meu casamento de 25 anos com a [jornalista] Cíntia [Oliveira] se deve à família que formamos e como interagimos com afeto e parceria. Separo alguns finais de semana de folga para estar com eles, ir a museus, exposições. Em casa, a gente fica agarrado. Tem agora a hora do dever de casa da pequena, que chegou para unir mais a todos. A Cíntia foi engravidar aos 45 anos numa troca de DIU, ninguém imaginava ser possível.
Quais seus planos para o futuro
Além de eu estar na série 'O Jogo que Mudou a História' (Globoplay) e rodar o Brasil com a peça 'Gostava Mais dos Pais', com o Bruno Mazzeo, tenho um projeto de músicas autorais com minha banda e estou escrevendo dramaturgia para a TV, uma comédia de situação para apresentar para plataformas de streaming.