'Chego em tempo de urgência de pretos se verem representados', diz Kenya Sade, aposta da Globo
Apresentadora diz que se autossabotou por anos, fala dos desejos por um país menos racista e da vida a dois: 'Me sinto feliz em viver num país que aceita mulher preta com outra mulher'
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"Durante muitos anos, acreditaram que pretos não eram inteligentes e capazes. Mas hoje eu inauguro um lugar novo de mulher preta que atinge os espaços." É dessa forma que a repórter e apresentadora Kenya Sade, 30, vê sua evolução dentro da maior emissora do país. Desde 2022, a Globo tem apostado as fichas nela como uma das novas cara do entretenimento do canal.
De lá para cá, Kenya virou figurinha carimbada nas transmissões de festivais como o Lollapalooza, The Town e Rock in Rio. No início deste ano, também teve a chance de ser coapresentadora do programa The Masked Singer Brasil.
Até cinco anos atrás, isso era algo inimaginável na cabeça da paulistana, filha de mãe solo e natural de Itaquera (zona leste). "Nunca sonhei em ser famosa por uma questão de boicote. Me autossabotei por anos, pois não achava que esse lugar era para mim. Ainda tento entender a fama, mas hoje já sei que estou nesse caminho pelo merecimento", diz em entrevista ao F5.
Kenya, cujas principais referências são Gloria Maria (1949-2023) e Oprah Winfrey, afirma que, quando fez teste na emissora, o canal queria mais diversidade na tela. Agora, seu intuito é ser espelho para milhares de pessoas que sonham em um dia chegar ao lugar que ela ocupa.
"Chego em um tempo de urgência de pretos se verem representados", avalia ela, que diz estar recebendo muito carinho das pessoas que se veem nela. "Esse é um momento de transformação de um país que quer se ver nas telas."
Durante sua infância e adolescência, a repórter conta que a família era de classe média baixa. Filha de pai angolano, com quem teve pouquíssimo contato ("foi ele quem deu meu nome, pois era fã da cantora Sade Adu", recorda), ela diz que a mãe fazia de tudo para que ela conquistasse o que queria.
Por isso, Kenya estudou em escolas e faculdade particulares, fez intercâmbio e aprendeu três idiomas (inglês, francês e espanhol). "Fui filha única, criada com muitas mulheres e em um ambiente musical", lembra.
"Minha mãe é uma mulher preta formada em economia que sempre tentou me blindar de uma possível discriminação, dizia que eu poderia ser o que quisesse", afirma. "Mas não é fácil subverter as adversidades sociais vivendo no Brasil."
Mesmo assim, a apresentadora não esteve imune ao racismo e avalia que a luta contra o preconceito é diária. "Temos de nos provar duas ou três vezes mais", diz.
Lésbica, Kenya está em um relacionamento com uma mulher há cinco anos, com quem planeja construir uma família em dez anos. "Essa é uma bandeira que eu também levanto", conta. "O Brasil é homofóbico, mas ele tem se reavaliado nessa questão."
"Me sinto feliz em viver em um país que aceita uma mulher preta com outra mulher", diz. "Vivo com naturalidade e se tiver que falar em voz alta sobre isso, falarei."