Celebridades

Zombar dos cariocas e dos nepobabies é o maior barato; que o digam os criadores de Malhassaum

Dig Verardi e Fernanda Fuchs viralizaram nas redes sociais ao ironizar privilégio de parentes de famosos, 'lebloners', 'lemers' e a bolha da zona sul carioca

Dig Verardi e Fernanda Fuchs, do canal de humor Malhassaum - Gabriela Rabaldo/Divulgação

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

"Tia Paula só tinha R$ 170 mil para investir na nossa banda, é normal, muita gente começa com pouco", diz, séria, a personagem de Malhassaum, um dos perfis de humor mais pop das redes no momento. "Essa música tem arranjo do meu tio Edu....". Pausa. "Edu Lobo", completa a artista, jovem, olhando de lado para a câmera, com um sorriso sarcástico.

É assim, cutucando com fina ironia os privilégios dos nepobabies e a bolha da zona sul carioca, que a página Malhassaum vem fazendo sucesso na internet. Se não é um estouro em quantidade de seguidores (são 145 mil seguidores no Instagram e mais de 70 mil no TikTok), o perfil impressiona pela capacidade de engajamento.

O vídeo "Garoto Leblon", por exemplo, caminha célere rumo aos 3 milhões de visualizações. Nele, o ator Diogo (Dig) Verardi anda por uma rua do bairro preferido do novelista Manoel Carlos cumprimentando porteiros e amigos de colégios particulares da cidade, como o religioso Santo Agostinho e a progressista Escola Parque —por onde passaram os integrantes da banda Bala Desejo, o filho de Marisa Monte, de Malu Mader e Tony Bellotto, e de meia MPB/Rede Globo.

"Acabei de laricar no BB Lanches"; "Chopinho no Jobi no final de tarde?", vai dizendo ele, citando points do pós-praia e da boemia da zona sul, sempre cool e com sotaque exagerado, entre um aceno e outro aos conhecidos do bairro.

A página Malhassaum foi criada por Dig e Fernanda Fuchs, atores do sul do país, e faz sucesso ao zombar dos clichês e estereótipos dos jovens cariocas, como os lebloners, os lemers e eles, os nepobabies —termo que combina as palavras "nepotismo" e "baby" e tem sido usado para descrever artistas cujas carreiras supostamente contariam com um empurrãozinho graças aos pais ou padrinhos famosos.

"Nosso humor sempre foi crítico e satírico para gerar reflexão sobre classes privilegiadas, sempre foi para ser atual e falar sobre nepotismo cultural. Nós sempre brincamos com essa coisa de terem artistas que são filhos de atores, netos de diretores", diz Dig em entrevista ao F5.

Mesmo com a pegada satírica, eles admitem que gostam especialmente de um "criadouro" de nepobabies: a família Gil. "Acho maravilhosa. Que bela fábrica de nepobabies que é Gilberto Gil!. Ser uma pessoa que nasce em uma família de artista não quer dizer que é de todo ruim, né?", ironiza ele.

Já Fernanda assume ser fã de Fernanda Torres. Ela fez mais de 600 mil pessoas rirem com sua "jovem mística carioca", um clichê do clichê da juventude "hippie de boutique" do Rio, cuja graça está justamente no exagero, na caricatura.

Dig é de Porto Alegre e conheceu Fernanda, de Curitiba, quando os dois disputavam uma vaga para o Prêmio Multishow de Humor, em 2017. Duros e dividindo o mesmo quarto, eles descobriram o gosto em comum por "Malhação" e começaram a criar personagens baseados no perfil da novelinha teen, que foi ao ar por 26 anos.

"A sensação é essa, ser artista no Brasil não é fácil, esbarramos em muitas coisas e uma delas é grana. Se você não tiver dinheiro ou indicações, você é barrado de certas bolhas que são difíceis de furar. Então isso gera muita indignação", diz a atriz.

Foi a mudança de Dig para o Rio de Janeiro, em 2018, que trouxe um outro olhar —uma vivência que só quem é do Rio tem—, ao conteúdo da dupla. Os blocos fechados de Carnaval que rolavam durante o isolamento social da pandemia (e dos quais ele admite ter participado) foram, por exemplo, uma inspiração para explorar o formato.

"Eu sabia dessas hipocrisias e contradições de blocos secretos e da galera de esquerda achando que aquele era o Carnaval mais democrático do mundo, mas ao mesmo tempo só querendo ir onde está a própria bolha. Aí pensei: 'vou fazer um vídeo sobre isso', porque, de fato, vi pessoas falando 'Carnaval é a festa mais democrática do mundo'". Resultado: Mais de 1,3 milhões de visualizações neste insight que virou filmezinho no Instagram.

Noveleira, Fernanda também teve como referências o que assistia na tela da Globo há alguns anos para criar suas personagens cariocas. "Principalmente nos anos 1990 e 2000, víamos muito o Rio e tinha esse estereótipo de belas praias, Manoel Carlos, o Leblon e as empregadas uniformizadas, o carioquês na boca de todos os artistas. É com isso que a gente quer brincar e satirizar", diz a atriz.