Ingresso cobiçado: Taylor Swift ganha diploma honorário em universidade de NY
Cantora ganha honraria já concedida a Bill Clinton e Aretha Franklin
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Tanto Jenny Dhoumo quanto Lauren Kirshenbaum descobriram a informação no Instagram.
Dhoumo, 24, aluna de quarto ano na Universidade de Nova York, estava em um café fazendo um trabalho para a escola quando uma amiga lhe encaminhou um alerta publicado pela revista Rolling Stone de que Taylor Swift discursaria em uma cerimônia de formatura da universidade nesta quarta-feira (18), e receberia um diploma honorário de belas artes.
Dhoumo, que vai se formar em mídia, cultura e comunicações depois de uma carreira estudantil complicada que envolveu sete anos de estudos em três universidades –ela suspendeu os estudos por algum tempo para trabalhar e ajudar sua família– é fã de Swift desde que era criança, em Queens; o disco de estreia da cantora foi o primeiro CD que ela ganhou. Dhoumo estava preocupada com suas perspectivas, depois da graduação. E a notícia lhe pareceu auspiciosa.
"Pareceu um sinal estranho, como se alguém estivesse me reassegurando de que as coisas ficariam bem", disse Dhoumo, em uma conversa no limite florido do Washington Square Park, o espaço público em Greenwich Village que também serve como uma espécie de pátio de recreio para a universidade.
"Acho que o fato de que ela foi o ícone de minha juventude, e que esteja aqui agora que sou adulta, é como um retorno dela para minha vida. Não para que eu reviva minha infância, mas talvez para que eu me reconecte um pouco com minha criança interior". Como se ela dissesse "lembre-se da menina que você era aos 11 anos, e veja onde você está agora, como uma jovem mulher pronta a ingressar no mundo".
Kirshenbaum, 22, estuda ciência da computação e se descreve como "fã média" de Swift, mas admira a persistência da cantora e o quanto ela é pertinente para sua vida. "É uma loucura pensar nas pessoas que eu ouvia quando estava crescendo —Miley Cyrus, Taylor Swift, Harry Styles– e perceber o quanto elas ainda são relevantes", ela disse. "Meio que evoluímos com eles".
Conversas com meia dúzia de formandos da Universidade de Nova York que encontrei no parque demonstram a profundidade da conexão que essas pessoas sentem com relação a Swift.
A estrela pop lançou 10 álbuns que chegaram ao primeiro lugar da parada Billboard desde 2006, e isso abarca quase todo o período de que esses universitários têm memória. É por isso que a conexão que eles têm com a cantora e com suas canções costuma ser muito específica.
"Ela sente de um jeito bem profundo. Isso é um grande talento", disse Senyah Mason, de Phoenix, aluna de relações internacionais, que estava tirando fotos para sua formatura em companhia da colega de apartamento Isabelle Jacques, 22, de Boston, que está se formando em psicologia. "Se a música dela está tocando, eu ouço, mas não me esforço para encontrá-la".
Mason se deteve. "Mas eu amo o álbum ‘1989’, na verdade. ‘Safe and Sound’, ‘Out of the Woods’, outras canções de que gosto". Jacques ecoou o sentimento da amiga. "Ela parece ótima, uma pessoa muito amável. Por isso vai ser bacana ouvir seu discurso. Mas não vou dizer que esteja morrendo de vontade de assistir".
A onipresença de Swift se estende à mídia social, um ambiente no qual os jovens com quem conversei representam a primeira geração a estar imersa desde a adolescência. A cantora tem quase 300 milhões de seguidores no Instagram e Twitter. Ainda que ela siga zero pessoas, e não tenha postado muita coisa recentemente, sua existência nas plataformas de mídia social, durante os anos de formação desses universitários, criou um vínculo, para muitos deles.
"Acredito que na minha geração, especialmente, existam muitos relacionamentos parassociais que foram desenvolvidos com relação às celebridades", disse Ishaan Parmar, 20, da região de San Francisco e aluno de cinema, com um tom professoral. "Com isso, as pessoas vão dizer que Taylor Swift discursou em sua formatura e sentirão alguma conexão pessoal com ela. A realidade é que se trata de um discurso que ela pode ou não ter escrito, e que ela vai fazer no Yankee Stadium. Mas é cool mesmo assim".
De acordo com um comunicado enviado por email pelo vice-reitor sênior de assuntos públicos da universidade, John Beckman, os recebedores de doutorados honorários são escolhidos em campos nos quais a universidade leciona e pesquisa –ciência, ciência social, humanas, arte, direito, medicina, serviço público. "Selecionamos homenageados cujos talentos, realizações e ações possam servir como exemplo para nossos formandos". Entre os homenageados do passado estão [a juíza da Corte Suprema] Sonia Sotomayor, Ang Lee, Bill Clinton, Aretha Franklin, Janet Yellen, Hillary Rodham Clinton e Clive Davis.
"Conceder um diploma honorário é uma distinção que a Universidade de Nova York encara com muita seriedade", escreveu Beckman. "Nosso processo seletivo é extenso, e começa com uma indicação oficial, por escrito, apresentada por um membro da comunidade da universidade, seguida por um processo de verificação conduzido por nossos funcionários e depois por revisão e aprovação do senado e do conselho universitários". Perguntado sobre como os homenageados específicos são escolhidos, ele escreveu que "o processo de indicação e de consideração dos candidatos é confidencial".
A escolha de Swift nada tem de improvável. Ela é uma das pessoas mais famosas de sua geração, e Brittany Spanos, jornalista sênior da revista Rolling Stone, este ano deu um curso sobre ela no Instituto Clive Davis de Música Gravada, da Universidade de Nova York. (Cursos anteriores da série cobriram as carreiras de Stevie Wonder, James Brown, Aretha Franklin e David Bowie.) Perguntada se existia conexão entre o curso e a homenagem, Spanos respondeu que "não existe conexão, até onde sei; foi coincidência".
"Ela realmente elevou a conversação sobre o papel das mulheres como estrelas pop", disse Nekesa Mumbi Moody, diretora editorial da revista The Hollywood Reporter. Moody escreveu um capítulo sobre Swift em "Women Who Rock: Bessie to Beyoncé. Girl Groups to Riot Grrrl", livro que ela publicou em 2018, e suas entrevistas com Swift para a agência de notícias Associated Press remontam aos primeiros dias da carreira da cantora.
Ela apontou para o talento de Swift como compositora, para sua capacidade de conexão com os fãs e, especialmente, para sua dedicação. "Ela nos fez repensar a maneira pela qual examinamos o trabalho das compositoras quando estas discutem seus problemas amorosos", disse Moody. "E teve de suportar muita discussão sobre isso, boa parte da qual sexista, com certeza".
Embora Kirshenbaum tenha deixado de ouvir a música de Swift quando chegou ao segundo grau, voltou a curtir seu trabalho recentemente, e descobriu que as canções a empoderam. "Lembro-me de quando era adolescente, aquelas revistas para meninas todas, e ela sendo retratada como uma pessoa que namora muito, desmancha namoros e escreve canções a respeito das pessoas com quem desmanchou", ela disse. "Agora já não a vemos da mesma maneira. Conseguimos ver parte maior de suas complexidades".
A capacidade de Swift de levar sua música em novas direções, e de responder aos desafios do setor de diferentes maneiras, também lhe vale respeito.
Johnson Liu, 21, um entusiástico aluno de biologia, de Queens, se descreve como "não um verdadeiro fã", tendo trocado seu breve encanto pré-adolescente pela cantora por um apego duradouro ao heavy metal, anos atrás. Mas ainda assim expressou respeito pela capacidade dela para mudar de gênero musical, "mergulhar e tentar novas ideias e abordagens", e se referiu a essa qualidade como "bem radical".
Quando o controle de seu catálogo de canções de começo de carreira foi vendido a Scooter Braun, Swift ficou furiosa. Ela decidiu contrariar o sistema e está regravando e relançando seus seis primeiros discos, o que permitirá que retenha os direitos sobre as novas versões, e que faça uma releitura de suas composições. Os fãs dela correram a comprar as novas versões. Mesmo pessoas que expressam ceticismo quanto à música de Swift, como Parmar, descrevem essa tática como "uma jogada dominante".
Além disso, todos os universitários entrevistados para este artigo consideram que ter Swift discursando em sua formatura dará prestígio à escola e à turma de formandos, e injetará alguma alegria em um percurso acadêmico convulsionado pela pandemia. A presença dela parece um presente, especialmente porque muita gente que eles conhecem, e até pessoas que eles não conhecem, os procuraram para tentar descobrir como participar do evento.
"As pessoas estão batalhando como loucas por aqueles ingressos", disse Parmar. Dhoumo disse que ouviu dizer que há pessoas revendendo ingressos, "mesmo que isso seja proibido". "Não que eu tenha pensado nisso", ela disse, "mas imaginei que, cara, esses ingressos valem muito dinheiro. São como o bilhete dourado para a fábrica de chocolate de Willy Wonka".
"Recebi mensagens de amigos dizendo que estavam morrendo de inveja, perguntando se eu estava vendendo ingressos", disse Mason. "E eu respondi que claro que não: estou me formando na universidade e quero minha mãe lá".
Os alunos recebem apenas dois ingressos cada, e a universidade está tentando fiscalizar a situação para manter a proibição de vendas, e chegou a ameaçar os alunos que violarem as regras de reter seus diplomas. A instituição também alertou o público de que o discurso de Swift tradicionalmente é uma fala de cinco a 10 minutos, e que ela falará em nome de todos os homenageados. (Susan Hockfield, reitora do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e Felix Mátos Rodriguez, chanceler da Universidade Municipal de Nova York, também receberão doutorados honorários.)
"As pessoas precisam estar cientes de que Swift, que nos orgulhamos muito de ter como uma das recebedoras de nossos diplomas honorários este ano, vai discursar, e não fazer um show", escreveu Beckman. "É claro que seus fãs são muito entusiásticos, e por isso não estou certo de que informá-los quanto a isso bastará para reduzir seu ardor".
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci