Jay Ellis, de 'Insecure', revisita o passado e fala de seu principal papel
'Por que decidi morar em LA?', questiona ator ao passar pelo Harlem
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Jay Ellis, 39, estava comprando alguma coisa para comer em uma bodega em uma esquina qualquer do Harlem, em Nova York, Estados Unidos, quando uma mulher usando óculos escuros e uma camiseta sem mangas o abordou. "Meu Deus, estou tão feliz", ela disse.
Era uma segunda-feira quente de setembro e estávamos a caminho de uma excursão nostálgica pelo Harlem, bairro em que Ellis morou, ocasionalmente, na metade da década de 2000, quando ele era modelo e estava tentando começar uma carreira como ator.
Depois de anos de trabalho esporádico, ele conseguiu um papel importante em "The Game", da rede BET, uma comédia dramática que se passa no mundo do futebol americano profissional e em seguida se tornou par romântico da protagonista de "Insecure", na HBO, interpretando Lawrence, o namorado de Issa, a personagem de Issa Rae, criadora da série.
No final da primeira temporada da série, Issa trai Lawrence. Ele retalia insinuando a possibilidade de uma reconciliação, mas termina por dormir com uma colega de trabalho. O que significa que as atitudes do público com relação ao personagem –e a Ellis– são muito divididas. ("Insecure" retornou recentemente para a sua quinta e última temporada.)
"Não sou sua fã", a mulher da bodega esclareceu. "Aquela revanche não foi bacana. Mas você é um grande ator". Ellis retribuiu a declaração com seu melhor sorriso matinal de domingo e saiu da bodega carregando a água mineral e as castanhas sem sal que tinha comprado.
Sujeito alto como um arranha-céu e dotado de carisma estonteante, Ellis, 1,90 metros, estava elegante demais para o programa do dia, usando jeans, uma camiseta listrada da Comme des Garçons, uma jaqueta azul e tênis brancos novos e reluzentes.
O guia que conduziria a excursão pelo Harlem, Neal Shoemaker, nos esperava no escritório da Harlem Heritage Tours, no Malcolm X Boulevard. Juntos, partimos em uma caminhada desordenada pelo bairro.
"Minha mãe pode aparecer a qualquer momento", disse Shoemaker ao mostrar a Ellis a quadra de basquete que ocupa posição central no conjunto habitacional Martin Luther King Jr. Towers. Catorze andares acima, a tia de Shoemaker acenava furiosamente da janela. O guia a cumprimentou com um grito e brincou, apresentando Ellis como "seu novo sobrinho".
Depois, eles foram ao mercado africano na rua 116 Oeste, logo adiante da mesquita Masjid Malcolm Shabazz, onde o incenso enevoava o ar do final de verão e um café próximo exibia anúncios de produtos para aumentar o equipamento masculino e hambúrgueres vegetarianos. Ellis não tinha visitado muito o Harlem nos últimos 15 anos. Ele reparou que algumas das casas tinham sido reformadas e que a presença da polícia parecia menor.
A excursão prosseguiu, passando pela casa de jazz Minton’s Playhouse e pelo Marcus Harvey Park, local do Harlem Cultural Festival de 1969, registrado no documentário "Summer of Soul", que Ellis tinha assistido pouco antes. Ele parou do lado de fora da casa em que a poeta Maya Angelou um dia viveu, admirando as paredes relvadas.
Ao longo de toda a caminhada, fãs interrompiam Ellis e pediam autógrafos e fotos –"tire uma foto comigo, não de mim", disse o ator a uma mulher de meia-idade, empolgada, que tinha parado o carro só para fotografá-lo. Amigos e parentes também interrompiam Shoemaker com frequência, e Ellis, que mora em Los Angeles com a mulher e uma filha pequena, contemplava a vida urbana movimentada com alguma inveja.
"É a meca da música para a cultura negra", disse Ellis. "A meca do estilo. E, religiosamente, é uma meca. Quando venho aqui, sempre me pergunto por que decidi morar em LA".
Ellis é filho único de uma família da Força Aérea americana e se mudou para Los Angeles logo depois dos anos que passou no Harlem. Ele desistiu de ser ator, por algum tempo, e depois decidiu retomar a carreira. Uma jogada audaciosa –ele fingiu ter sido recomendado por um diretor de elenco– o levou a encontrar um empresário decente e, depois de dois anos de aulas de interpretação, os papéis começaram a surgir.
Nenhum deles foi tão importante quanto o de Lawrence, personagem que enfrenta dificuldades com as obrigações que a masculinidade negra impõe. Lawrence não deveria ter continuado a ser parte da história depois da primeira temporada, mas alguma coisa na interpretação nuançada de Ellis fez dele um dos favoritos dos fãs da série. E um dos vilões favoritos.
"Sempre digo que, se as pessoas ficarem furiosas comigo, se ficarem contentes comigo, se ficarem tristes ou qualquer outra coisa, terei feito bem o meu trabalho", disse o ator. "Mesmo que você odeie Lawrence, terei feito o meu trabalho, porque você terá sentido alguma coisa. Espero que as pessoas o amem, porque eu o amo. Mas entendo se isso não acontece".
E como acaba o jogo entre Issa e Lawrence? Ellis sabia que o melhor era não comentar. "Quero que os dois sejam felizes", ele disse, diplomaticamente. "E espero que um com o outro".
Ele já começou sua carreira pós-"Insecure", com um papel importante em "Top Gun: Maverick", que sai no ano que vem. (O codinome de seu personagem? Payback [Revanche].)
Recentemente, assinou para um papel na comédia romântica "Somebody I Used to Know", e é um dos criadores do podcasts "Written Off", que destaca trabalhos de escritores que serviram sentenças de prisão.
Ellis acompanhou Shoemaker, passando pelo ateliê de moda Dapper Dan, pela loja de roupas Harlem Haberdashery e pelo Harlem Shake, que o ator visitaria para um hambúrguer depois da excursão. Na rua 125, ele parou para ler o texto em um monumento ao político e líder dos direitos civis Adam Clayton Powell Jr.
O fim da excursão foi no Apollo Theater, "onde nascem as estrelas e lendas surgem", disse Shoemaker. Ellis já é uma estrela, mas continua a fantasiar sobre se apresentar em uma das famosas noites de calouros do teatro. Fazendo o que, cantando? Contando piadas? "Tudo isso", disse Ellis com um sorriso sedutor. "Faria tudo isso".
Shoemaker apontou para um retângulo desocupado na Calçada da Fama do Apollo, ao lado do nome de Lionel Richie. "Consigo ver o nome Jay Ellis bem ali", ele disse.
Ellis posou para fotos com um fã ou dois, entre os quais um adolescente que o reconheceu do thriller "Escape Room". Depois, ele e Shoemaker se despediram amistosamente. "Muito obrigado, chefe", disse Ellis, tomando o caminho de volta pela rua 125. "Pode avisar sua mãe que vou aparecer. Estou com fome".
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci