Thiago Fragoso defende voto em mulheres e diz que desigualdade de gênero é inaceitável
Ator, que renovou com Globo e está em 'Salve-se Quem Puder', afirma não ter vaidade
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Se não fosse ator, Thiago Fragoso, 39, arrisca dizer que teria cabelão e uns dez quilos a mais. "Eu não sou muito vaidoso e não sei como seria, porque eu estou sempre com a cara do personagem", afirma. O visual atual é de Alan, o mocinho de "Salve-se Quem Puder" (Globo) que, assim como ele, não liga muito para a própria aparência.
Cabelos desgrenhado e roupas amassadas refletem na trama a vida caótica do advogado workaholic viúvo e pai de três filhos. Mas isso vai mudar quando a novela de Daniel Ortiz, que teve de ser interrompida por causa da pandemia do novo coronavírus, voltar ao ar em 2021. Apaixonado por Kyra (Vitória Strada), Alan atende a um pedido dela, corta os fios e começa a se arrumar mais. Fragoso já passou pela transformação, uma vez que a retomada das gravações do enredo aconteceu em agosto.
"Gosto de mudar [o visual] principalmente no meio da novela, porque eu sempre busco fazer uma curva dramática em todos os personagens que eu interpreto. Eles começam de uma forma e terminam de outra. E as pessoas em casa veem essas mudanças e embarcam nessa história também", afirma.
Em meio a uma onda de demissões que atingiu nomes de peso da Globo como Antonio Fagundes, Tarcísio Meira e Glória Menezes, Fragoso foi na direção oposta e teve seu contrato renovado por mais quatro anos. Ele estreou na emissora em 1996, em "Malhação de Verão". Mas foi a partir de 2001 que começou a se destacar no canal.
Protagonizou sucessos como os remakes de "O Profeta" (2006) e "O Astro" (2011). Outro papel marcante foi Niko, de "Amor à Vida", que termina ao lado de Félix, o vilão vivido por Mateus Solano que se humaniza no final da trama. "Salve-se Quem Puder" é a sua 15ª novela na empresa, e ele já está reservado para outra produção em 2021.
Fragoso se diz "muito tímido" e conta que não gosta de exibir ou falar da sua vida fora da TV. "Eu sempre tive uma postura ideológica de não aparecer muito, porque como eu sou ator, a ideia é que os personagens fossem conhecidos, e não eu. Sempre achei que isso atrapalharia a experiência do público. Se o público me conhece muito, sabe muito quem eu sou, na hora em que vê um personagem meu, como é que vai embarcar nessa história desse personagem?", indaga.
Isso mudou, diz ele, com a explosão das redes sociais. Interagir com o público por meio do Instagram ou de outras plataformas virou parte da dinâmica de trabalho do ator, afirma. "As redes sociais funcionam como um catalisador. E o que me dá mais prazer é quando estou divulgando algum trabalho ou cena por esse meio", reforça.
Aos poucos, Fragoso conta que está começando a falar sobre as suas crenças e posicionamentos. "As coisas que eu penso que a gente tem que brigar para construir um mundo melhor, entendeu?". No Instagram, rede em que soma 2,3 milhões de seguidores, ele faz questão de defender o SUS (Sistema Único de Saúde), comemorou a derrota de Donald Trump nas eleições americanas, e se posicionou contra a forma como a Justiça tratou a acusação de estupro feita pela influenciadora digital catarinense Mariana Ferrer –ela foi hostilizada durante a audiência, e o acusado absolvido.
O ator também já declarou que só vai votar em mulheres nas eleições do dia 15 de novembro como forma de combater a desigualdade de gênero na política. Ele pondera que não pretende entrar na polarização que, na sua opinião, só atrapalha o debate. "Temos que tentar manter o diálogo. É até uma questão que eu vi recentemente sobre os terraplanistas. Vi um cientista falando que é irresponsabilidade a gente zoar, fazer piada. Quanto mais você ridiculariza, mais você transforma aquilo num nicho que não vai se comunicar com mais ninguém", afirma.
Fragoso diz que procura se manifestar quando o assunto "é uma questão humana". "Por exemplo, o racismo. É inaceitável, não existe postura política que possa aceitar isso. A desigualdade de gênero na política ou em cargos econômicos. Não estamos no século 18, tem que acabar com isso. Não é, 'ah, eu gosto de partido tal'. Não tem nada a ver com isso. São questões do ser humano, da ecologia. Não podemos deixar que as diferenças políticas interfiram nesses temas", complementa.
Por se dizer "muito tímido", Fragoso revela que por muito tempo colocou filtros para impedir haters e palavrões em comentários nas suas redes. "Pô, o cara vai entrar no meu perfil e falar Globo lixo? Não, desculpa, é um troço agressivo", diz. "Isso é até engraçado. Quem é muito de esquerda diz que a Globo é de direita, e quem é de direita diz que a Globo é de esquerda, e a gente acaba pagando o pato porque não temos nada a ver com isso", acrescenta.
Recentemente, porém, ele resolveu tirar todas as proteções para observar a reação do público. Sobre a sua defesa de votar em mulheres, diz que recebeu muitas respostas positivas. "Vamos deixar as pessoas falarem. Se alguma for desrespeitosa, eu apago o comentário. Até agora, não tive nenhum comentário agressivo. Tenho tido essa boa sorte."
PAI EM TEMPO INTEGRAL
Durante a quarentena, Fragoso foi pai pela segunda vez. Em abril, nasceu Martin, fruto do seu casamento com a atriz Mariana Vaz. Eles também são pais de Benjamin, 9. O começo, diz o ator, foi "punk", mas com o tempo, tudo foi se ajeitando. "E eu adoro bebê, adoro dar banho."
Em setembro, para gravar uma cena de beijo com Vitória Strada, Fragoso teve de ficar uma semana em isolamento num hotel, seguindo os protocolos da Globo na retomada das gravações. O ator levou o filho mais velho, já que Mariana precisava cuidar do menor que exige uma atenção maior por ser um bebê. "Foi uma semana sem sair do quarto, de bagunça. Ele ficou liberado do tempo de videogame, teve uma cama de casal só para ele, que ele achou incrível. Acho que do limão conseguimos fazer uma limonada".
Perguntado sobre as dificuldades de gravação por causa das medidas de segurança contra a Covid-19, Thiago Fragoso conta que está fluindo mais fácil do que imaginara. "Pensamos que seria mais lento, nós estamos conseguindo cumprir os planos de gravação. Acabou que a gente meio que internalizou os processos, então, é mais fácil, já sabemos quando é que vai ter que entrar o acrílico, quando um coloca a máscara, depois quando é o outro."
Para quem está ansioso com a volta de "Salve-se Quem Puder", o ator afirma que o público pode esperar muita diversão, trapalhadas e reviravoltas. "A ideia é que a novela seja um escape, um alívio cômico para as pessoas", afirma. Terá também muito romance, especialmente no núcleo dele. O triângulo amoroso formado Alan, Kyra e Rafael (Bruno Ferrari) ganha mais um elemento com a entrada de Sophia Abrahão como Júlia. "Ela entrou para botar mais uma pimenta na história", conclui.