Celebridades

Cecília Gama supera traumas e rejeições por ser trans ao vencer Born to Fashion

Modelo de 20 anos conta que o momento mais difícil foi lidar com o corpo

Nossas colunas são exclusivas para assinantes. Continue lendo com acesso ilimitado. Aproveite!

3 meses por R$1,90

+ 3 de R$ 19,90 R$ 9,90

Tenha acesso ilimitado:

Assine

Cancele quando quiser

Já é assinante?

Faça login
São Paulo

Campeã da primeira temporada do reality de modelos trans Born to Fashion, do canal E!, a baiana Cecília Gama, 20, deseja mudar de vida. A revelação da vencedora foi nesta quinta-feira (15) após mais de um ano das gravações terminarem.

Ela diz ter aguardado todo esse tempo com ansiedade e que vai, enfim, dar continuidade a seu sonho e trabalhar com moda. Feliz da vida com a visibilidade que a atração trouxe para ela, a modelo pensa agora em atingir a tão sonhada independência.

"Quero trabalhar muito, viajar o mundo, levar uma mensagem e mostrar que pessoas trans merecem respeito e um lugar. Adoro quando recebo mensagens de pessoas que se enxergam em mim. Isso é o que eu sempre quis na vida", afirma Gama, natural da cidade de Valença, em entrevista ao F5, por telefone.

Escolhida a melhor entre às dez candidatas trans da competição, Cecília Gama se destacou sobre as demais participantes em critérios que avaliavam postura, passarela e outros atributos do universo da moda. Com a vitória, a modelo ganhou um ano de contrato com um agência de modelos e estampará a capa da revista Harper’s Bazaar. Ela revela que ninguém do seu emprego, em telemarketing, sabe de sua conquista: "Vai ser uma surpresa".

"É importante estar na capa de uma revista. É mais que um símbolo da minha trajetória. Um símbolo de vitória trans, nordestina. Eu me sinto orgulhosa e quero ser exemplo", diz a jovem, que parou o curso de psicologia no terceiro semestre para entrar no Born to Fashion.

Cecília Gama afirma que a vitória é um importante marco em sua vida, já que enfrentou resistência dentro de sua própria casa durante sua transição. Ela diz que sua mãe até hoje ainda não a aceita. "Mesmo assim, eu fui sortuda. Embora minha mãe nunca tenha me aceitado, eu tive sorte de nunca ser expulsa de casa, como acontece com muitas pessoas na minha comunidade."

Hoje, diz ela, não mora mais com a mãe e tenta uma vida sozinha –só mantém contato com a avó e as irmãs. Gama reforça que o preconceito a ajudou em sua construção e o vê como algo positivo. "Evoluí com o programa. Consegui ter uma independência maior, aceitar mais quem eu sou e meu corpo."

Ela explica que sempre teve dificuldade em lidar com o seu corpo e revela que tinha apenas três meses de transição quando foi convidada por um produtor de elenco do reality do E! para participar do Born to Fashion. Gama afirma que no começo da atração ainda tinha muitas incertezas e inseguranças.

Cecília Gama afirma que o convívio com as demais trans do elenco a ajudou a superar esses dilemas e, algumas participantes, se tornaram suas grandes amigas. Essa interação com as demais modelos a fez se sentir mais confiante, o que a ajudou a vencer a competição.

"Antes eu tinha vergonha de tudo. Agora consigo me decifrar em outras perspectivas, me ver em outros espaços. Posso entrar em lugares que desejo. Eu me enxergo uma pessoa mais forte, apesar de a ficha ainda não ter caído."

A modelo afirma que sua vitória é o início de uma vida melhor. Ela diz que vai terminar a faculdade de psicologia, mas que seu desejo é se consolidar nas passarelas, nos palcos e até, caso seja possível, participar de outros programas de TV e realities.

"Quero mostrar nossas demandas a quem não entende todo o processo pelo qual passamos. Quero levar a mensagem de que nós, pessoas trans, também merecemos oportunidades. Trans, pretos, nordestinos. Queremos ser felizes", conclui.