Celebridades

Mariana Goldfarb diz que superou pressão por beleza: 'não adianta me retalhar para ser outra pessoa'

Modelo, que já sofreu com anorexia, fala sobre padrões inatingíveis impostos às mulheres

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São Paulo

A modelo e apresentadora Mariana Goldfarb, 30, enfrentou dificuldades para lidar com os rígidos padrões de beleza impostos pela indústria da moda. Após superar uma anorexia, ela reflete sobre as expectativas inalcançáveis sobre o corpo das mulheres e diz que servem apenas para causar dor e tristeza.

“Não adianta eu tentar me recortar inteira, me retalhar inteira para virar outra pessoa. Eu sou assim, a minha estrutura é essa, eu posso estar na minha melhor saúde, na minha melhor versão, mas eu não posso querer mudar como eu nasci” afirma Goldfarb, mulher do ator Cauã Reymond. “Eu sofri muito já. Hoje em dia eu sou bem mais relaxada, bem mais consciente de que isso é ilusão.”

Para ela, faz parte de ser mulher nos dias de hoje uma infinidade de facetas, entre elas aprender, ser resiliente, e lutar por direitos iguais. “Ser mulher é saber do tempo, é saber quando vai chover. Ser mulher é ser borboleta, passarinho e é ser onça, ser golfinho”, diz.

Ser mulher é…
Ser mulher é ser forte, é ser doce, ser justa, ser compreensiva, ser geradora de vida, ser companheira, aprender e saber dar. É não desistir, é ser batalhadora, é pensar mais nos outros, muitas vezes mais do que em si mesma. É aprender a não pensar mais nos outros do que a si mesma. Ser mulher é entender que tudo bem se não estiver tudo bem. Ser mulher é ser gentil, ser mulher é ser amiga, ser mulher é insistir, persistir. Ser mulher é amar, ser mulher é dar à luz. Ser mulher é saber receber a luz. Ser mulher é estar conectada à natureza, ser mulher é estar conectada com a lua, ser mulher é estar conectada com o mar, com as estações do ano, com a terra. Ser mulher é saber do tempo, é saber quando vai chover. Ser mulher é ser borboleta, passarinho e é ser onça, ser golfinho. Ser mulher é ceder e não ceder. Ser mulher é dizer sim e dizer não, ser mulher é aprender a dizer sim e a dizer não, principalmente a dizer não. Ser mulher é lutar, lutar pelo que acredita, lutar pelos direitos iguais, lutar pelo nosso espaço na sociedade, na nossa vida pessoal e profissional, no nosso casamento, nas nossas relações, nas nossas amizades. Ser mulher é muito bom, não trocaria por nada, eu amo ser mulher. Eu amo ser mulher.

Você já foi vítima de assédio sexual? Como lidou com isso?
Sim, eu já sofri assédio no lugar de trabalho. Eu era muito nova, então não sabia e nem entendia o que que era aquilo na verdade. E demorou um tempão para eu conseguir conversar sobre isso, porque a gente se sente exposta, vulnerável, diminuída, fraca, e muitas vezes não sabe como conversar sobre isso, com quem conversar sobre isso, não confia em ninguém. É um absurdo, na verdade, como as pessoas que acham que tem mais poder, elas usam desse poder para as suas próprias vontades.
​Isso é uma coisa que tem que acabar. Tenho certeza que grande parte das mulheres já sofreu algum tipo de assédio. E é muito sério, acho que as empresas têm que cada vez mais criar recursos para que a gente possa se expressar sem sentir medo, para que a gente possa falar sem sentir medo de ser demitida, de ser exposta. Eu lembro que eu fiquei com isso na cabeça, bastante tempo, até hoje na verdade. E o que eu puder fazer para ajudar outras pessoas a não passarem por isso ou então para poderem se posicionar... Porque na época eu não me posicionei, até hoje eu não me posicionei.

As mulheres têm buscado mais união entre elas e deixado de lado a rivalidade?
Eu acredito nesse movimento de mulheres dando as mãos, acredito mesmo. A gente é ensinada desde garotinha que a gente tem que ser melhor do que a amiguinha sempre, estar mais bonita que a amiguinha, ser mais inteligente que a amiguinha. E isso foi gerando um grande sintoma de competição universal entre as mulheres, onde é claro que os homens super se beneficiam e as maiores prejudicadas somos nós mesmas.
Eu acredito que a gente está abrindo os olhos, a gente está despertando, eu acho que a nossa consciência ela está florescendo para uma coisa mais de cooperação, de amizade, de sororidade, de compaixão, de se colocar no lugar do outro, de não competir, de entender que a gente tem que ser melhor na nossa melhor versão. E se tem alguém com quem a gente tem que competir para ser melhor a cada dia é com a gente mesmo, com os nossos demônios, os nossos defeitos, e eu acho que isso está cada vez mais e mais claro, e acho que isso está acontecendo em uma escala cada vez maior, eu consigo ver isso, tanto no trabalho, quanto nas relações pessoais, então eu acho que eu acredito que isso vai cada vez aumentar e crescer mais.

Você se sente pressionada a se enquadrar em um determinado padrão de beleza? Há um padrão?Trabalhando nesse meio é difícil não se sentir pressionada, ainda mais para estar dentro do padrão né? Estar com tudo no lugar, digamos assim. O que é uma falácia, uma mentira enorme, porque há muitos padrões que são inalcançáveis, inatingíveis e só causam dor, tristeza, frustração e depressão naquelas pessoas que tentam se encaixar neles. Eu mesma já passei por uma anorexia por tentar me encaixar num padrão. Não adianta eu tentar me recortar inteira, me retalhar inteira para virar outra pessoa. Eu sou assim, a minha estrutura é essa, eu posso estar na minha melhor saúde, na minha melhor versão, o que eu acho ótimo, mas eu não posso querer mudar como eu nasci. Então, assim, eu sofri muito já, hoje em dia eu sou bem mais relaxada, bem mais consciente de que isso é ilusão.

Você mantém uma preocupação com a estética?
Claro, a gente pode querer estar bonita, qual é o problema disso? A gente pode fazer coisas para se sentir bonita, isso fala de autoestima, isso fala de saúde, mas tentar se encaixar, tentar ser igual a alguém, tentar botar uma bola num quadrado não vai funcionar, entendeu? Então eu desencanei muito. Cuido de mim, cuido do meu corpo, cuido da minha saúde, cuido da minha alimentação, me nutro de coisas boas, de pensamentos positivos, faço tudo que eu posso para me sentir melhor, mas não compro mais a ideia que a perfeição existe, porque ela definitivamente não existe.
ssa ideia chegou para trazer muito sofrimento para as mulheres, para a gente comprar muitos produtos, para a gente ficar rendida, na verdade, virar marionete, ser manipulada, quando na verdade temos infinitas formas de beleza, infinitas mulheres lindas, cada uma no seu estilo, cada uma no seu jeito, cada uma na sua cor, cada uma na sua personalidade. Tentar transformar todo mundo em boneco de cera é horrível, é uma tristeza, é quase um crime contra nós mulheres, cada uma de nós que tem tanto para dar. O seu cabelo, seja ele como for, ele é o seu cabelo. A sua sobrancelha é a sua sobrancelha, o seu olho é o seu olho, o seu corpo é o seu corpo, e trabalhe para ser melhor no que você puder, dentro do que você é, mas nunca se compare ou tente se encaixar ou se enquadrar num outro estereótipo que não seja você mesma, porque isso traz muito sofrimento, porque foi isso que eu aprendi

Ser mulher em 2020 é melhor do que no tempo de sua mãe ou avó? Qual a mudança que você almeja para as crianças que estão nascendo agora?
Ser mulher agora é melhor que no tempo da minha avó, com certeza. Porque agora a gente pode falar, a gente pode se expressar, a gente pode trabalhar. Na época da minha avó, ela vivia para o marido e vivia para a casa e acredito que muitas mulheres foram felizes assim. Mas eu também acredito que muitas detestaram essa vida, que obedecer, serem submissas, tendo que deixar de lado os sonhos, as ambições, os desejos.
Isso acontece, sim, até hoje, por sinal, mas agora a gente tem o livre arbítrio. Eu lamento muito pelas minhas avós, elas só conheceram um tipo de vida, hoje a gente vai vem, tem liberdade sexual, a gente tem liberdade de expressão, a gente pode escolher a carreira que a gente quer trilhar, a gente pode se dedicar aos estudos, a gente pode se dedicar a outra coisa que não seja a casa. E se a gente quiser se dedicar a casa, a gente também pode seguir por este caminho.