Celebridades

Ícaro Silva diz que 'Verão 90' mostra negro de uma forma nova na televisão brasileira: 'Um galã preto'

Ator afirma que Ticiano é um homem muito legal e interessante

Rio de Janeiro

O ator Ícaro Silva, 32, afirma que não gosta de discursar sobre racismo o tempo todo, mas não deixa de apontar a felicidade que sente ao interpretar um “galã preto” na novela “Verão 90” (Globo). Segundo ele, seu personagem, Ticiano, aparece em um lugar novo e diferente na televisão brasileira. 
 
“Ele basicamente um galã, sem a justificativa da negritude, sem qualquer coisa que procure colocar ele em um nicho específico. Ele só é um homem muito legal, interessante, divertido, talentoso e que está apaixonado pela Dandara (Dandara Mariana)”, afirma o ator, que já soma mais de 20 anos de carreira.
 
Na trama atual, Ticiano disputa o amor da dançarina de lambada com Quinzinho (Caio Paduan). Com quem Dandara vai ficar, ninguém sabe ainda, mas Silva torce para que ela invista no romance com Ticiano. “Eles são um casal de pretos numa novela. Acho muito legal que a gente explore a afetividade preta, porque fazemos isso muito pouco.”
 
Para Silva, apesar da necessidade de falar sobre racismo, é importante fazer um personagem negro que não está necessariamente militando. Segundo ele, Ticiano é um personagem que brilha independentemente de qualquer coisa, mas que, ao mesmo tempo, não deixa de militar porque brilha muito dentro do que é, é um barato”.

O ator, que fez dreads para compor o visual do personagem, diz que sugeriu à direção que Ticiano mostrasse sua baianidade e uma ancestralidade afro na trama. Ele mesmo se inspirou em nomes como Beto Jamaica e Compadre Washington, do grupo de axé É O Tchan. 

“Eles são muito felizes e eu acho que isso tem a ver com o Ticiano também [...] É O Tchan teve cinco álbuns fazendo a festa da galera, com todas as coreografias prontas. Sei lá como a gente aprendia, porque não tinha internet, mas chegava na hora de dançar e todo mundo estava com sua coreografia em dia”, relembra aos risos. 

Silva também revela uma certa familiaridade com a lambada, tão lembrada na novela, tendo participado de um concurso do ritmo aos seis anos. “Minha mãe comprava roupa de lambada para mim e para a minha irmã. É uma lembrança do início dos anos 1990, e o Ticiano também se baseia um pouco nesse lugar. É O Tchan, Companhia do Pagode, Harmonia do Samba... Isso pegou muito.”
 
A composição de Ticiano também foi facilitada pela experiência de Silva no espetáculo musical “Ícaro and the Black Stars”, que ele considera ser a maior realização de sua vida até hoje. “Os musicais me ajudam muito em todos os personagens, não só nos que têm alguma musicalidade, mas em qualquer outro personagem por conta da disciplina que o musical precisa, uma vez que tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo”, afirma o ator.
 
O espetáculo estreia sua terceira temporada no Rio e está em cartaz até o dia 26 de maio, no Teatro Municipal Carlos Gomes, na praça Tiradentes, no centro da cidade. As apresentações acontecem às sextas e sábados às 20h e domingos às 18h. “Todo domingo tem uma palestra depois do espetáculo sobre a afro-brasilidade”, informa Silva.
 
Orgulhoso, ele diz que este trabalho confirma seu lugar de artista autônomo. “É muito bom quando a gente consegue reunir coletivamente um time e fazer um projeto de uma coisa que você acredita muito.”