Iza diz que Dia da Mulher reacende debates: 'Ser capa de revista não significa que racismo acabou'
Em entrevista, cantora fala sobre luta, maternidade e empoderamento
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De 2017 para cá, não passou tanto tempo. Mas se usarmos Iza como referência, foi um salto. No ano, a carioca ficou famosa nacionalmente com o hit "Pesadão", que já entoava a sua força em trechos como "Eu sei que vão tentar me destruir, mas vou me reconstruir, voltar mais forte que antes".
No ano seguinte, com versos mais doces, mas empoderados, "Dona de Mim" foi um dos maiores sucessos da carreira da cantora. O nome da canção é autoexplicativo e Iza, de fato, é dona de si mesma.
Em entrevista à Folha, ela fala sobre o Dia da Mulher, que acontece nesta sexta-feira (8), além de temas como racismo, empoderamento e os desafios diários ainda enfrentados pelas mulheres.
"Queria dizer que todo dia é nosso dia. E que eu torço para que cada dia que passe, as mulheres possam se sentir seguras e mais felizes com o nosso 'ser mulher'", diz a cantora de 28 anos. "Que nós continuemos a nos unir, porque é isso que faz a diferença".
F5 - O que você pensa sobre o Dia da Mulher?
Iza - Seria interessante se a gente não precisasse de Dia da Mulher, Dia da Consciência Negra ou coisas do tipo para lembrar o quão importantes são essas lutas. Estamos em 2019 e ainda vemos mulheres sendo assassinadas, violentadas. Ainda vemos gente sendo descriminada. A gente ainda tem muita coisa para melhorar.
Eu sonho com o dia em que a gente não precise ter um data exata para as pessoas se conscientizarem da importância. Mas infelizmente vivemos em um mundo cheio de preconceitos e isso ainda é necessário. Por mais que eu acredite que todo dia é nosso dia, acho que datas assim ajudam a reacender debates.
Quanto aos presentes [recebidos no Dia da Mulher], acho que não existe regra. Aliás, nunca achei, em nenhuma época do ano. Cada um presenteia com aquilo que tem de melhor, fica a critério de cada um.
Quais os maiores desafios que as mulheres enfrentam hoje?
A gente caminhou bastante, se organizou e eu vejo que as mulheres, cada vez mais, estão conscientes e se sentindo fortalecidas para falarem, denunciarem e se unirem.
Mas uma coisa que eu observo é que, ainda assim, para que tudo corra bem na nossa vida e para que a gente se sinta segura, é necessário que todos sejam conscientes. Não adianta eu ser super empoderada e ter a certeza de que meu corpo e minha roupa não são um convite, se eu estiver andando sozinha na rua e for apontada por uma pessoa machista. Do alto de todo o meu empoderamento eu ainda vou ser atingida por isso.
Acho que um dos maiores desafios das mulheres é se organizar e denunciar sempre, para mostrar que isso não é besteira.
Você vê as mulheres negras tendo mais conquistas nos últimos anos?
Acho que o feminismo é muito plural e ele precisa abraçar todas as mulheres. É uma questão política e social. Mas é uma luta diferente. Nós estamos dentro do feminino, mas infelizmente temos conquistas e preocupações diferentes.
Sim, eu tenho visto mais mulheres negras na TV, tenho visto mais mulheres negras dona dos seus cabelos, sem se preocupar com a opinião dos outros, tenho visto marcas dando destaque para nossas características. Mas eu ser capa de uma revista não significa que o racismo acabou.
Você percebe as mulheres se unindo mais?
Com certeza. As redes sociais nos ajudaram a estarmos mais perto umas das outras. Às vezes uma mulher que sofre assédio ou violência pode pensar que está sozinha, mas quando ela encontra outras na mesma situação ou outras que a apoiam, ela se sente à vontade para falar sobre o assunto. A gente tem se organizado.
As mulheres são muitas vezes associadas à maternidade. O que você pensa sobre isso?
As mulheres são muitas vezes associadas à maternidade porque quem dá à luz somos nós. Claro que muitas vezes nos dizem que isso é uma obrigação, mas a sociedade tem que entender que isso é escolha de cada uma. O momento, se quer ou não, a hora certa... Tudo isso é um pensamento muito pessoal.
Eu tenho o sonho de ser mãe, quero ter o máximo de filhos que eu puder ter, mas isso não é uma obrigação. Está mais do que na hora de todo mundo entender isso.