Míriam Leitão, Margareth Dalcolmo: os possíveis candidatos à vaga de Cacá Diegues na ABL
Caetano Veloso é um sonho antigo da casa e já recusou convites anteriores; escritor Alberto Mussa agradece a lembrança, mas não quer fazer parte do grupo
A cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras está vaga desde a morte de Cacá Diegues, na sexta-feira (14), em decorrência das complicações de uma cirurgia. Um fim de semana se passou e alguns nomes já vêm sendo apontados por outros imortais como prováveis candidatos à sucessão do cineasta.
Benquista na casa presidida por Merval Pereira, seu companheiro de Grupo Globo, a jornalista Míriam Leitão surge como uma possibilidade "muito interessante", segundo um dos acadêmicos ouvidos pela reportagem.
Marido de Míriam, o cientista político Sérgio Abranches também tem bom trânsito na ABL, onde costuma dar palestras, e é outro nome a ser considerado. A expectativa entre os imortais é que um dos dois se candidate.
Procurada pelo F5, a jornalista diz que se sente honrada de ter sido lembrada. "Quem não se sentiria? A Academia é uma grande instituição. Mas sinceramente, é tudo prematuro. Nesse momento a ABL está em recesso acadêmico, e a vaga só será considerada aberta em março". Sobre o marido, Miriam o descreve como "um grande intelectual e um grande pensador do Brasil". E termina assim sua mensagem: "Vamos ver como as coisas evoluem."
Romancista, contista e ensaísta carioca, Alberto Mussa é um desejo antigo da Academia, e já declinou duas vezes do convite para tentar uma vaga. Ele continua sendo bem-vindo a ingressar na casa, que o considera um bom nome para tê-lo entre seus confrades.
Mussa diz que, caso volte a ser estimulado, "ficaria honrado" com mais essa lembrança, mas não tem interesse em fazer parte do grupo.
"Tenho muitos projetos, um filho de 11 anos com quem quero conviver, não tenho tempo nem roupa para frequentar a Academia", diz, não sem ressaltar o seu apreço por vários acadêmicos. "Sou muito amigo de alguns deles". Sobre sua não candidatura, Mussa toca em outro ponto: "Sou branco, hétero, de classe média alta. Creio que não acrescento nada em relação à questão da diversidade", afirma.
A falta de diversidade é mesmo uma questão para a ABL. A instituição fundada por Machado de Assis em 1897 sofre críticas pela falta de representatividade e de pluralidade, com um grupo de imortais formado majoritariamente por homens brancos. Um influente integrante da casa diz que a instituição é sensível às questões sociais, mas não tem obrigação de cumprir cotas.
Uma mulher negra e com produção literária de respeito, no entanto, seria uma boa alternativa, afirma o acadêmico. Conceição Evaristo é elogiada por suas obras, mas está fora do jogo desde sua malfadada campanha em 2018, quando não bajulou ninguém e acabou sendo derrotada na disputa pela cadeira que pertencera ao cineasta Nelson Pereira dos Santos. Perdeu, de lavada, justamente para Cacá Diegues.
Apesar de a casa "não cumprir cotas", Ana Maria Gonçalves —mulher, negra, e autora do best-seller "Um Defeito de Cor"— é citada por alguns imortais como alguém que teria boas chances de ocupar a vaga.
Caetano Veloso, sonho dourado há anos, também volta a ser lembrado. É consenso entre os acadêmicos que uma candidatura do cantor seria muito bem-vinda, mas Caetano já recusou sondagens no passado. Ele disse que não conseguia se ver "lá dentro", apesar de admirar a instituição. A sensação na ABL, segundo um de seus intelectuais, é a de um "amor unilateral".
Quem se anima com a possibilidade de vir a disputar a vaga é a pneumologista Margareth Dalcolmo. Onipresente nos telejornais da Globo durante a pandemia do coronavírus, ela é viúva do acadêmico Candido Mendes (1928-2022), frequenta os eventos da instituição e conta com a simpatia de grande parte dos imortais. "Fico muito honrada, como escritora, em ver meu nome cogitado à ABL", diz à reportagem.
Ter pelo menos um livro publicado em português é uma condição para a candidatura ser validada.
Dois outros nomes são vistos com bons olhos pela Academia: o músico, compositor, ensaísta e professor José Miguel Wisnik, e o escritor, jornalista e colunista da Folha Sérgio Rodrigues. Wisnik não foi encontrado para falar sobre o assunto, e Rodrigues se diz lisonjeado por ser citado. "Mas não sou candidato", afirma.
As inscrições para a candidatura à vaga de Cacá Diegues serão abertas em meados de março, e a eleição acontece em maio.
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