Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Você viu?
Descrição de chapéu The New York Times

'Boob tape': Empresa desenvolve fita adesiva específica para empinar os seios

Versão industrial pode causar dor, irritação e sangramento quando grudada à pele

Ilustração da nova tecnologia para conter os seios: a fita adesiva - Kelsey McClellan/The New York Times
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Madeleine Aggeler
The New York Times

Os seres humanos são exceções no reino animal por terem seios tão proeminentes, e permanentemente aumentados –o que é uma tremenda vantagem ou um fardo doloroso, a depender de como você contemple a questão.

Por um lado, os seios nos deram muita coisa –como os tops com decote canoa e aqueles comerciais desnecessariamente eróticos da rede de fast food Carl Jr. na metade da década de 2000. Por outro, quando as pessoas que têm seios acordam a cada manhã, encaram questões intermináveis sobre o que fazer com eles.

O melhor é empurrá-los para cima? Comprimi-los? Permitir que balancem livremente, ou subjugá-los em uma jaula de nylon?

A resposta depende do humor, seleção de traje, atividade e paradeiro da pessoa. E também depende do que esteja disponível. Entre as opções há sutiãs que ajudam a erguer os seios; sutiãs sem alças; "bralettes" [sutiãs-top], sutiãs esportivos; e sutiãs adesivos.

Mas talvez os sutiãs tenham se tornado coisa do passado. A mais recente fronteira na tecnologia de contenção de seios é algo de muito mais versátil e que permite dar ao peito a forma necessária para atender a cada necessidade física e de moda, e que, em caso de emergência, também pode ser usado para selar caixas para envio pelo correio.

Estou falando de fita adesiva.

A ideia de usar uma fita para envolver os seios e obter determinada silhueta nada tem de novo. Homens transgênero e pessoas não binárias recorrem a fitas para envolver o peito há muito tempo, por exemplo. E em 2016, Kim Kardashian revelou, no extinto app KKW que um dos segredos de sua figura pneumática nos tapetes vermelhos era o uso de fita adesiva para erguer seus seios aos céus.

"Mas esteja preparada para a dor quando chegar a hora de tirar, LOL", ela escreveu. (Remover fita adesiva industrial grudada à pele pode causar dor, irritação cutânea e sangramento epidérmico.)

Mas um número crescente de empresas agora propõe uma pergunta importante: e se existisse uma maneira melhor de usar fitas para envolver os seios do que recorrer a material desenvolvido originalmente para embalar cabos de aço e condutores elétricos?

Stephanie Montes, antiga editora de beleza e moda, criou a Nue —sua marca de "boob tape" [fita para seios]— em janeiro de 2020. A ideia tinha lhe ocorrido inicialmente cerca de um ano antes, quando ela estava se arrumando para o casamento de um primo. O macacão que ela pretendia usar tinha um decote fundo, que teria exposto qualquer sutiã tradicional, e por isso ela tentou o método Kardashian, usando fita adesiva.

Mais ou menos funcionou, mas o incômodo, os repuxos e o som farfalhante da fita quando ela se mexia foram problemas, assim como a dor horrível na hora de removê-la. "Fiquei me perguntando por que tinha feito algo tão péssimo para o meu corpo", ela disse.

Online, Montes encontrou algumas marcas que anunciavam fitas como a que ela tinha imaginado, mas se sentiu alienada por os produtos todos serem oferecidos apenas em um só tom, bege claro, e por as modelos usadas para retratar seu uso serem todas jovens, e mostradas com fotos retocadas.

"Minha sensação foi a de que aquele produto não era para mim", pensou Montes, que é latina, naquele momento. "Mas se eu pudesse me basear naquilo e criar uma fita que fizesse sentido para todo mundo, e que fizesse com que todo mundo se sentisse incluído, achei que teria uma boa oportunidade".

Montes levou diversos meses desenvolvendo uma embalagem para o produto e procurando um fabricante capaz de produzir a fita adesiva à prova de água e sem látex, nos três tons de cor de pele que ela desejava. (A linha mais tarde se expandiu para quatro tons de pele: claro, meio claro, médio e escuro.) Quando ela enfim tinha o produto pronto, posou para as fotos de divulgação e convidou amigas a fazer o mesmo, e postou vídeos no Instagram que mostravam como usar a fita. "Eu queria que parecesse real", ela disse.

A Nue continua a ser uma operação pequena. Montes é a única empregada em tempo integral, e seu marido ainda a ajuda a embalar as encomendas maiores que precisam ser despachadas. Mas a marca vem registrando crescimento firme, mesmo durante uma pandemia na qual a maioria das pessoas não estava saindo à rua e nem usando suas roupas mais reveladoras (ou, aliás, nem mesmo usando sutiãs).

A fita adesiva Nue agora está à venda em sites de varejo de moda como a Net-a-Porter e Revolve. "Acho que as pessoas estão começando a aprender como usar esse truque para se vestir", ela disse. "Já não parece tão louco ou assustador quanto no passado".

(Kardashian, a rainha da fita adesiva, criou uma linha "Body Tape" em sua grife Skims, em 2019, mas o produto não está mais à venda no site da empresa.)

Abby Arad, estilista cujos clientes incluem comediantes e atrizes como June Diane Raphael e Jessica St. Clair, disse que usa fitas para seios há muito tempo. "Torna tudo muito mais fácil, porque é um produto muito flexível", ela disse. "Você pode cortá-la no formato do top que deseja usar e terá como que um sutiã feito sob medida".

Arad disse que gosta de usar a fita com tops de alças, modelos com decote traseiro e frontal profundo, ou blazers sem blusa por baixo. Algumas de suas clientes hesitam quando ela sugere usar fita adesiva em seus bustos, mas o entusiasmo dela pelo produto em geral basta para convencê-las. "Falo com muita confiança a respeito porque eu mesmo costumo usar a fita com bastante frequência", ela disse.

As roupas de baixo sempre evoluíram, de forma a refletir os ideais estéticos de suas eras. Basta observar a transição dos espartilhos pesados, que enfatizavam as curvas, no começo do século 209, para sutiãs muito menores.

Como disse Valerie Steele, curadora chefe do Museu do Fashion Institute of Technology, "houve uma mudança nos ideais de beleza, do ideal do auge da era vitoriana, altamente voluptuoso, para um ideal mais jovem e esbelto. Como definiu um jornalista de moda por volta de 1900, foi ‘a transição de Vênus para Diana’".

A fita adesiva, nessa analogia, representaria a transição de Diana para uma modelo do Instagram, aperfeiçoada cirúrgica e graficamente. A ascensão no uso de filtros e alterações em fotos, combinada à popularidade continuada de procedimentos cosméticos como plásticas e ampliação de seios, significam que as expectativas estéticas são cada vez mais de que os seios pareçam grandes e empinados, não importa a idade e físico da mulher ou o efeito da gravidade.

"Já que muita gente vem fazendo cirurgias plásticas, corrigindo o traseiro e criando seios mais empinados, uma leve queda, que poderia parecer aceitável 10 anos atrás, agora passa a representar um sinal de que a pessoa não está se cuidando, não está cuidando de sua aparência", disse Steele.

A fita adesiva permite que os seios pareçam mais empinados sem necessidade de cirurgia, dizem as empresas que as vendem. A Nue chega a definir um de seus produtos como "uma plástica de seios portátil", embora Montes ressalte que "é importante sermos mais gentis conosco, e aceitarmos melhor o tipo de corpo que temos".

Além de sua promessa estética, as fitas também são um produto unicamente adaptado à era da mídia social. "No momento, todo mundo se preocupa com criar conteúdo", disse Nataree Leelapatree, fundadora de uma empresa chamada Boob Tape, criada em 2020, e que segundo ela teve US$ 60 mil (R$ 315 no câmbio atual) em faturamento em maio.

Não existem muitas maneiras de demonstrar como colocar e tirar um sutiã.

Mas existem infinitas maneiras de aplicar a fita adesiva. Tutoriais de influenciadoras no YouTube e Instagram mostram a espectadoras com seios de qualquer tamanho diversas maneiras de usar fitas para conter seus seios sob roupas de qualquer modelo, mesmo os mais ousados ou complicados de vestir. Há o estilo coldre, para um top de decote profundo; o estilo cruzado; o "bandeau". Os vídeos que os demonstram duram de 30 segundos a 30 minutos, e alguns deles foram assistidos dezenas de milhões de vezes.

A bem de uma reportagem completa, tentei usar a fita. Pedi algumas online, e em uma manhã de terça-feira as coloquei em uso, com sucesso moderado. Ainda que eu goste de me imaginar como uma mulher de personalidade generosa e empinada, fisicamente eu tenho o que os profissionais de medicina descreveriam como "seios modestos, bojo B", e erguê-los só requereu quatro faixas de 15 centímetros de fita.

Minha aplicação não foi perfeita. Inicialmente, meus seios ficaram desnivelados e, ao tentar fazer ajustes, amarrotei um pouco a fita. Mesmo assim, pude enfim colocar uma camiseta de alcinha e cuidar do meu dia sem preocupação, pronta para o tapete vermelho.

A sensação de ter os seios livres e contidos ao mesmo tempo era libertadora. (Será que é isso que todo mundo quer dizer com "estilo seguro de apego"?) Meu dia parecia ter muito mais tempo livre por eu não precisar reajustar constantemente um sutiã velho que consegue a façanha de parecer frouxo e apertado demais ao mesmo tempo.

Remover a fita naquela noite não foi terrivelmente desagradável, e minha pele toda ficou grudada ao meu corpo, e por sorte sem estouro de veias capilares.

A promessa de recriar a aparência de um busto mais jovem e firme –um busto repleto de potencial juvenil e esperança, imaculado pela passagem do tempo– se provou popular entre as consumidoras. Montes disse que não estava completamente preparada para a dimensão da demanda pela Nue. "Para ser honesta com você, minha ideia era a de que, se eu vendesse o estoque inicial, estaria feliz", ela disse. "Eu realmente não achava que o produto decolaria do jeito que decolou".

Tradução de Paulo Migliacci

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem