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No TikTok, fãs transformam animação 'Ratatouille' em musical

Usuários estão criando uma adaptação ao estilo Broadway do filme da Disney

Cena da animação

Cena da animação "Ratatouille", da Disney Divulgação

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Christina Morales
The New York Times

Com a Broadway e os teatros dos Estados Unidos ociosos por causa do coronavírus, alguns atores, produtores e cenógrafos encontraram um veículo improvável para exibir seus talentos: uma versão musical do filme de animação "Ratatouille", que vem sendo exibida em exuberantes segmentos de 60 segundos no TikTok.

Começando em outubro, milhares de usuários do TikTok, entre os quais muita gente com passagens profissionais pela Broadway, vêm prestando sua homenagem ao filme de 2007 da Disney Pixar, sobre um rato que sonha se tornar chefe de cozinha na França; as pessoas criaram canções, coreografias, looks de maquiagem e figurino, cenários, fantoches e programas teatrais como os da Playbill.

O resultado é um espetáculo virtual sem paralelos na Broadway. Não há diretor, coreógrafo, equipe técnica. O projeto surgiu organicamente no TikTok, cujos usuários têm um minuto de tempo para conquistar a atenção de quem assiste.

No filme, o rato Remy segue o exemplo de um chefe de cozinha famoso que declara que “qualquer um pode ser cozinheiro”. É nesse espírito que profissionais e amadores se uniram para encarar o desafio do musical “Ratatouille”, disse Brandon Hardy, criador de fantoches cujos créditos na Broadway incluem “Charlie and the Chocolate Factory” e “The Pee-Wee Herman Show”.

“Ele jamais permitiu que sua visão fosse limitada”, disse Hardy, 30, sobre Remy, acrescentando que “todos nos apaixonamos por isso, e não queremos que ninguém nos pare”.

O projeto começou em agosto, quando a professora Emily Jacobsen, 26, de Westchester, Nova York, que é fanática por produções Disney e pelo teatro musical, leu sobre uma atração de parque de diversões inspirada por “Ratatouille” que deve ser inaugurada no ano que vem no Walt Disney World da Flórida.

Enquanto fazia faxina em seu apartamento, ela começou a cantar uma canção sobre Remy. Fazendo uma voz bem aguda, ela gravou o que descreve como “balada de amor” ao rato –“Remy, o ratatouille/o rato dos meus sonhos/ Eu o reverencio, meu ratatouille/ Que o mundo recorde seu nome”– e postou um vídeo com a canção no YouTube.

Daniel Mertzlufft, 27, compositor, orquestrador e arranjador, de Nova York, foi uma das pessoas a quem o vídeo de Jacobsen foi encaminhado. No mês passado, ele usou um programa de computador a fim de filtrar o som da ode dela a Remy, e acrescentou uma trompa, vocais e cordas para criar um grande número final ao estilo Disney para a versão musical de “Ratatouille”.

Mertzlufft disse que sua inspiração foi a música composta por Alan Menken para os filmes “A Pequena Sereia”, “A Bela e a Fera” e outros clássicos de animação da Disney.

Desde que Mertzlufft postou seu vídeo, na metade de outubro, milhares de outras pessoas acrescentaram suas contribuições a um projeto que se tornou uma versão virtual de “Ratatouille”. Nos últimos dias, a Disney sinalizou que estava acompanhando o trabalho com atenção, citando a letra de Jacobsen no Instagram e Twitter.

A empresa produziu até um rap para o TikTok, filmado no Epcot Center, onde o brinquedo sobre “Ratatouille” será instalado. “Amamos quando os fãs se engajam com nossas histórias”, afirmou a Disney em comunicado, “e aguardamos a visita de todos esses superfãs ao brinquedo, que será inaugurado no Walt Disney World no ano que vem”.

Kevin Chamberlin, cujos créditos como ator na Broadway incluem “The Addams Family” e “Seussical”, revisitou o filme “Ratatouille” antes de gravar sua contribuição para o musical. Foi o personagem Chef Gusteau, e sua observação de que “qualquer um é capaz de cozinhar”, que falaram a ele, disse o ator.

Um dos temas do filme, ele afirmou, é que até mesmo os mais desajeitados de nós são capazes de encontrar talentos ocultos, bem lá no fundo. Inspirado, Chamberlin se sentou para compor uma canção, enquanto seu marido saía para procurar um chapéu de chefe de cozinha para ele. Devidamente caracterizado, ele se sentou ao piano e cantou “qualquer um pode cozinhar/ basta olhar para dentro de você”

Chamberlin disse que só a pandemia do coronavírus poderia ter trazido um espetáculo como esse. “O que é realmente interessante sobre isso tudo é que, durante a pandemia, a arte está encontrando caminhos, agora que não podemos subir ao palco ou nos apresentar diante de audiências”.

Outros colaboradores ecoam o sentimento, acrescentando que o projeto do musical “Ratatouille” lhes havia dado motivos de esperança durante um período sombrio. “Se levarmos alegria às pessoas, isso já é o melhor sentimento do mundo”, disse Tristan McIntyre, 22, um ator de Los Angeles que ajudou a coreografar uma dança de ratos para o espetáculo.

RJ Christian, 21, que estuda canto na Universidade de Nova York, disse que sua inspiração para o solo com que contribuiu foi o azedo crítico de gastronomia do filme, Anton Ego. Ele disse que queria dar forma a Ego com “acordes estranhos, harmonias apimentadas e uma música meio repulsiva”.

Para Blake Rouse, 17, de Fort Collins, Colorado, o projeto do musical “Ratatouille” foi uma maneira de canalizar o entusiasmo que ele havia perdido com o cancelamento da produção de “Newsies” de que participaria em sua escola. Rouse contribuiu om diversas canções baseadas em cenas do filme, entre as quais um tango entre os dois chefes de cozinha e um dueto entre Remy e seu irmão.

“O projeto deixou de ser uma piada destinada a um nicho de usuários do TikTok”, ele disse. “Agora se tornou uma coisa com a qual as pessoas se importam, e que elas começam a acompanhar fielmente”.
As contribuições vão além de números musicais. Hardy, o criador de fantoches, fez máscaras e pequenos bonecos para o espetáculo virtual, e chegou a usar lixo para criar alguns elementos.

“Criamos alguma coisa que engaja as pessoas em todos os níveis”, ele disse. “Pessoas de todas as faixas etárias ficam fascinadas com isso e querem contribuir. Até onde sei, nunca houve um espetáculo ou musical na história que operasse dessa maneira”.

E Christopher Routh, 30, de Chatham, Nova Jersey, usou caixas para criar elaborados cenários miniaturizados para o espetáculo, completos, com iluminação e um conjunto robotizado da Lego para movimentar as peças. ‘É uma tendência incrível, como nossa comunidade pode se unir dessa maneira e criar um musical do nada”, ele disse. “E tudo começou com uma garota”.

Tradução de Paulo Migliacci

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