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'Como virei (sem saber) garota-propaganda do McDonalds e várias outras marcas'

Sul-africana viu fotos de ensaio sendo usadas no mundo todo

Shubnum Khan tirou uma foto para um ensaio quando estava na faculdade, mas não imaginava o que aconteceria depois daquilo
Shubnum Khan tirou uma foto para um ensaio quando estava na faculdade, mas não imaginava o que aconteceria depois daquilo - BBC News Brasil
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Soraya Auer
BBC News Brasil

Quando ela não está dando boas-vindas a imigrantes ao Canadá e ao Uruguai, Shubnum Khan está vendendo tapetes em Nova York, conduzindo caminhadas no Camboja ou apaixonando-se na França. Seu rosto já esteve em uma propaganda do McDonald's na China e em uma clínica dental nos Estados Unidos.

Mas Shubnum Khan não é nenhuma dessas coisas. Ela é uma autora sul-africana. Tudo começou em 2012, quando uma amiga do Canadá publicou uma foto em seu perfil de Facebook. Era uma propaganda promovendo imigração em um jornal canadense. "Parece você", a amiga comentou. Outros amigos comentaram que "com certeza" era ela.

"Eu não ligo de estar em propagandas sobre imigração, mas fiquei muito confusa", ela conta de sua casa em Durban, na África do Sul. "Não entendia como meu rosto pudesse estar em um jornal do outro lado do mundo."

E então outro amiga comentou: "Ei, nós não fizemos um ensaio de fotos há alguns anos?".

'NÃO LEMOS AS LETRINHAS PEQUENAS DO CONTRATO'

Dois anos antes, aos 24 anos, Shubnum e uns amigos da faculdade participaram de um ensaio fotográfico gratuito chamado cem Faces Shoot (ensaio de cem rostos).

O fotógrafo prometeu retratos profissionais a cem pessoas em troca do ensaio. "Pensei que a foto seria usada para seu portfólio ou um projeto artístico", lembra a autora, que hoje tem 33 anos. "As pessoas lembram dele ter mencionado um projeto artístico."

"É muito rápido –você assina um papel, entra, o fotógrafo diz 'sorria para a foto'. E definitivamente não me disseram que minha foto seria usada para um banco de imagens." "No começo, achei engraçado", ela diz, sobre ter encontrado várias versões de seu rosto no banco de imagens. "Mas com o tempo, vi que havia muitas fotos e que eu não ganhava dinheiro com isso."

Ela entrou em contrato com o fotógrafo, que confirmou que ela havia aberto mão do direito das fotos, que hoje eram de bancos de imagens para os quais ele vendia. "Assinamos um contrato", ela escreveu no Twitter, "mas não lemos as letrinhas pequenas. Foi idiota."

'FOI DESONESTO'

Uma pessoa explicou para Shubnum como fazer uma busca reversa de imagem pelo Google, que permite que você encontre imagens semelhantes às que você está buscando. "Eu encontrei mais de 50 versões", ela diz. "Meu rosto é famoso, embora ninguém me conheça."

Mas o que mais a chocou foram relatos e testemunhos falsos associados à sua foto, como se ela tivesse dito determinadas coisas. "Os testemunhos são os mais chocantes para mim", ela diz. "Eu pensava que entendia como fotos de bancos de imagem funcionam. Mas é uma trapaça, porque nunca se sabe quando vão usar um nome falso com um testemunho falso."

Ela diz ter se assustado em particular com um anúncio de um produto de beleza com seu rosto e um testemunho dizendo como o produto lhe ajudou a tirar manchas da pele após uma gravidez. Em 2013, ela resolveu entrar em contato com o fotógrafo para lhe pedir ajuda.

"Precisei tomar coragem para lhe pedir porque achei que ele diria 'não'", ela lembra. "Eu disse que sabia que havíamos assinado um contrato, mas não fazia ideia que minha foto seria usada daquela maneira."

"Ele disse que lamentava que eu me sentisse mal, mas que era tudo legal e havia sido explicado para nós antes", disse Shubnum. "Mas ele concordou em tirar a foto de seu site." Shubnum diz estar certa de que não havia sido informada que a foto seria usada em banco de imagens.

E completa: "Ninguém me disse que entraria para um banco de imagens, ninguém me disse que meu nome seria distorcido. Se alguém tivesse me dito isso, eu não teria assinado o documento".

ALERTA

Segundo Shubnum, algumas das cem pessoas fotografadas com ela em 2010 já encontraram imagens suas em bancos de imagens. Embora o fotógrafo tenha removido sua foto do banco, Shubnum ainda vê seu rosto em propagandas que já tinham compraram sua imagem.

Não tantas como antes, ela diz. A última vez que viu uma foi em uma propaganda para vender casas há alguns meses. Sua história viralizou no Twitter –outras pessoas entraram em contato para compartilhar suas descobertas em bancos de imagens. Algumas dizem que seu (falso) testemunho as inspirou.

Shubnum diz que não culpa o fotógrafo que tirou sua foto e não considera processá-lo. "É uma ótima história para contar no bar", diz, embora agora queira também compartilhar sua história como um alerta. "Eu vejo como fomos usados tão facilmente", afirma. "Me sinto um pouco idiota e não quero outras pessoas fazendo os mesmos erros."

"Não caia por ensaios fotográficos gratuitos, leia tudo o que você assinar e também não acredite na maioria das coisas que você lê na internet", ela tuitou. "Pense sobre o que você está fazendo e sobre quem está ganhando com isso." "Você pode pensar que é algo pequeno, mas no final, acaba assinando e abrindo mão do seu próprio rosto. Eu vendi meu rosto sem saber e de graça."

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