O 'Hospital do Amor' que 'salva' casamentos separando maridos e mulheres infiéis de seus amantes
Uma nova indústria surgiu na China: empresas que ajudam maridos e mulheres a separarem seus cônjuges infiéis dos amantes. É o chamado "desaparecimento de amante", que custa milhares de dólares.
Um dos clientes é uma mulher de meia de idade que usa um vestido preto e enormes óculos escuros. No escritório mal iluminado do Hospital do Amor Weiqing, ela pede à BBC que seu nome real não seja divulgado, mas aceita conversar sobre suas experiências com o serviço da empresa --a mais famosa do ramo em Shangai.
Com uma voz baixa e trêmula, a mulher --que vamos chamar de Sra. X-- me diz que o seu relacionamento com o marido saiu de uma crise mais forte do que era no passado. "Achava que era um casamento antes, mas agora vejo que é algo melhor. Isso é que é viver", afirma.
Ela conta sobre as muitas semanas de aconselhamento que recebeu, além de lições sobre positividade e sobre como ser uma "mulher melhor e mais dedicada".
Ming Li, cofundadora do Weiqing, aconselha mulheres como ela --que formam a maioria absoluta dos clientes-- sobre os "segredos de um casamento bem-sucedido" e sobre como prender a atenção do marido. Muitas vezes, no entanto, a atenção deles está em outro lugar.
"Quando descobri o caso do meu marido, eu o confrontei", diz a Sra. X. "Nós brigamos e eu ficava perguntando: 'por quê? por quê? Eu fui fiel à você durante tantos anos!'. No começo ele demonstrou culpa. Mas depois da briga ele simplesmente não queria mais falar comigo. Foi aí que resolvi procurar ajuda."
Ela escolheu pagar o Weiqing para dar um "sumiço" em sua amante. Funcionários do serviço trabalharam para convencer a secretária de 24 anos de que ela conseguiria "algo melhor" do que um homem com o dobro de sua idade.
Apesar do gasto de milhares de dólares, a Sra. X diz que essa opção foi melhor do que se divorciar do seu marido adúltero. "Passamos por muita coisa juntos. Eu não quero desistir de tudo. Nunca nem pensei no conceito de separação. Além disso, tenho quase 50 anos. Simplesmente não existe um 'mercado' para mulheres como eu", afirma.
Ming Li e seu sócio, Shu Xin, têm o Hospital do Amor há 17 anos e dizem que já atenderam um milhão de clientes, considerando seus diversos serviços.
33 MANEIRAS
Os veículos de comunicação chineses estão cheios de histórias sobre supostos subornos, coerções e ameaças de violência que seriam feitos por serviços como este. O Hospital do Amor, por sua vez, afirma que nunca se envolveu em nenhuma atividade ilegal. Outro dono de um serviço parecido, Dai Peng Jun, foi mais aberto. Ele atua em Xangai como detetive particular, mas também tem funcionários que viagem pelo interior ajudando as mulheres a separarem maridos das "terceirinhas" --como amantes são conhecidas na China.
PODER E RIQUEZA
O escritor e colunista social Zhang Lijia acreditam que o fenômeno pode ser parcialmente explicado pelas leis chinesas de divórcio. Desde 2011, as mulheres que se divorciam não recebem nada do patrimônio do casal se o marido comprovar que foi ele que trouxe os bens para a família. A Justiça também garante que os homens tenham custódia integral das crianças, especialmente em áreas rurais.
"As leis de divórcio foram feitas para o benefício dos homens e para a tristeza das mulheres. Além disso, fora das cidades, ainda é considerado vergonhoso uma mulher se divorciar", afirma Zhang.
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