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Viva Bem
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Como você pode desenvolver uma voz mais atraente

Candidatos com vozes mais profundas tendem a ganhar mais votos nas eleições
Candidatos com vozes mais profundas tendem a ganhar mais votos nas eleições - BBC News Brasil/Michal Bialozej
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William Park
BBC News Brasil

Os franceses chamam isso de "voix de chambre à coucher". É uma voz profunda e abafada que confere a algumas pessoas um poder de sedução.

Também é perfeitamente explicável. Algumas pessoas têm vozes objetivamente mais atraentes do que outras, e o fato de essas regras serem quase universais revela uma parte importante da nossa história evolutiva.

A maneira de falar é uma forma pela qual avaliamos outras pessoas. Quem tem uma voz atraente é considerado competente, gentil e confiável. Isso, por sua vez, produz um "efeito halo" —em que vemos pessoas boas como mais atraentes.

Mas, afinal, o que torna alguns sotaques atraentes? Existe um traço vocal que parece funcionar para todo mundo, não importa de onde a pessoa seja.

"Seja qual for a cultura, qualquer mulher vinda do Japão ou dos Estados Unidos ou da França ou de qualquer lugar do mundo —tende a preferir homens com vozes profundas", diz Melissa Barkat-Defradas, pesquisadora de linguística da Universidade de Montpellier, na França.

A preferência sexual por homens com vozes profundas foi registrada em povos indígenas da Amazônia à Tanzânia e em inúmeros outros exemplos ocidentais e não ocidentais. As pessoas associam vozes profundas com habilidades de caça, sucesso profissional e força. Classificam os políticos com vozes mais profundas como mais sérios e elegíveis, independentemente do sexo.

Candidatos a vagas de emprego do sexo masculino e feminino com vozes mais graves também têm mais chance de serem contratados. Se você quiser se tornar um orador competente, vale a pena descer uma oitava ou duas.

O que essa preferência aparentemente universal diz sobre como julgamos o caráter de alguém? E será que há exceções à regra? O tom da voz dos homens e das mulheres diminui na adolescência. Mas você pode prever, com alto grau de precisão, qual será o tom da voz de um homem ao longo da vida com base em como era aos sete anos de idade.

A série de TV britânica "Seven Up !", que começou na década de 1960 e acompanhou um grupo de crianças a cada sete anos ao longo de suas vidas, forneceu a Katarzyna Pisanski, especialista em bioacústica da Universidade de Lyon, na França, e a seus colegas uma amostra para medir as mudanças na voz ao longo do tempo.

O tom de voz das crianças na pré-adolescência foi um bom indicador de seu tom de voz na idade adulta. Sabemos que o tom da voz está ligado aos níveis de testosterona, o que pode ser mais importante para a escolha do parceiro, já que do ponto de vista evolutivo homens mais fortes seriam mais desejáveis ​​sexualmente.

No caso dos caçadores-coletores da Tanzânia, uma voz profunda pode agir como um indicador de outras habilidades que requerem mais testosterona. O tom de voz em si não significa nada, mas dá uma pista de quão capaz é o caçador e, portanto, quão bem ele vai sustentar seus filhos e quão boa será a chance dessas crianças transmitirem seus genes no futuro.

Os níveis de testosterona em homens adultos são determinados por sua exposição aos andrógenos de suas mães (o grupo de hormônios ao qual a testosterona pertence) durante a 8ª-24ª semanas de gestação.

Isso sugere que algo que pode desempenhar um papel importante em nosso sucesso reprodutivo é em grande parte definido desde a infância e ligado aos níveis de hormônio pré-natal de nossas mães, diz Pisanski.

As preferências dos homens pelas mulheres são um pouco mais complexas. Por muito tempo, se pensou que os homens preferiam mulheres com vozes agudas (que, por se tornarem mais graves com o tempo, poderiam atuar como um indicador de juventude e, portanto, do número de anos de fertilidade que ainda têm pela frente).

Quando analisamos puramente em termos de sucesso reprodutivo, vale mais a pena para um homem encontrar uma mulher que possa potencialmente ter mais filhos.

O fato de as mulheres também serem vistas como mais competentes se tiverem uma voz mais profunda instiga um pensamento interessante tanto por parte de Pisanski quanto Barkat-Defradas: podemos manipular o tom da nossa voz em determinados ambientes para adaptar às nossas necessidades?

Quando temos uma boa conversa com uma pessoa, tendemos a ajustar o tom da nossa própria voz em relação à dela —algo chamado de adaptação prosódica. Mas quando encontramos alguém atraente, o oposto é verdadeiro.

No caso dos homens, o tom de voz fica mais grave; e no das mulheres, mais agudo —jogando de acordo com nossos estereótipos de gênero. Quanto mais achamos alguém atraente, maior será a diferença.

Você pode se perguntar como esses dois comportamentos opostos se revelam em um encontro —certamente um bom encontro, e o sinal de que nos sentimos atraídos por alguém, vem de uma boa conversa.

Durante um encontro, a adaptação prosódica vai e vem. Quando a conversa está divertida, combinamos nossos tons de voz, e em outros momentos, quando queremos demonstrar nossa atração, vamos na direção oposta.

Diminuir ou aumentar o tom da voz pode ser um sinal de quão atraente consideramos nossa companhia, mas também torna a outra pessoa mais atraída por nós. Podemos usar nosso tom de voz para manipular os outros.

A única exceção a essa regra é que, às vezes, o tom da voz das mulheres diminui quando elas acham um homem atraente —principalmente se for um homem popular com outras mulheres.

Em um cenário de "speed dating" (evento para solteiros em que se conhece um grande número de parceiros em potencial em um período bastante curto de tempo), algumas mulheres adotaram um tom mais grave nos encontros com os homens mais populares.

Assim como os políticos, pode ser que elas estivessem tentando parecer mais sérias e menos ingênuas do que suas concorrentes, sugere Pisanski, que liderou o estudo.

O mesmo experimento de "speed dating", conduzido com uma pequena amostra de adultos franceses, mostrou que os homens também preferiam mulheres com vozes mais profundas —algo que Pisanski considera que pode ser um indicativo de mudança de gosto, à medida que os homens buscam mulheres sérias, ambiciosas e voltadas para a carreira.

"Talvez as mulheres agora tentem soar como homens —mais competentes ou dominantes. As mulheres estão começando a falar mais grave", diz ela. "E talvez, pelo menos em algumas culturas, os homens estejam desejando e preferindo mulheres que exalam maturidade e competência, e não necessariamente juventude e fertilidade."

Barkat-Defradas concorda, embora destaque que essas tendências só foram vistas em adultos franceses até agora. "Na França, os homens tendem a preferir mulheres com vozes mais graves do que em qualquer outro lugar do mundo", diz ela.

Quem sabe haja algo na "voix de chambre" afinal. Talvez, ao contrário do resto do mundo, os franceses tenham gostos ligeiramente diferentes quando se trata de sotaques. Ou é apenas algo em relação aos franceses —e a maneira como eles falam? Em geral, eles ocupam uma posição de destaque nos rankings de pesquisas não científicas sobre preferência de sotaque.

Barkat-Defradas sugere que quem fala francês faz mais biquinho para formar as palavras, o que pode ser visto como atraente. A dificuldade quando se analisa as línguas, em vez de qualidades específicas da fala, é que as línguas também comunicam estereótipos nacionais.

Os não franceses já podem associar os francófonos ao soft-power francês —sua comida e vinho, Paris, a Côte d'Azur e todas as associações românticas que vêm atreladas a eles. Para os franceses nativos, é claro, essas associações são muito mais específicas do sotaque.

Mas será que fazer um sotaque pode te ajudar a parecer mais jovem ou mais masculino? Os seres humanos têm um alcance vocal notável, mas também uma boa capacidade de detectar impostores e não são enganados facilmente, explica Pisanski, se referindo a dados de um estudo ainda não publicado.

"Se pudéssemos sair por aí enganando as pessoas o tempo todo com nossas vozes, todo o sistema de comunicação entraria em colapso", afirma. O desejo de passar competência pode ser uma das razões por trás do aumento do chamado "vocal fry" entre as jovens americanas, acrescenta Pisanski.

"Vocal fry" é quando o tom da nossa voz cai abaixo do nível natural, criando um som áspero. "Acho que pode ser apenas um subproduto das mulheres tentando falar em um tom mais grave e dominante, mas temos limites biológicos no que se refere a quão baixo podemos ir", diz ela.

"E é por isso que o 'vocal fry' é mais comum nas vozes das mulheres do que dos homens. Os homens podem ir muito mais baixo, essencialmente." "Pelo que sei dos trabalhos mais recentes, isso na verdade não parece fazer a mulher parecer mais inteligente, pelo menos pelos poucos estudos que vi", afirma.

Por exemplo, se o tom da sua voz for muito baixo, o "vocal fry" pode prejudicar suas perspectivas de emprego, talvez porque a figura das mulheres que falam com vozes ásperas esteja culturalmente associada à falta de seriedade, sugerem os autores.

Se você precisa de outro motivo para não recorrer ao sotaque, há evidências de que vale a pena ser completamente mediano. Acredita-se que pessoas com aparência e voz normais tenham um complexo principal de histocompatibilidade (MHCs, na sigla em inglês) mais heterozigoto.

Trata-se de uma sequência de DNA que codifica proteínas da superfície celular que ajudam nosso sistema imunológico a detectar que células em nosso corpo pertencem a nós e quais são estranhas. Ser capaz de fazer isso significa que podemos identificar rapidamente os patógenos e destruí-los.

Portanto, uma pessoa comum está em melhor condição de transmitir genes úteis para um sistema imunológico saudável. Também pode ser que indivíduos de voz mediana sejam mais fáceis de entender, em parte porque estamos expostos com mais frequência à média do que a extremos. "Realmente não gostamos do que não conhecemos", acrescenta Barkat-Defradas.

Grande parte dessas pesquisas, como você pode observar, foi conduzida em pessoas heterossexuais, em parte porque os biólogos evolucionistas querem encontrar explicações para os comportamentos humanos modernos nas pressões seletivas às quais nossos ancestrais foram expostos.

Nossas ancestrais do sexo feminino teriam procurado qualidades masculinas, diz a teoria, já que homens mais fortes podiam cuidar melhor de suas famílias, enquanto os homens buscavam mulheres jovens com mais anos de fertilidade pela frente.

Quando eu coloquei essa questão para Pisanski, ela concordou que havia um viés voltado a estudar a voz dos homens. As pesquisas feitas com pessoas homossexuais analisaram amplamente as preferências masculinas —e descobriram de maneira geral que os homens gays têm gostos semelhantes aos das mulheres heterossexuais.

Ao mesmo tempo, pouca pesquisa foi conduzida com mulheres LGBT+. Essas teorias são baseadas em explicações puramente biológicas de atratividade. Mas será que isso ainda é relevante hoje em dia? Somente se sua maior motivação for procriar com alguém que oferecerá bons genes a seus filhos.

Para o resto de nós, talvez haja mais satisfação em encontrar alguém bom de papo.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

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